Não me diga o que escrevi,
Não me diga que o português é assim,
Pois só eu sei o que quis dizer.
Quando escrevi sabia, ao menos…
Talvez as palavras que digam
Aquilo que elas mesmo queiram dizer,
Enganando-me entre vírgulas e pontos,
Enganando-te num falso compreender.
Talvez o próprio verbo, descoberto,
Quisesse apenas se encobrir,
Se esconder em meio as entrelinhas,
Fugir de toda iluminação.
Talvez o que eu escrevi
Tenha secado com a tinta da caneta,
Se perdido no virar, no desvirar,
De páginas velhas e amarelas.
Não me diga o que eu quis dizer,
Pois quando embriagado nas letras,
Disse o que precisava dizer,
Gritei com todo o meu ar.