O Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu nesta segunda-feira (9) que a economia brasileira suportaria uma semana com 4 dias de trabalho. Segundo ele, “já passou da hora do Brasil discurtir esse tema”. O Estados Unidos e alguns países da Europa já adotaram esse mecanismo. Os relatos são de que a produtividade das empresas aumentou, visto que os profissionais tiveram mais tempo de descanso e lazer, e menos problemas de saúde.
“Há debates acontecendo, de experimentos em relação a se pensar em três dias na semana, ou quatro dias na semana. Se tem um debate sobre as tecnologias, a inteligência artificial, plataformas que temos, é necessário que se pense a jornada”, disse Luiz Marinho.
Veja as empresas que adotaram a semana de quatro dias de trabalho no Brasil
O teste brasileiro de uma jornada de trabalho de quatro dias por semana e sem a redução dos salários começou oficialmente no dia 5 de setembro, com o início das rodadas de palestras e planejamento nas empresas selecionadas para o projeto-piloto.
Estão entre as confirmadas um hospital, empresas de consultoria, de alimentação, editoras, produtoras de vídeo e de conteúdo, agências de comunicação, escritório de arquitetura e um escritório de advocacia.
A Soma, central de serviços compartilhados do grupo Dreamers (do qual fazem parte a agência Artplan e o Rock In Rio), as editoras Mol e Ab Aeterno, a Casa dos Parafusos e a Alimentare estão entre as companhias anunciadas.
Algumas empresas não autorizaram a divulgação de participação, neste momento elas ainda estariam organizando a comunicação interna antes de tornar pública a decisão. Outras ainda estão finalizando a adesão.
Oficialmente, 20 companhias, que somam 400 funcionários, estão confirmadas no projeto-piloto. Mais de 400 se inscreveram.
Durante a apresentação dos selecionados no projeto, uma das preocupações relatadas por representantes de empresas que estarão no teste foi a possibilidade de o modelo trazer riscos jurídicos.
Soraya Clementino, sócia do Clementino, afirmou que por ser uma inovação, a redução não tem hoje respaldo na legislação, mas que tampouco é ilegal. Durante o teste, o escritório fará reuniões individuais com os gestores das empresas e intermediará contatos com os sindicatos de cada setor.
A participação das entidades sindicais é vista pelo projeto como um fator importante de segurança jurídica para a aplicação do novo modelo.
A advogada recomendou que as empresas incluam em acordos o detalhamento do projeto e deixem explícito que se trata de um teste, e que evitem a divulgação da participação como um fator de atração de novos funcionários.
Um dos riscos quanto a questões trabalhistas é que a redução da jornada semanal gera um reajuste na hora trabalhada. Caso a empresa decida não prosseguir com o modelo após o período de teste, é necessário que esse retorno ao valor anterior (antes da redução da jornada) esteja respaldado.
Segundo Soraya, a preocupação com os contornos jurídicos é o principal peso para que empresas decidam não participar do teste.
O método defendido pela 4 Day Week para a redução da jornada segue o que a organização chama de 100-80-100: 100% do salário, 80% das horas e 100% da produtividade. Para chegar a esse desenho, não basta cortar um dia de trabalho a segunda ou a sexta-feira, em geral.
“Estamos reimaginando o trabalho para a forma que ele deveria ser”, diz Gabriela Brasil, diretora de Comunidade na 4 Day Week Global.
O sucesso do novo desenho, diz, depende de pontos como comunicação clara e confiança para chegar a um modelo de produtividade que não esteja baseado em horas, mas em entregas. Horas focadas, diz Gabriela, batem horas longas.
Há empresas testando o modelo por conta própria ou replicando o que suas matrizes fizeram em outros países. A diretora da 4 Day Week espera que a realização do piloto gere informações e estimule outras companhias a adotar o modelo. “Com essas, vamos triplicar o número de empresas que adotaram no Brasil. Quanto mais gente, mais exemplo, mais dados, mais modelos vamos construir.”
A partir da próxima semana, as empresas começarão o efetivo planejamento para os novos desenhos de suas rotinas e isso deve durar até dezembro. Em novembro, as primeiras pesquisas qualitativas e quantitativas terão início e, no mês seguinte, a jornada já estará menor nas empresas participantes.
Pablo Toledo, sócio da Caresurge, que assumiu o antigo hospital da Cruz Vermelha (e que agora se chama Indianópolis) na avenida Rubem Berta, na zona sul de São Paulo, diz que a empresa quer criar uma nova cultura de trabalho no setor de saúde.
Eles já iniciaram um teste informal no setor administrativo, com cerca de 20 funcionários. “Começamos do zero e há pouco tempo [eles assumiram o hospital em maio de 2022]. Estamos construindo uma cultura própria e que seja melhor para trabalhar.”
No Clementino & Teixeira, o teste valerá para todos os 12 advogados e, segundo Soraya, será importante para que eles possam, ao mesmo tempo, construir uma nova cultura de trabalho no meio jurídico e acompanhar cada etapa do projeto e atender as demais empresas participantes.
A WeWork, rede de espaços de trabalho, também entrou como parceira no projeto. As empresas que participarão do teste terão um vale-escritório, chamado de workpass, que dá acesso às salas e espaços do grupo.
VEJA EMPRESAS SELECIONADAS PARA O PILOTO
EDITORA MOL
– Trabalha com produtos impressos
– Sua especialidade são projetos editoriais, dos quais reverte renda para ONGs
SOMA
– Empresa de serviços compartilhados do grupo Dreamers (Rock in Rio, Artplan)
– Trabalha com otimização de custos, padronização e automação
INSPIRA
– Plataforma de pesquisa de jurisprudência em tribunais de todo o Brasil
– Trabalha com dados, visualização de dados jurídicos e IA
CLEMENTINO & TEIXEIRA ADVOCACIA
– Fundado em 2004, atua em direito do trabalho empresarial
– Tem escritórios em São Paulo e Belo Horizonte
AB AETERNO
– Trabalha com serviços gráficos e editorais, roteiros, revisão, tradução etc
SMART DUO
– Escritório de arquitetura de Belo Horizonte (MG)
– Trabalha com projetos arquitetônicos, de sinalização, comunicação visual e paisagístico
T4S – THANKS FOR SHARING COMUNICAÇÃO
– Produtora de vídeo
– Especializada em vídeo motion design
GR ASSESSORIA CONTÁBIL
– Consultora para abertura de empresas e diagnóstico contábil
BRASIL DOS PARAFUSOS
– Empresa com sede em Porto Alegre
– Especializada na produção de materiais de fixação
PLONGÊ
– Consultoria de seleção de executivos
HAZE SHIFT
– Consultoria de inovação
– Trabalha com transformação digital e design estratégico
OXYGEN EXPERIÊNCIAS, CAPACITAÇÃO E CONTEÚDO EM INOVAÇÃO
– Plataforma de conteúdo sobre inovação
ALIMENTARE NUTRIÇÃO E SERVIÇOS
– Atua com a administração de restaurantes, gerenciamento de refeitórios
– Fornece alimentação para eventos e para dietas especiais
PIU COMUNICA
– Agência de comunicação full-service
– Trabalha com marketing, identidade de marca e criação de sites e aplicativos
INNUVEM
– Consultora de soluções de computação em nuvem
VOCKAN
– Começou a testar antes do projeto começar
– Foi a primeira a se filiar ao projeto
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)