LUCIANO TRINDADE
DA FOLHAPRESS
Lionel Messi já sentiu as mais diferentes emoções no Maracanã. Foi no estádio que ele sofreu aquela que talvez seja a derrota mais dolorida de sua carreira, na final da Copa do Mundo de 2014, para a Alemanha.
Mas foi também lá que ele conquistou a Copa América de 2021, primeiro troféu do craque pela Argentina, em uma conquista considerada como a gênese da equipe que venceria o Mundial do Qatar, um ano depois.
Aos 36 anos, o astro retorna ao estádio nesta terça-feira (21) para aquela que deverá ser a última exibição dele em solo brasileiro, às 21h30, em um confronto pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 -a TV Globo e o Sportv exibem o duelo.
Diante de um Brasil em crise, acumulando marcas negativas desde a eliminação no Mundial vencido pelos argentinos, Messi terá a chance de buscar sua coroação definitiva, com o reconhecimento da torcida local para um craque adversário, que é capaz de arrebatar fãs acima da rivalidade entre os países.
As arquibancadas estarão lotadas, com cerca de 69 mil torcedores. Cada um dos lotes de ingressos colocados à venda pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) foi esgotado em poucas horas.
A alta demanda não condiz com o atual desempenho da seleção brasileira, apenas a quinta colocada nas Eliminatórias, vindo de duas derrotas consecutivas -algo até então inédito para a equipe-, sem falar nas ausências de nomes como Neymar e Vinicius Junior, ambos machucados.
Com quatro derrotas em oito jogos em 2023, a equipe canarinho perdeu 50% das partidas, um rendimento que a seleção não registrava desde 1948. Mesmo em caso de vitória sobre os argentinos, o percentual no fim do ano será de 44,44%, pior marca da equipe desde 1963, quando os brasileiros perderam oito dos 18 jogos que fizeram naquele ano.
Se o Brasil não vive um momento capaz de atrair seu torcedor, há Messi em campo, como uma atração à parte, mesmo como adversário, mas em uma condição diferente das outras vezes em que ele veio aqui, agora sem o peso que carregava pela ausência de títulos com sua seleção, apenas curtindo o prazer que tem de jogar futebol.
A recente transferência dele para o futebol dos Estados Unidos também tem exigido menos do craque, já que a intensidade da MLS é menor em comparação com os campeonatos europeus, o que reduz o desgaste físico e o risco de lesão.
Mesmo assim, o futuro do camisa 10, sobretudo na seleção, ainda é uma incógnita. O título no Qatar o fez renovar o desejo de representar seu país. Mas, além deste ser provavelmente o último ciclo de Copa dele, ainda não é possível afirmar que ele jogará o Mundial de 2026, quando estiver com 39 anos.
“Eu não penso nisso porque está muito distante. Penso é em chegar bem na Copa América [de 2024, nos EUA]”, disse ele recentemente em uma entrevista para o canal de Youtube argentino Olga. Por isso que o confronto desta terça é tratado como possível uma despedida.
Será o 14º jogo dele contra a equipe canarinho, sendo o oitavo em jogos oficiais, nos quais o craque até hoje nunca conseguiu deixar sua marca. Os cinco gols anotados por ele contra o Brasil foram em partidas amistosas, sendo três deles na vitória argentina por 4 a 3, em 2012.
Em solo brasileiro, o craque também tem um histórico modesto. Ao todo, entre duelos de Copa do Mundo, Copa América, Eliminatórias e amistosos, ele disputou 22 jogos no país e balançou as redes apenas sete vezes.
Apesar do momento ruim vivido pelo time comandado por Fernando Diniz, o próprio camisa 10 afirma que não será fácil melhorar esses números.
“As partidas contra o Brasil são clássicas. São jogos à parte, de muita história. Sobretudo por como vem esta história nos últimos tempos. Temos que nos levantar, mas respeitando o que eles são, porque são o Brasil”, disse ao jornal Olé.
O respeito não é demagogia. Além de ter muitos amigos brasileiros, como Neymar e Ronaldinho Gaúcho, com os quais também dividiu o vestiário do Barcelona, Messi já demonstrou respeito pelo Brasil em outras ocasiões.
Na comemoração pelo título da Copa América de 2021, ainda no gramado do Maracanã, ficou famosa uma cena dele orientando seus companheiros a não cantarem uma música que provocava os brasileiros e Pelé, por exemplo.
Momentos como este ajudaram a reforçar a idolatria que o craque tem por aqui, construída, claro, sob as bases de tudo o que ele fez no futebol e que, pelo menos em solo brasileiro, deverá ficar agora apenas na memória.