REINALDO SILVA
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O Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). É o reconhecimento ao trabalho de autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que se destacam a cada ano.
Nesta quinta-feira (5), a 42ª Semana Literária e Feira do Livro organizada pelo Sesc Paranavaí recebe o escritor curitibano Luís Henrique Pellanda, finalista do Prêmio Jabuti em duas ocasiões, 2011 e 2021, ambas com coletâneas de crônicas. O bate-papo “Caçador chegou tarde” será das 19h30 às 20h30, com entrada gratuita.
Luís Henrique Pellanda nasceu em Curitiba (PR), em 1973. Escritor e jornalista, é autor dos livros “O macaco ornamental” (contos, 2009, finalista do Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional), “Nós passaremos em branco” (crônicas, 2011, finalista do Prêmio Jabuti), “Asa de sereia” (crônicas, 2013, finalista do Prêmio Portugal Telecom), “Detetive à deriva” (crônicas, 2016), “A fada sem cabeça” (contos, 2018), “Calma, estamos perdidos” (crônicas, 2019), “Na barriga do lobo” (crônicas, 2021, finalista do Prêmio Jabuti) e “O caçador chegou tarde” (contos, 2023).
Também organizou os dois volumes da antologia “As melhores entrevistas do Rascunho” (2010/2012). Desde 2012 trabalha como palestrante e ministrante de oficinas literárias por todo o país. Como repórter e colunista, foi colaborador de diversos veículos de imprensa brasileiros.
Pellanda concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Noroeste e falou sobre o cenário literário brasileiro, o caminho que percorreu até a publicação do primeiro livro e a importância de eventos como a Semana Literária do Sesc.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Diário do Noroeste: Quando percebeu que se dedicaria à literatura?
Luís Henrique Pellanda: A intenção era antiga. Desde a infância, quando comecei a ler, me atraía a ideia de trabalhar contando histórias. Ser escritor, para mim, era o equivalente a ser astronauta ou jogador de futebol. Durante a adolescência, me entreguei naturalmente a uma imersão mais séria na literatura, o que me levou à profissão de jornalista. Queria trabalhar com algo que me pagasse para escrever, já certo de que meu caminho profissional só poderia passar pelo exercício da leitura e da escrita.
DN: Como foi o processo até escrever o primeiro livro?
Luís Henrique Pellanda: O primeiro livro, a gente escreve e reescreve desde o letramento. Pratiquei muito, durante décadas, escrevi e joguei fora diversos trabalhos, poemas, contos, romances inteiros, até finalmente conseguir me satisfazer com um conjunto curto de histórias, O macaco ornamental, que saiu em 2009, pela Bertrand Brasil, quando eu já tinha 36 anos. O processo, em geral, é um só: muitos anos de leituras e de experiência, de tentativa e erro. Não temos como escapar disso. Todo livro nasce de uma série de fracassos educativos.
DN: Quais são os principais desafios para o escritor brasileiro?
Luís Henrique Pellanda: O brasileiro, durante séculos, não teve acesso à educação formal e aos livros. Não teve sequer o direito de ser informado a respeito da importância que a leitura de obras literárias poderia ter em sua vida prática, cotidiana. Assim, penso que o principal desafio para um brasileiro que planeja se tornar escritor, ainda hoje, é lutar por esse acesso à leitura, aos estudos, ao direito de trabalhar sua subjetividade e fazer circular sua visão de mundo.
DN: No cenário em que as mídias digitais ganham cada vez mais espaço e tornam o ritmo de vida acelerado, por vezes imediatista, como um vídeo de 30 segundos nas redes sociais, qual a importância de eventos que exaltam a literatura e o livro, caso da Semana Literária?
Luís Henrique Pellanda: Eventos que reúnem leitores e autores são importantes para promover a prática do diálogo e da escuta num momento em que as redes aceleram a divulgação de informações muitas vezes superficiais e às vezes até mesmo mentirosas. São também fundamentais para fomentar a interação entre pessoas interessadas de vários lugares do país. O Brasil é grande, em vários aspectos, e só tem a ganhar com essa interação afetuosa entre consumidores e produtores de cultura de formações tão diversas. Precisamos cada vez mais dessas pontes de conversação e debate. A discussão aberta da literatura ajuda um país a organizar melhor suas ideias.
DN: O que dizer para quem tem vontade de escrever, mas não sabe como começar ou não se sente seguro para isso?
Luís Henrique Pellanda: Há poucos conselhos possíveis. Leia. Leia, estude e pratique. Escreva e reescreva. A literatura não deve ser compreendida como um recurso de escapismo, um modo de evadir-se da vida real. Ela deve fazer parte da sua vida.