Ricardo Steinbruch*
Fernando Valente Pimentel**
Foi oportuna a reinstituição do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) e a participação de entidades de classe, que lhe outorga mais legitimidade e conexão com a realidade dos desafios e possibilidades existentes. A manufatura desempenha papel fundamental no desenvolvimento econômico. Assim, é importante a criação de políticas de Estado para impulsioná-la e promover seu crescimento sustentável.
Uma estratégia industrial eficaz proporciona uma série de benefícios. Em primeiro lugar, incentiva o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Isso permite que nosso parque fabril torne-se mais competitivo globalmente, ao criar produtos e processos mais avançados. Também promove a criação de empregos qualificados, contribuindo para a redução do desemprego e o crescimento da renda da população. Ao fortalecer o setor, o País fica menos dependente de importações, estimulando a produção interna e aumentando a capacidade de exportação.
Outro aspecto relevante é a diversificação da economia. Uma política industrial bem-definida incentiva a formação de cadeias produtivas e a integração de setores, gerando novos negócios e impulsionando segmentos complementares. Também favorece a sustentabilidade, com práticas fabris mais limpas e tecnologias verdes. Isso contribui para a preservação ambiental e o cumprimento de compromissos internacionais relacionados à redução de emissões de gases de efeito estufa.
Também cabe ressaltar que uma política industrial de Estado contribui para a redução das desigualdades regionais, impulsionando o crescimento econômico, oportunidades e criação de empregos em locais menos desenvolvidos. Outro fator importante é o incentivo à formação de parcerias entre empresas e instituições de ensino e pesquisa. Isso fortalece a relação entre o setor produtivo e o conhecimento científico, estimulando a transferência de tecnologia.
No Brasil, a implementação de políticas industriais de Estado tem sido discutida como forma de impulsionar o crescimento econômico, ampliar a produtividade, ainda baixa, e reduzir a dependência de commodities. Portanto, é fundamental que haja um debate amplo e contínuo sobre o tema, envolvendo os setores público e privado, bem como a sociedade civil.
Cabe salientar o significado de todos os setores de atividade. Porém, a indústria é fundamental para que retomemos níveis mais robustos de crescimento. Sem incrementá-la e lhe agregar expressivos ganhos de competitividade, nossa economia terá expansão aquém do potencial, limitando as possibilidades de inserção internacional na cadeia de valor de bens mais sofisticados e de nossa população ascender a um padrão de vida com melhor educação, saúde, cultura, ciência, tecnologia e sustentabilidade.
É necessária uma política industrial ancorada em P&D e que contemple linhas especiais de crédito, incentivos à produção e regime tributário incentivador aos investimentos voltados à inovação. Também são fundamentais as reformas estruturantes, principalmente a tributária e a administrativa, para melhorar a estrutura do setor público, racionalizar os impostos e proporcionar melhor ambiente de negócios. Os avanços precisam, ainda, ser aderentes à Manufatura Avançada, permeada pela digitalização da economia e alta tecnologia, e à governança ambiental, social e corporativa (ESG).
Como integrante do CNDI, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) entende que a efetividade de uma política de Estado depende de governança, coordenação entre os poderes e organismos envolvidos e métricas muito bem-estabelecidas para o acompanhamento e avaliação das medidas. Também são cruciais o investimento em infraestrutura e o estímulo à formação de capital humano qualificado.
O desafio é imenso, mas todo esforço deve ser feito para que o fortalecimento da indústria seja um novo marco do desenvolvimento brasileiro.
*Ricardo Steinbruch é presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
**Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Abit.