Os Jogos Panamericanos de Santiago do Chile, 2023 estão sendo realizados desde o dia 20 do corrente mês, e ao olharmos para o Medallero (Quadro de Medalhas) nos deparamos com o Brasil em quarto lugar, pela quantidade de medalhas de ouro conquistadas. Nos modelos dos Jogos Panamericanos e Jogos Olímpicos a classificação se dá através do número de medalhas de ouro conquistadas e não pelo total de medalhas. Pode parecer muito bom essa quarta posição, mas vamos analisar esse quadro, na data de hoje, porque ele tem atualizações diárias.
O Brasil conquistou 14 medalhas de ouro, enquanto o México 27, o Canadá 28 e os Estados Unidos, disparados em primeiro lugar 59 ouros. E, pasmem meus caros leitores, em geral os USA não enviam seus principais atletas para esses Jogos, preferem dar experiência aos mais jovens. São 45 medalhas de ouro a distância entre nosso país e os USA. Qual nossa reflexão crítica sobre esse resultado brasileiro? A falta de investimento na base, na formação dos atletas. Comparados com o modelo americano e canadense veremos que o esporte nesses países é desenvolvido nas escolas, onde existem os equipamentos disponíveis, professores qualificados e a oferta dos esportes por season, ou seja, por temporadas. As escolas oferecem esportes a cada temporada, e os atletas que se destacam podem ir para o OTC – Olympic Training Center, localizado em Colorado Springs, onde esse autor já teve o privilégio de treinar.
Em nosso país, infelizmente, não utilizamos as escolas e seus equipamentos para identificar e desenvolver os talentos esportivos. Poucos esportes fazem um trabalho de base e o sistema de detecção e desenvolvimento de talentos ainda são bastantes artesanais, inclusive no esporte mais popular do país, o futebol. Esperamos que as previsões de alguns jornalistas esportivos se concretizem, e o Brasil alcance um segundo lugar no Medallero Panamericano, não para aumentar nossa autoestima, e sim para que os responsáveis pelo esporte nacional possam repensar nosso modelo de detecção e desenvolvimento do talento esportivo.
Temos uma população atual de 213,3 milhões de habitantes, onde 51,3 milhões (23% da população) são jovens entre 15 a 29 anos, e 84,8% vivem nas cidades, enquanto 15,2% vivem nos campos. Entretanto, em pleno século XXI enfrentamos sérias dificuldades de desnutrição crônica em grupos mais vulneráveis, tais como indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
Em dados do Ministério da Saúde, existe uma desnutrição crônica entre as crianças menores de 5 anos, das populações originárias, sendo na casa dos 28,6%. Esses dados variam nas etnias, chegando ao descalabro de 79,3% das crianças ianomâmis. Se pensamos em desenvolver talentos esportivos, temos que sanar essa desnutrição crônica, e oferecer práticas desportivas associadas a nutrição, para poder ser um novo caminho, e ao pensarmos nas etnias das populações originárias veremos suas destrezas no arco e flecha, no arremesso da lança (dardo do Atletismo), no Huka Huka (luta indígena), na natação, na canoagem, e em outros tantas práticas que se bem desenvolvidas poderiam revelar inúmeros atletas para nosso combalido esporte olímpico!!!