FLAVIO LATIF
DA UOL/FOLHAPRESS
Há exatos três anos, Abel Ferreira foi anunciado como novo técnico do Palmeiras. Desde então, o técnico português conseguiu construir uma história vitoriosa: são oito títulos conquistados, incluindo duas Copas Libertadores.
A reportagem resgatou a primeira coletiva de imprensa de Abel no time aviverde, analisou resposta por resposta para mostrar como o Palmeiras ganhou a cara do treinador (e mantém isso até hoje) e quais promessas o técnico cumpriu desde que foi contratado.
“Vim para ganhar” – “Eu atravessei o Atlântico e não foi para vir para cá fazer férias ou conhecer a cidade. Vim para cá para trabalhar junto ao clube, vim para cá para ganhar, vim para cá para ajudar a estrutura e os jogadores a crescerem. Esse é meu principal objetivo, é a minha missão. Portanto, porventura, a minha estadia nos próximos meses vai ser aqui dentro. Tenho todas as condições, como disse. Não nos falta nada. O clube oferece todas as condições para todos os profissionais fazerem seu trabalho na plenitude. E, portanto, só temos que criar a nossa própria pressão dentro para aguentar a pressão de fora. Por que quem está num clube como o Palmeiras só pode pensar numa coisa, é vencer. Não há outra forma.”
Uma das primeiras respostas de Abel foi bem clara: ele não ‘atravessou o Atlântico’ à toa. O técnico tinha como objetivo fazer um grande trabalho no Palmeiras, mas sabia que precisava conquistar títulos para seguir no cargo.
E foi isso que ele fez. Desde que chegou, Abel venceu duas Copas Libertadores (2020 e 2021), uma Copa do Brasil (2020), uma Recopa Sul-Americana (2022), dois Campeonatos Paulistas (2022 e 2023), um Campeonato Brasileiro (2022) e uma Supercopa do Brasil (2023).
Discursos que viraram mantras no Palmeiras – “A direção queria que eu fizesse um vídeo para fazer a minha apresentação quando estava em Portugal, eu disse que não faria, que iria falar primeiro com os jogadores. Falei primeiro com os jogadores e com o treinador, antes do jogo e no dia anterior ao jogo, porque é deles que eu dependo, é para eles que eu trabalho, é com eles que vamos ganhar, não é com mais ninguém e portanto peço desculpa à direção se não aceitei ou se não fiz esse vídeo, a força foi grande, mas desculpem, primeiro os nossos jogadores.”
Um dos pontos fortes do trabalho de Abel Ferreira é a relação que ele criou com o elenco. Os jogadores compraram as ideias do treinador, que também acredita demais em seus atletas. Foi construindo essa base que alguns discursos de “Abel viraram lei no Palmeiras.
Eu tenho uma regra na minha vida enquanto treinador, que é 24 horas: 24 horas para chorar de uma derrota, ou 24 horas para celebrar uma vitória. A partir daí é seguir o nosso caminho. Isso é que não pode vacilar. É naquilo que nós acreditamos. Isso não vacila. E, sobretudo, é em grandes momentos de turbulência em que se adquirem as maiores aprendizagens.”
A regra das 24 horas até nesta segunda-feira (30) é um mantra dentro do vestiário: os jogadores citaram isso algumas vezes após a queda para o Boca Juniors na semifinal da Copa Libertadores e a sequência recente de resultados ruins pelo Brasileirão. Abel também reforçou recentemente como as derrotas são necessárias para servir como aprendizagem.
Mescla entre jogadores experientes e base – “Vocês sabem que o clube trabalha muito com aquilo que são os jogadores da base, mas não nos podemos esquecer dos jogadores mais experientes, que são os que ajudam os jogadores mais jovens a crescerem. Eu sei que a imprensa fala dos mais jovens, dos jovens da base… É verdade, temos uma boa base. Há um plano muito bem definido por toda a estrutura que trabalha mais diretamente ligada à base, mas não nos podemos esquecer dos jogadores mais experientes, que conhecem o clube, que podem ajudar os mais jovens a crescer e só assim é que é possível o Palmeiras ter presente e ter futuro.”
Uma das críticas da torcida palmeirense é a falta de tato de Abel com os atletas que sobem da base. No entanto, desde que chegou, Abel ponderou que era necessário ter jogadores mais rodados em seu elenco para poder ajudar os mais jovens. Foi um ponto que o português lamentou após a queda para o Boca: a falta de jogadores experientes na equipe.
Abel lançou 23 jogadores desde que assumiu o Palmeiras. Entre os principais nomes estão: Vanderlan, Fabinho, Jhon Jhon, Luis Guilherme, Endrick, Giovani e Kevin.
Recuperar a identidade da ‘Academia’ – “Nós temos que recuperar a nossa identidade. O Palmeiras é conhecido pela Academia e foi por uma forma e por um estilo de jogar, não foi pela quantidade de títulos que ganharam nessa época. Foi pela identidade que o treinador [da época] criou. Agora, não me peçam que sem treinar, ver a equipa a jogar como jogavam as minhas equipas, como jogava o PAOK, como jogava o Braga, não me peçam isso porque não há tempo. E eu sei que neste momento nós temos que ganhar, e se possível, porque o fizeram ir bem, e os jogadores têm essa qualidade, os jogadores são inteligentes, os jogadores sabem perfeitamente aquilo que têm que fazer dentro do campo, os jogadores já têm uma base dentro deles, não é quando tu trocas treinador que os jogadores vão mudar todos.”
O Palmeiras dos anos 60 ficou conhecido como a ‘primeira Academia’ do clube pelas grandes atuações e pelo futebol vistoso. Já o time de Abel ganhou a fama de ‘terceira Academia’ por tudo que conquistou em um período tão curto e pelo domínio sobre os rivais diretos.
Força da base da equipe – “A primeira coisa que temos que fazer é olhar para dentro e perceber se temos dentro do clube alguém capaz de responder às exigências da equipa profissional. Esse é o primeiro. Segundo, quando isso não acontecer, porque jovens temos aqui, não precisamos de ir buscar jovens fora, teremos que reforçar no sentido de equilibrar a equipa. Não é preciso mexer muito, é preciso só equilibrar. Nós temos bons jogadores. Temos jogadores jovens com vontade de fazer carreira e crescer. Temos jogadores experientes com vontade de ajudar os mais novos e com vontade de ganhar, porque há muita coisa ainda para ganhar este ano. Eu já fiz o meu diagnóstico. Eu já entreguei aquilo que é o meu diagnóstico ao nosso diretor. E, portanto, vai ser sempre dentro desta linha. Olhar primeiro para dentro. Mas por questões estratégicas, não vos vou dizer as posições ou os nomes, mas como disse, não tem que mexer muito, estamos bem. Temos uma base muito boa.”
Com Abel e Anderson Barros, o Palmeiras adotou a filosofia de poucas contratações, apenas peças pontuais são buscadas no mercado. E foi mais um ponto citado pelo treinador em sua chegada: ele exaltou a base que o Palmeiras tinha, mas acreditava que poucas mudanças eram necessárias. Fato que ocorre até nesta segunda-feira (30): para 2023, por exemplo, o Alviverde só contratou o meio-campista Richard Ríos e o atacante Artur.
E o futuro? Abel tem contrato com o Palmeiras até o final de 2024. Leila Pereira, presidente do clube, já afirmou que quer dar continuidade ao trabalho vencedor do português. O técnico ainda não decidiu se segue no cargo após o fim do vínculo.