CLÁUDIA COLLUCCI E STEFHANIE PIOVEZAN
DA FOLHAPRESS
Uma análise inédita feita a partir dos resultados de um inquérito nacional e de um teste da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra que 6 milhões de brasileiros, ou 4% da população adulta, têm um padrão que indica consumo perigoso de bebidas alcoólicas, com risco de dependência.
As maiores prevalências desse risco foram encontradas entre os homens (6,6% contra 1,7% entre as mulheres), pessoas entre 45 e 54 anos (6,9%), com 9 a 11 anos de estudo (5%), residentes das regiões Centro-Oeste e Norte (6,8%) e pretos e pardos (4,7%).
Os dados foram extraídos do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que ouviu 9.000 brasileiros de janeiro a abril de 2023 sobre vários fatores de risco para doenças crônicas, entre eles o consumo de álcool.
O Covitel foi desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas), com financiamento da Umane, uma associação civil sem fins lucrativos que apoia projetos em saúde pública.
Na análise foram avaliados três aspectos: episódio de consumo abusivo, frequência semanal de consumo e risco ou de indício de dependência. Para esse último item, os pesquisadores aplicaram um instrumento de avaliação da OMS chamado Audit (Teste de Identificação de Distúrbios no Consumo do Álcool, na sigla em inglês).
Esse teste usa uma escala de dez itens, com perguntas como se a pessoa já se envolveu em briga ou em acidente de trânsito ou se não conseguiu realizar alguma atividade devido ao consumo de álcool. A confirmação da dependência, porém, só pode ser feita por profissional da saúde.
Pouco mais de um quinto da população adulta (22%) relata consumo abusivo de álcool (a partir de quatro doses em uma mesma ocasião para mulheres e cinco doses para homens) nos 30 dias anteriores à entrevista para a pesquisa.
As maiores prevalências desse consumo abusivo foram encontradas nos homens (28,9%), entre os jovens de 18 a 24 anos (32,6%) e na população de maior escolaridade, com mais de 12 anos de estudo (26,5%), e os moradores da região Sudeste (23,7%).