ADÃO RIBEIRO
Imagine a noite de 16 de junho de 1947. Era inverno brasileiro. No chão tórrido e de mata fechada do Noroeste do Paraná se reuniu um grupo de amigos para definir o nome da cidade que se anunciava. Noite de seresta e lá estavam Octacílio Egger e o futuro prefeito Ulisses Faria Bandeira, além de outros convivas. Entre cantorias (Ulisses era o cantador), pensaram sobre a nova acrópole (cidade alta na definição grega).
Entre vários nomes, acabaram optando por um neologismo (nome formado por mais de uma palavra). E chegaram a Paranavaí, fusão de “Paraná (grande rio)+Paranapanema (rio sem peixe)+Ivaí (rio de água suja, barrenta).
E o que isso tem a ver com o nosso aniversário? Tudo. A história da cidade se confunde com a trajetória do Diário do Noroeste. Por ser uma cidade nova e pulsante, Paranavaí permitiu a chegada de novos empreendimentos e de uma ousadia: a implantação do jornal impresso.
A bem da verdade, um jornal funcionou na cidade antes, mas fechou as portas. Então, o poeta e empreendedor cheio de sonhos -Euclides Bogoni – funda “O Noroeste”, jornal mensal e que passou a circular a cada 15 dias logo depois. Era 23 de outubro de 1955 e Paranavaí dava os seus primeiros passos. O resto é história, bem contada pelo Diário do Noroeste há 68 anos.
O FUNDADOR
DN apresenta o legado de Euclides Bogoni
Catarinense de Videira, falecido no dia 22 de junho de 2016, o jornalista Euclides Bogoni teve os primeiros contatos com as letras quando passou a escrever poemas, alguns publicados em jornais de Curitiba e Londrina. Por conta da vocação, foi convidado para escrever em um informativo que encerrou suas atividades em 1954, o “Paranavaí Jornal”.
Quando a empresa deixou de existir, Bogoni havia se apaixonado por jornal e partiu para o grande projeto de sua vida. Assim nasceu “O Noroeste”, que mais tarde se tornaria “Diário do Noroeste”.
Para facilitar o processo, Bogoni adquiriu uma impressora seminova em Maringá, a chamada máquina plana. Como não havia energia elétrica, o jornal era “rodado” na base da força. Ele contratava homens fortes para manusear a manivela e assim editar o informativo.
De poeta a jornalista, uma história de muito trabalho. Como empreendedor, Bogoni foi um dos fundadores da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí, no ano de 1955, entidade que completou 67 anos no dia 12 de fevereiro.
Preocupado com as causas sociais, Bogoni se tornou rotariano em 1960, permanecendo no clube de serviço até o falecimento. Naquele período, aliás, o Rotary era uma fonte indispensável de informações jornalísticas e também das demandas da comunidade.
De jeito simples e mais ouvinte do que falante, Euclides Bogoni fez inúmeras declarações de amor pela cidade. Numa delas, lembrou que nasceu em Santa Catarina, mas se mudou para a Região Noroeste para trabalhar por ela e não para se aproveitar dela.
O jornalista Euclides Bogoni morreu aos 82 anos na madrugada de 22 de junho de 2016. Diretor do jornal Diário do Noroeste por tanto tempo, tinha suas soluções para superar momentos de dificuldade.
Sobre crise econômica e falta de oportunidades, uma receita: ação.
Sua sala no DN, sem luxo, por sinal, nem de longe lembra o prestígio que desfrutava por todo o Paraná. A mesma sala onde atendia governadores, senadores e outras grandes autoridades era também testemunha do seu carinho por pessoas humildes e da paciência em atender crianças e estudantes a perguntar sobre a arte de fazer jornalismo numa região em desbravamento.
Na mesa de trabalho, a inseparável cuia de chimarrão, que gentilmente dividia com os partícipes.
DESTAQUE:
Jornal: o passado impresso para sempre
Conceitualmente, jornal é uma revista diária. Portanto, o DN apresenta a história de Paranavaí e região desde 1955. A maior parte do acervo está intacta e em breve disponível para consulta e pesquisa por toda a comunidade. Para marcar a data especial, vamos lembrar de dois outubros, analisando a data do “Parabéns pra você” do DN.
No dia 21 de outubro de 1970, o Brasil vivia sob o regime militar. Naquela data, o DN trazia em sua manchete: “Medici: quem quer ordem há de querer também a justiça”. A matéria fala sobre a simplificação das regras para quem deseja empreender e tropeça na burocracia.
A edição apresenta o título de cidadão honorário para o então governador eleito do paraná, Leon Peres, e traz um balanço de seis obras entregues pelo governador Paulo Pimentel no município de Paranaguá.
Dentre tantos assuntos de época, um anúncio da Copel chamando a atenção para os benefícios da energia elétrica. Uma frase definia a ideia original: “A energia elétrica vale o preço do bem-estar e do progresso”, no caso específico, um contraponto ao trabalho árduo de passar roupas com ferro à brasa.
A edição de 23 de outubro de 1970 apresenta um estado de tensão no Chile. O presidente Salvador Allende buscava apoio do Congresso para assumir a função. Ele foi presidente até 1973 quando acabou deposto por um golpe militar.
Chegamos a uma edição, digamos, mais contemporânea. O ano é 2015. No dia 23 de outubro, o DN apresentava matéria sobre investimentos que seriam feitos pela Sanepar no fornecimento de água e serviço de esgoto em Paranavaí. A edição também pontuava na capa o aniversário do jornal, que completava 60 anos naquele dia. Para os corintianos, um destaque do esporte: “Cássio admite ansiedade e frio na barriga na volta à seleção”.