NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A situação fiscal do país piorou entre agosto e setembro para 46% dos economistas consultados no questionário enviado pelo Banco Central ao mercado financeiro às vésperas da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
A percepção de piora no quadro fiscal caiu quase à metade entre os dois últimos encontros do colegiado do BC. No comparativo entre junho e agosto, 93% dos entrevistados disseram ter visto uma deterioração no cenário.
Entre 95 respostas dos entrevistados, 44% consideraram que não houve mudanças relevantes no cenário fiscal no intervalo entre as duas últimas reuniões, enquanto 9% disseram que o quadro melhorou.
O questionário serviu como subsídio para a decisão do comitê sobre a taxa básica de juros (Selic), mantida em 13,75% ao ano, interrompendo o ciclo de aperto monetário.
Na pesquisa enviada antes da reunião de agosto, apenas 4% não viram mudanças relevantes e 3% apontaram melhora na situação fiscal. Semanas antes, o governo Jair Bolsonaro (PL) havia aprovado uma PEC (proposta de emenda à Constituição) liberando benefícios sociais turbinados à população em meio à corrida presidencial.
A emenda constitucional, a um custo estimado em R$ 41,25 bilhões, autorizou a expansão de pagamentos acima do teto de gastos, atropelando a legislação fiscal a poucos meses das eleições.
No fim de agosto, o governo Bolsonaro apresentou sua proposta de Orçamento para 2023 com um benefício médio de R$ 405 para o Auxílio Brasil, abaixo do piso permanente de R$ 600 prometido pelos principais candidatos à Presidência. A renovação da desoneração de impostos sobre combustíveis é outra questão ainda em aberto.
Na ata do último encontro, o Copom destacou que o aumento de gastos públicos de forma permanente e a incerteza sobre essa trajetória no próximo ano podem elevar as expectativas de inflação “à medida que pressionem a demanda agregada e piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal”.
“O comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação”, afirmou.
Caso a manutenção da desoneração tributária sobre combustíveis se materialize no próximo ano, o Copom antecipou que voltará a enfatizar intervalos que incluam o primeiro trimestre de 2023. Atualmente, o colegiado está usando a inflação acumulada em 12 meses até o fim do primeiro trimestre de 2024 como horizonte de política monetária.
No questionário pré-Copom, a mediana das projeções dos economistas para o impacto potencial das medidas de caráter tributário implementadas pelo governo é de redução do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2,5 pontos percentuais em 2022 (90 respostas) e de aumento de 0,6 ponto em 2023 (85 respostas).
Os economistas, entretanto, informaram na pesquisa que incorporaram em suas expectativas de inflação 2 pontos percentuais para baixo neste ano (92 respostas) e impacto nulo em 2023 (87 respostas).
De acordo com o boletim Focus divulgado na véspera do Copom, a estimativa do mercado para o IPCA de 2022 havia recuado pela 12ª semana consecutiva, de 6,4% para 6%, e a projeção para 2023 tinha caído de 5,17% para 5,01%.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação caíram para 5,8% neste ano e se mantiveram em 4,6% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou marginalmente a previsão para 2,8%.