REVELAÇÃO…
A Igreja, Povo de Deus, é convocada a buscar sempre na Palavra a inspiração para florescimento dos ministérios, a saber, o ministério da Palavra, a pregação pastoral, a catequese e toda instrução cristã (DV 24).
Deus quis, “em sua bondade e sabedoria revelar-se a Si mesmo” (DV 2). Percebeu? É alguém que se revela: trata-se de uma relação pessoal, não de um conjunto de normas, doutrinas. O Deus que se revela faz isso por bondade – quer só o nosso bem – e com sabedoria: conhece os nossos limites.
Pessoas que se querem bem estão certamente empenhadas em conhecer-se cada vez melhor. Mas é sempre um pouquinho de cada vez. Com Deus não é diferente. A DV diz que Ele, “levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos”. Diz também que a revelação “se concretiza através de acontecimentos e palavras” (DV 2). É assim ainda hoje, Deus se comunica conosco através da Palavra das Escrituras, mas ele fala também na vida. Palavra de Deus e apelos da vida se interpretam mutuamente: um ajuda a entender o outro. São como dois anéis de uma mesma corrente.
Mas Deus é diferente das pessoas. Para começar, Ele é invisível. Ele inspirou muita gente para ser instrumento da sua comunicação, mas achou um jeito surpreendente e completo para revelar: A PESSOA DE JESUS (JO 12,45; 14,9): CRISTO É AO MESMO TEMPO MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAÇÃO (DV 2).
Poderíamos resumir assim a revelação: Princípio: Deus – Motivo: Por bondade e sabedoria – Centro: Se revela em Cristo – Modo: Por acontecimentos e palavras – Destinatários: Às pessoas e comunidades.
Falando de Bíblia, é sempre bom ter presente o próprio texto das Escrituras. Confira em Efésios 1,9-12 o que está escrito sobre a centralidade de Jesus na revelação. Jesus é para os cristãos a plenitude da revelação. Não há revelação mais perfeita, melhor, do que a sua pessoa e a sua palavra. Só o Espírito nos permite perceber o significado dessa revelação. Isso não significa que agora conseguimos entender tudo sobre Deus pelo fato de “conhecermos” Jesus de Nazaré: temos nossas próprias limitações. Mas nenhuma outra mensagem, venha de onde vier, vai superar o que foi revelado em Jesus. Jesus é o rosto de Deus Pai\Mãe.
A fé nos faz ver Deus como Criador do universo. A Bíblia mostra que isso foi o resultado de uma descoberta progressiva de Deus que foi sendo feita ao longo da história. Jesus, a grande revelação de Deus, é o Verbo, pelo qual tudo foi feito (Jo 1,1-5). Conseqüentemente, o próprio universo – com seus mistérios e suas maravilhas – fala de Deus, mostra de que Ele é capaz. (DV 3).
Mas Deus não ficou satisfeito só com esse tipo de revelação. Quis dar-se a conhecer pessoalmente. A Bíblia é a história da humanidade percebendo, aos poucos, nem sempre muito claramente, essa comunicação. Os primeiros capítulos da Escritura falam dessa comunicação de forma simbólica, querendo mostrar que desde o começo da humanidade Deus tinha um projeto de salvação e que desejava que nós o conhecêssemos. A partir de certo tempo, Deus quis um povo-sinal, um povo-instrumento para fazer uma comunicação especial. Aí chamou Abraão e Sara, os patriarcas e as matriarcas, Moisés, os profetas para que lessem a sua presença na história. E desse jeito foi preparando o caminho para os evangelhos. A história e a consciência do povo de Deus foram progredindo, e com elas a revelação de Deus foi passando por etapas. É por isso que muitas vezes se encontram na Bíblia idéias diferentes sobre Deus. Não dá para revelar o que o povo ainda não é capaz de compreender. Deus tem paciência e, à medida que a consciência moral, espiritual, humana do povo vai se desenvolvendo, mostra caminhos, maneiras novas de entender o que Ele de fato quer e quem Ele é. E porque esse amor de Deus ansiava por estar conosco de um modo único, pessoal, Jesus entra na história humana. Veja o que o nº 4 da DV diz sobre Jesus: – Ele é a Palavra que ilumina todos os homens. – Ele revela segredos de Deus; é a Palavra que se faz gente como a gente. – Ele completa a salvação, que é a missão que o Pai lhe deu. – Quem o vê, vê o Pai. – Ele envia o Espírito de verdade. – Confirma com sua própria vida que Deus está conosco para nos libertar. – Dá testemunho da ressurreição para a vida eterna. É importante perceber como é definitiva a revelação feita em Jesus. Por isso a DV adverte: “… já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo” (DV 4).
(Texto tirado de: Ler a Bíblia com a Igreja – Comentário didático popular à Constituição Dogmática “Dei Verbum”)
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.