1Rs 19,9a.11-13a.
Atravessando o deserto de Bersheba, Elias entrou no deserto da montanha de Deus, o Horeb (1 Rs.19,8). Lá ele ouviu a pergunta: “ELIAS, QUE FAZES AQUI?” E ele respondeu por duas vezes: “O ZELO POR JAVÉ DOS EXÉRCITOS ME CONSOME, PORQUE OS ISRAELITAS ABANDONARAM TUA ALIANÇA, DERRUBARAM TEUS ALTARES, MATARAM TEUS PROFETAS. SOBREI SOMENTE EU, E ELES QUEREM ME MATAR TAMBÉM”.1Rs.19,10.14) Existe uma contradição entre a resposta e a realidade vivida, entre o discurso e a prática de Elias. Conforme o discurso ele é o único que sobrou; mas haviam sete mil (1 Rs.19,18). Conforme o discurso ele está cheio de zelo; mas a prática mostra um homem medroso que foge (1 Rs.19,3). Conforme o discurso ele sabe analisar o fracasso da nação; mas na prática não sabe analisar o seu próprio fracasso. Elias não se dá conta de que a situação de derrota e de morte em que se encontra é o lugar onde Deus o atinge, pois não percebe a presença do anjo que o orienta. Ele só pensa em comer e dormir (1 Rs.19,6).
O olhar de Elias está perturbado por algum defeito que o impede de perceber a realidade tal como ela é: ele se considera dono da luta contra Baal (e não é); acha que sem ele tudo estará perdido (e não estará); pensa que Deus sai perdendo caso ele, Elias, for derrotado (e Deus não sai perdendo). QUAL O DEFEITO NOS OLHOS DE ELIAS? QUAL O DEFEITO EM NOSSOS OLHOS HOJE? A RESPOSTA ESTÁ NA HISTÓRIA DA BRISA LEVE.
A expressão “BRISA LEVE” traduzida da palavra hebraica, significa literalmente VOZ DE CALMARIA SUAVE. A palavra usada para indicar a calmaria, vem de uma raiz, que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A BRISA LEVE indica algo, um fato que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar; provoca nela uma expectativa.
A “BRISA LEVE” não deve ser entendida no sentido romântico de uma brisa suave no fim da tarde, mas sim no sentido de algo que, de repente, fez desintegrar tudo que Elias pensava e vivia até àquele momento. ELA INDICA O IMPACTO DE ALGUM FATO QUE O OBRIGOU A UMA MUDANÇA RADICAL E O LEVOU A UMA VISÃO TOTALMENTE NOVA DAS COISAS. É como diz a poesia: “DIANTE DA VIDA DO POVO SOFRIDO, A GENTE NÃO FALA, SÓ SABE CALAR. ESQUECE AS IDÉIAS DO POVO SABIDO, E FICA HUMILDE, COMEÇA A PENSAR”.
Qual foi a “BRISA LEVE” que provocou tudo isto na vida de Elias? O texto não o diz expressamente, mas sugere que foi a descoberta dolorosa de que Javé, o Deus de Israel, já não estava NEM NO VENTO, NEM NO TERREMOTO, NEM NO RAIO! (Os sinais tradicionais da manifestação de Deus). Deus já não era como ele, Elias, o imaginava. Elias descobriu que apesar de toda a sua fidelidade e luta pela causa de Javé, ele estava lutando por algo que já não era a causa de Javé!
DEUS SE FEZ PRESENTE NA AUSÊNCIA! A LUZ APARECEU NA ESCURIDÃO! A VOZ DA CALMARIA SUAVE ERA O SILÊNCIO DE TODAS AS VOZES! Elias descobriu que ele estava errado. E descobrindo que estava errado, descobriu coisa certa! A “BRISA LEVE” É A NOITE ESCURA DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA; É O SAIR DE SI PARA SE ENCONTRAR. Ela derrubou tudo e abriu o espaço para uma experiência de Deus que, aos poucos, foi penetrando na vida de Elias e o levou a redescobrir sua missão na reconstrução da Aliança.
Frei Filomeno dos Santos O. Carm.