Chopp com vista para a cadeia
Quem frequenta a praça de alimentação de um grande atacadista e varejista de Paranavaí tem um constrangimento inegável: tomar um chopp com vista para o solário e o teto das celas da Cadeia Pública, na Avenida Heitor Alencar Furtado. Pois bem. Já passou da hora de a cidade debater seriamente a questão, exigindo uma estrutura prisional adequada e longe do centro comercial. Não se trata de demonizar o preso, um ser humano privado de liberdade por algum delito e que cumpre a sua pena. Antes, porém, trata-se de segurança. O ambiente carcerário é tenso e convive rotineiramente com risco de fuga e de violência. Portanto, não pode permanecer no “centro” da cidade, próximo a um local de compras, onde as pessoas vão para adquirir suprimentos, relaxar no restaurante e, vez ou outra, tomar um chopinho. Na área externa (a mais legal), a vista é perturbadora: cadeia.
Explicando
Nos cerca de dez anos acompanhando a rotina policial em coberturas jornalísticas, posso afirmar que o preso é uma pessoa como outra qualquer, levando suas contradições, fases mal resolvidas, e que em algum momento tomou o caminho errado para a vida em sociedade: o crime. Por consequência, foi privado de liberdade. Ainda assim, são homens e mulheres, dignos da mesma Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948. Nem isso a cadeia atual fornece. É uma superlotação inexplicável, com média próxima a 300 detentos para apenas 96 vagas. Esse ambiente não ressocializa, mas apenas demoniza, tornando o detento, ao final da pena, pior socialmente do que entrou no sistema carcerário.
Solução
Deputado estadual entre 2007 e 2014, o empresário paranavaiense Antonio Teruo Kato chegou a fazer reuniões com a comunidade e o Tribunal de Justiça do Paraná para a construção de uma penitenciária. Obteve um eloquente “Não” de nós, homens e mulheres de bem, e a ideia foi enterrada. Continuamos, portanto, tendo penitenciária na prática, sem a estrutura adequada. E a cadeia, que segundo a legislação é apenas passagem entre a detenção e a sentença, permaneceu presídio de fato.
Esperança
No dia 1º de fevereiro deste ano, o secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Santin Roveda, esteve em Paranavaí. Questionado pelo Diário do Noroeste sobre o tema, admitiu que existem dificuldades. Propôs um debate com a Secretaria de Segurança na busca por soluções. Resumindo: a precária Cadeia Pública de Paranavaí é um problema de toda a sociedade. E, de novo, não pode permanecer no “centro”.
A administração e a chuvarada
Paranavaí viveu no último domingo uma chuva atípica. Em poucos minutos a precipitação atingiu mais de 50 milímetros, provocando alagamentos e danos na malha asfáltica da cidade. A segunda-feira foi de trabalho intenso por parte dos servidores municipais para resolverem o problema. De imediato não dá.
A política e a chuva
Como tudo na vida pública, também a chuva foi politizada. O Diário do Noroeste retratou o drama de quem sofreu com o volume da água e publicou a versão do poder público, que lembrou as deficiências na infraestrutura, ou seja, capacidade de drenagem. Reconheçamos que o problema é antigo e não pode ser resolvido em uma ou duas gestões. Registra-se: Paranavaí avançou muito nos últimos anos. Mas, o que era para ser um fato jornalístico, foi o suficiente para defensores e atacantes entrarem em campo. Não se trata de demonizar quem quer que seja, mas de buscar soluções duradouras, já que não há indicativos de que as chuvas serão mais “simpáticas e mansas” daqui para frente.
Prefeito
Nas redes sociais o prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ) postou na segunda-feira: “Me fale uma cidade do Brasil com resiliência urbana e drenagem adequada para uma precipitação como a de ontem. Vocês só podem estar de sacanagem! Quem lê essa matéria parece que toda chuva o asfalto vai embora. Fragilidade na conservação das vias públicas? Ah, vá! É um jornalismo muito baixo”. Por outro lado, o ex-vereador, professor Carlos João, defendeu a abordagem: “Quero parabenizar o Diário do Noroeste pela excelente matéria sobre os estragos causados pelo temporal que assolou nossa cidade na tarde do último domingo. O DN é um jornal SÉRIO, que respeita o legado e a memória do seu tempo de atuação em Paranavaí e região, sua equipe de jornalistas e funcionários são qualificados e não fazem um jornalismo ‘baixo’. Portanto, toda a minha admiração e RESPEITO pelo jornal mais lido de Paranavaí e região; o nosso Diário do Noroeste.” Resumindo a conversa: Nem anjos, nem demônios. É política; é visão de mundo. Vida que segue, diria o grande jornalista Ricardo Kotscho. A matéria da chuvarada é assinada pela jornalista Cibele Chacon, da equipe Diário do Noroeste.