Impossível não sonhar na casa de Pablo Neruda,
Em Santiago do Chile.
Com fachadas ostentosas, ambientes interiores e íntimos.
La Chascona , transformada em museu.
Cada cômodo com suas particularidades:
O bar, a cozinha, escritório, dormitório, sala de estar,
E a biblioteca do Capitão, é claro!
Tudo intacto e preservado
Pela musa clandestina
Transformada em esposa.
Grande mulher, essa Matilde Urritia,
Guardou quase tudo do poeta.
Mesmo em tempo de ditadura,
Enfrentou os vândalos.
Confesso que vivi também, cada detalhe
Os copos coloridos, para deixar a vida mais feliz
O retrato da amada pintado pelo mexicano Diego Rivera,
Com duas cabeças.
Ouvi os passos de Neruda descendo as escadas,
A impressão que se tem é que de repente
O poeta abrirá uma daquelas portas
Surpreendendo-nos com sua leitura fluente
Dos Cem Poemas de Amor.
Em estranha floração a terra se revestirá
Com a chuva e o frio do inverno chileno,
De verde e amarelo, de azul e púrpura
E suas palavras serão novamente transformadas
Em flores, frutos e raízes:
“Quero viver num mundo em que os seres humanos
Sejam simplesmente humanos,
Sem mais títulos, além desse,
Sem trazerem na cabeça uma regra –
Uma palavra rígida, um rótulo.
Quero que a grande maioria, a única maioria, todos,
Possam falar, ler, ouvir e florescer.”