É do senso comum saber que o FC Barcelona é um dos maiores vencedores do futebol europeu, venceu 5 vezes o maior campeonato do planeta, a Champions League, revolucionou e nos encantou com o sistema tático “tic tac”, criado por Pep Guardiola, um volante mediano, e hoje um dos maiores técnicos do futebol europeu. Dos 36 jogadores brasileiros, que desde de 1957, vestiram o manto sagrado do FC Barcelona, sendo que o “baixinho” Romário ainda é considerado o maior ídolo por sua irreverência, pois reza a lenda que ele queria vir ao carnaval do Rio de Janeiro, e perguntou ao mister, o lendário Johan Cruiff: Missssterrr, hoje só posso jogar o primeiro tempo, porque meu voo sairá para o Brasil no horário, do segundo tempo. O senhor me libera? O missssterrr Cruiff respondeu: Libero sim, desde que o senhor faça 3 gols no primeiro tempo.
Romário viajou feliz para seu carnaval carioca, meteu 3 golaços no primeiro tempo.
Mas, qual a relação com a expressão do título: més que um club, em tradução literal mais que um clube. Segundo Figols, a expressão deriva da época da ditadura franquista, quando a língua catalã era proibida, e não podia ser ensinada nas escolas. As dependências do FC Barcelona eram território catalão, onde a língua poderia ser falada livremente. Os regionalismos da Catalunha (estado espanhol, cuja capital é Barcelona) foram duramente sufocados, e o catalanismo – movimento separatista era uma forma de resistência ao Generalíssimo Franco. Aquele que bombardeou Guernica, em plena Guerra Civil espanhola, cujo non sense da guerra foi eternizado no quadro do mesmo nome, pintado em 1937 pelo genial Pablo Picasso, e atualmente em exposição no “Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia”, na cidade de Madrid, uma das obras imperdíveis de admirar.
A história de mais de cem anos do clube se confunde, em certa medida, com a história da Catalunha, e na Espanha contemporânea, essa resistência contra o Franquismo simboliza a não aceitação pela população de Barcelona, das agruras de qualquer ditadura, e a frase: més que un club, criada pelo presidente do clube naquela época, o senhor Narcís de Carreras. Também existe outra peculiaridade da politizada torcida do Barcelona, uma das mais educadas do mundo, já presenciadas por minha pessoa. Em todos os jogos, no minuto 17:14, ela entoa o grito: Inda, Inda pendencia – cujo significado é Independência, fazendo alusão ao “Cerco de Barcelona”, acontecido no ano de 1714. A torcida aproveita estes minutos e faz menção a histórica data, aclamando com esse grito político a independência da Catalunha. O veemente protesto se manifesta contra qualquer tipo de totalitarismo. Este bloqueio foi uma das derradeiras intervenções belicosas, acontecidas na Guerra de Sucessão Espanhola, onde os totalitários abateram a resistência catalã, acabando com todas suas instituições. Atualmente, este evento do passado, proibindo a liberdade de expressão do povo catalão, é interpretado como uma “violência” contra a população, que fazia da liberdade o baldrame de sua cultura. Este feito foi considerado e admirado por toda Europa como “um gesto heroico”.
Acredito que agora podemos entender o significado da frase: FC Barcelona, més que un club. Ou seja, a resistência da nação catalã contra o fascismo franquista e contra a derrubada da liberdade por forças totalitárias no “Cerco de Barcelona”.
E o futebol do Brasil? Vai bem obrigado, o Dinizismo convocando as mesmas figurinhas carimbadas, que jogam no exterior em troca de milhares de euros e petrodólares, e acreditam que são artistas da multimidia.
E o patriotismo, como dizia Nelson Rodrigues, “O escrete é a pátria em chuteiras”, ficou no romantismo do autor…