Quando abraço o oceano todo com um olhar, volto a questionar sete milhões de coisas… Tantas quanto as ondas velozes que ganham a areia a cada minuto.
Volto a indagar: Como alguém pode se sentir só, na presença do mar? Acariciado por esta brisa incessante? Preenchido por este perfume raro?…
Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém, em algum lugar, de alguma forma?…
Como ainda posso me sentir só?…
Talvez seja eu que me isole do mundo, e que exija demais das pessoas. Pode ser isso…
Talvez seja eu que não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas mazelas (e, percebendo melhor, acho que há um pouco de orgulho nisso)…
Quem sabe seja eu que procure a solidão, e não ela que me persiga, como sempre imaginei…
É… Talvez eu precise conversar mais com as pessoas, interessar-me mais por suas vidas… Ouvir mais…
Há tempos que não ouço alguém. Um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia a dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos; meu irmão… Puxa!… Há tempos não converso com meu irmão…
É curioso, pois me lembro que, há algumas semanas, ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava exatamente sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isso é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é consequência da outra – dizia o locutor.
Vem-me claramente à memória uma frase: Quem ama não se sente só.
É interessante, pois acho que sempre acreditei que para não se sentir só era necessário ser amado, e não amar.
Dizia, ainda, que quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos a solidão.
É… Talvez ele tenha razão, pois lembro que, um dia desses, fui visitar uns parentes que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem!
Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, de família (em verdade ouvi muito mais do que falei, pois eles desembestaram a falar que só vendo!)
Mas, sabe que gostei de ouvir… Ao final, saí de lá com menos tensão, menos preocupado com a solidão… Percebi – não sei ao certo – um ar estranho entre os dois, como se estivessem cansados, entediados, possivelmente um pouco tristes…
Abracei minha tia (lembrei o quanto gosto dela!), e a ouvi dizer com os olhos levemente umedecidos: Gostamos muito de você, viu! Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas!
Ela estava certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu…
Naquele final de tarde, vi que poderia ser útil em coisas tão pequenas, porém tão significativas!… E aquilo me afastava do desânimo, da solidão…
Dentro do carro, voltando para casa, observando a vida lá fora, por entre gotas de uma garoa discreta, lembro-me que essas mesmas questões emergiram:
Como pode alguém sentir-se só, na presença de tanta gente, de tanta vida! Quantas dessas pessoas esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma?
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Como alguém pode se sentir só,
na presença do mar, do livro O que as águas não refletem, de Andrey Cechelero,
edição do autor.
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