Por um instante, fechei os olhos e permiti que meus sonhos conduzissem a um lugar de paz. O brilho sublime do sol projetava todas as cores que cabem no mundo e não havia distinção entre amores. A liberdade era plena.
Lembranças visitaram meus pensamentos e ri com desdém pensando em quando falaram que deveria ser preto ou branco, pois o cinza é rejeitado. Ora, se o arco-íris nos brinda com tantas possibilidades, por que limitar? No céu colorido pela diversidade não há espaço para discriminação.
Os passos despreocupados fizeram pensar nas vezes em que precisei correr para me esconder de perseguidores. Intolerantes, julgavam que minha existência era abominável. Fugi para permanecer vivo e tentar escrever novos futuros.
A brisa reconfortante trazia sons de tranquilidade, diferentes e distantes das ofensas insistentes que invadiram meu mundo por tantos anos. Impróprio. Invertido. Pervertido. Indigno.
Uma folha caía, lenta e compassadamente, até deitar sobre a grama verde e acolhedora. Imaginei como seria poder sentar com quem amo e passar uma tarde de domingo sem precisar desviar de olhares tortos e comentários ríspidos. Apenas estar e viver. Em paz.
Apreciei as flores do jardim e exalei o perfume de cada uma. Respiração. Inspiração. Satisfação.
Quis participar e permanecer, mas me dei conta de que o faz-de-conta estava longe demais do real. Naquele instante abri os olhos e vi o ódio e a perseguição travestidos de moral e bons costumes.
Na ânsia de defender valores que jamais estiveram em xeque, rechaçam, eliminam. Em 2022 o Brasil registrou uma morte violenta de pessoas LGBTQIAP+ a cada 32 horas.
Sem cores, sem brisa, sem flores pelo caminho. Apenas sangue derramado pelas mãos daqueles que teimam em separar e estigmatizar, simplesmente porque não concordam e não aceitam – ou são covardes demais para assumir suas verdadeiras cores.
Hoje é o Dia do Orgulho LGBTQIAP+, dia de celebrar a vida de quem enfrenta adversidades por causa da diversidade e exaltar a luta pela sobrevivência em um mundo que despreza e violenta formas diferentes de ser e amar.
O Coletivo LGBTI+ de Paranavaí celebra o 28 de junho com orgulho e mantém firme a esperança de que a plenitude da vida um dia seja, também, direito de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e todas as outras designações de gênero e sexualidade. Temos orgulho de colorir a vida.
