REINALDO SILVA
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“Mãe renuncia à própria vida pela filha. Fiz minha escolha.” As palavras de Fernanda Zanatta justificam a decisão de deixar a Câmara de Vereadores de Paranavaí depois de mais de dois anos e nove meses de mandato. A comunicação oficial foi na última segunda-feira (18), durante a 33ª reunião ordinária de 2023.
Ao Diário do Noroeste, ela contou que a filha passa por um tratamento de saúde. As sessões de fisioterapia são em Itajaí (SC), distante aproximadamente 700 quilômetros de Paranavaí, e frequentemente precisa viajar para o estado vizinho como acompanhante.
Pelo mesmo motivo, Fernanda Zanatta já havia pedido licença não remunerada por 120 dias, prazo máximo definido pelo regimento interno da Câmara de Vereadores. À época a suplente Ivany Azevedo assumiu a cadeira.
Vencido o período de afastamento, precisou retomar as funções legislativas e a partir do dia 7 de agosto passou a participar das sessões de forma remota, com transmissão ao vivo pela internet, mas o trabalho a distância trazia resultados aquém do que a vereadora esperava. “A situação ficou insustentável”, disse, referindo-se ao fato de não poder estar presente tanto nas reuniões ordinárias quanto em outras atividades afetas ao cargo de vereadora.
Não significa que deixou de atuar pela comunidade. Ela garantiu que manteve os compromissos com as causas que defendeu ao longo de todo o mandato, por exemplo, a defesa do bem-estar animal e a luta pelos direitos dos autistas.
Tanto durante o discurso de despedida na Câmara de Vereadores quanto na entrevista ao DN, Fernanda Zanatta citou duas proposições aprovadas e transformadas e leis municipais.
O primeiro trata especificamente do direito da gestante de ser acompanhada por uma doula de própria escolha durante o trabalho de parto em ambientes hospitalares. Resumidamente, doulas são profissionais que orientam e assistem as mulheres desde a gravidez até os dias subsequentes ao nascimento do bebê.
A segunda proposição lembrada por Fernanda Zanatta trata da proibição da venda de fogos de artifício que emitam qualquer tipo de som. Nesse caso, argumentou, a legislação defende idosos, pessoas acamadas, autistas e animais que sofrem com ruídos excessivos.
Desde o início do mandato, em 2021, assinou 47 indicações, 16 requerimentos e 11 projetos de lei, números que incluem propostas próprias ou na condição de coautora. A lista completa está disponível no site da Câmara de Vereadores de Paranavaí (cmparanavai.pr.gov.br).
Ela foi eleita com 832 votos pelo extinto Partido Social Liberal (PSL), que se fundiria com o Democratas (DEM) para a criação do União Brasil, ato reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022.
Política – Fernanda Zanatta disse que o projeto como agente política não duraria além dos quatro anos de mandato como vereadora. Precisou encurtar a trajetória, mas se colocou à disposição de toda a população de Paranavaí. “Com certeza vou continuar contribuindo como puder.”
Sem arrependimentos quanto ao trabalho que desenvolveu como legisladora, respondeu que faria tudo novamente. Se teve frustrações? Sim, pois o poder público tem morosidades e burocracias que impedem o desenrolar rápido e prático das ideias. Mesmo assim, complementou, “fiz o que pude”.
Enfrentou votações complicadas e com debates intensos, como a reforma da previdência, em julho de 2021, e o processo de cassação do mandato de Roberto Cauneto Picoreli, em 2022.
Durante o pronunciamento na Câmara de Vereadores, Fernanda Zanatta avaliou: “A política também tem o lado amargo, de muita inveja, egos, muitas mentiras e articulações que às vezes causam muito sofrimento a cada um de nós que estamos aqui. A nós todos e a todos os ligados a nós”.
Nas últimas semanas, foi duramente criticada – principalmente das rede socais – por participar das sessões ordinárias de forma remota e com argumentos que considerou mentirosos. Informou que o formato a distância tinha respaldo nos atos da Mesa Diretora, sem que houvesse, portanto, qualquer prejuízo aos trabalhos de vereadora.
De acordo com a Procuradoria do Legislativo, a atuação por transmissão de vídeo se tornou comum com o advento da pandemia de Covid-19 e algumas adaptações no regimento interno da Câmara em razão da crise sanitária tornaram possível aos legisladores acompanhar as reuniões via internet. O entendimento jurídico, portanto, é que no caso de Fernanda Zanatta não houve irregularidade.
Suplente – A cadeira deixada por Fernanda Zanatta será ocupada por Ivany Azevedo, conhecida popularmente como Professora Ivany. Em outras ocasiões em que esteve nesse lugar, ela apresentou requerimentos e indicações voltados para a melhoria do ambiente escolar e a comercialização de alimentos a preços baixos para famílias de baixa renda, só para citar alguns exemplos.
Na próxima sessão ordinária, o presidente da Câmara de Vereadores de Paranavaí, Luís Paulo Hurtado, fará a declaração oficial da vacância e dará posse à Professora Ivany.
Em seguida, anunciará a eleição para o cargo de vice-presidente da Casa, então ocupado por Fernanda Zanatta. Conforme consta do regimento interno, qualquer parlamentar poderá concorrer.