Nesta segunda-feira, 20, será comemorado o Dia do Gaúcho. A data marca o início da Revolução Farroupilha, de 20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845. Paranavaí e a Região Noroeste concentram grande comunidade oriunda do Rio Grande do Sul e que mantém a cultura do povo.
Como forma de homenagem, o Diário do Noroeste publica a seguir um resumo do que foi a Guerra dos Farrapos, um marco na história brasileira. Trabalho extraído de brasilescola.uol.com.br, assinado por Daniel Neves, professor de história.
A Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolta dos Farrapos ou Revolução Farroupilha, foi uma das revoltas provinciais que aconteceram no território brasileiro durante o Período Regencial. Ela ganhou notoriedade pelo maior tempo de duração (10 anos), e, além disso, foi uma das que apresentaram maior ameaça à integridade territorial brasileira.
Organizada como um movimento da elite gaúcha, a Guerra dos Farrapos encerrou-se após a negociação de paz dos estancieiros gaúchos com o governo. Os termos da rendição ficaram conhecidos como Tratado do Poncho Verde.
Causas – A Guerra dos Farrapos aconteceu, principalmente, por causa da insatisfação dos estancieiros gaúchos com a política fiscal do governo brasileiro. No século XIX, a província do Rio Grande do Sul tinha como principal produto o charque (carne-seca), que era vendido como principal alimentação dos escravos no Sudeste e Nordeste do Brasil.
O charque era produzido pelos charqueadores, que compravam a carne bovina dos estancieiros, os criadores de gado do Rio Grande do Sul. A grande insatisfação destes estava relacionada com a cobrança de impostos realizada pelo governo sobre a produção de charque da região. O charque gaúcho recebia uma pesada taxa de cobrança, enquanto o que era produzido pelos uruguaios e argentinos tinha uma taxação diminuta.
Esse quadro tornava o produto gaúcho menos competitivo, uma vez que seu preço era maior. A principal exigência dos estancieiros era que o charque estrangeiro fosse taxado para tornar a concorrência entre o produto nacional e o estrangeiro mais justa. No entanto, outras razões ajudam a entender o início dessa revolta:
Insatisfação com a taxação sobre o gado na fronteira Brasil–Uruguai;
Insatisfação com a criação da Guarda Nacional;
Insatisfação com a negativa do governo em assumir os prejuízos causados por uma praga de carrapatos que atacou o gado na região em 1834;
Insatisfação com a centralização do governo e a falta de autonomia da província;
Circulação dos ideais federalistas e republicanos na região.
A soma desses fatores levou os gaúchos a rebelarem-se contra o governo central em 20 de setembro de 1835. Em um primeiro momento, a revolta não tinha caráter de separatismo, mas, à medida que a situação avançou, a saída separatista ganhou força.
Resumo dos acontecimentos – Como vimos, a revolta realizada pelos farrapos iniciou-se em 20 de setembro de 1835 e espalhou-se por parte considerável do território do Rio Grande do Sul. Entretanto, o anúncio da separação da província só aconteceu em setembro de 1836, dando origem à República Rio-Grandense, também conhecida como República de Piratini.
A Guerra dos Farrapos teve como líder o estancieiro Bento Gonçalves, que, inclusive, foi o presidente da República Rio-Grandense por algum tempo. Outros nomes importantes foram o do italiano Giuseppe Garibaldi e o do militar brasileiro David Canabarro. Ambos foram responsáveis por levar a guerra contra o império para a província de Santa Catarina, fundando lá a República Juliana, em julho de 1839.
A República Juliana, no entanto, teve curta duração, pois essa região foi retomada pelo governo imperial em novembro do mesmo ano. A Guerra dos Farrapos, apesar da sua longa duração e da sua extensão para outra província do Sul do Brasil, teve, em geral, combates de baixa intensidade. Isso é perceptível, pois, ao longo de 10 anos, cerca de três mil pessoas morreram (a Cabanagem, por exemplo, em cinco anos, resultou em 30 mil mortos).
Um ponto importante é que não há consenso entre os historiadores sobre se os farrapos queriam de fato separar-se do Brasil ou se apenas queriam garantir mais autonomia para sua província. Outro ponto que merece ser considerado é que a luta dos farrapos não contou com o apoio de toda a população gaúcha (a cidade de Porto Alegre, por exemplo, não os apoiou), pois, conforme afirma Boris Fausto:
[…] a revolta não uniu todos os setores da população gaúcha. Ela foi preparada por estancieiros da fronteira e algumas figuras da classe média das cidades, obtendo apoio principalmente nesses setores sociais. Os charqueadores que dependiam do Rio de Janeiro — maior centro consumidor brasileiro de charque e de couros — ficaram ao lado do governo central|1|.
Os combates concentraram-se em confrontos de cavalaria, dos quais pode-se destacar a vitória dos farrapos na Batalha de Seival. No entanto, à medida que a reação imperial consolidava-se, os farrapos perderam força e partiram para a guerra de guerrilha. O professor e jornalista gaúcho Juremir Machado da Silva afirma que os farrapos assumiram essa estratégia a partir de 1842, quando, segundo ele, o conflito já estava liquidado a favor do Império Brasileiro|2|.
Para conter a revolta na província do Rio Grande do Sul, o governo brasileiro nomeou Luís Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias). A ação de Caxias à frente de 12 mil homens foi muito eficiente, pois conseguiu sufocar os farrapos com ações militares estratégicas e, com a diplomacia, levá-los à negociação.
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Fim da Guerra dos Farrapos – A paz foi assinada no Tratado de Poncho Verde, em que os farrapos colocaram fim na revolta e, na condição de derrotados, aceitaram os termos propostos pelo governo.
O acordo realizado entre o governo brasileiro e os farrapos estipulou:
Taxação em 25% sobre o charque estrangeiro;
Anistia para os envolvidos com a revolta;
Incorporação dos militares dos farrapos ao exército imperial, mantendo sua patente;
Os provincianos teriam direito de escolher o próprio presidente de província (entretanto, isso não foi cumprido);
Os escravos que lutaram do lado dos farrapos seriam alforriados (item também não cumprido).
Notas
|1| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013. p.145.
|2| Juremir: “muitos comemoram Revolução sem conhecer a história”.