LEONARDO VIECELI
DA FOLHAPRESS
A taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% no trimestre até outubro, indicou nesta quinta-feira (30) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A marca é a menor para esse período do ano desde 2014 (6,7%).
O indicador estava em 7,9% no trimestre até julho, o mais recente da série histórica comparável da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
A taxa de 7,6% veio em linha com a mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam a mesma marca.
“O comportamento da taxa de desemprego reflete a sazonalidade do mercado de trabalho nesta época, quando muitas empresas contratam trabalhadores para suprir o aumento da demanda por produtos e serviços no fim do ano”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
População ocupada alcança 100,2 milhões – A baixa da desocupação veio acompanhada por um novo recorde da população ocupada com algum tipo de trabalho. Esse contingente foi estimado em 100,2 milhões de pessoas no trimestre até outubro.
É a primeira vez que a população ocupada ultrapassa os 100 milhões na Pnad, iniciada em 2012. O número era de 99,3 milhões até julho. Houve um acréscimo de 0,9% (ou 862 mil trabalhadores a mais) na comparação trimestral.
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, avaliou que a ocupação vem mostrando um “crescimento sustentado”. Ou seja, sem o registro do que ela chamou de “intermitência” ou “gangorra”.
“A gente está diante de um cenário de recuperação de indicadores econômicos. Isso acaba se refletindo no mercado de trabalho”, disse a pesquisadora.
No primeiro semestre, a atividade econômica mostrou desempenho acima do esperado no país com o impulso da agropecuária. O mercado de trabalho costuma responder com algum atraso aos estímulos da economia, apontam analistas.
Eles, porém, projetam uma desaceleração da atividade na segunda metade deste ano, após o pico da safra agrícola e com os juros ainda elevados. O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre será divulgado pelo IBGE na próxima semana, no dia 5 de dezembro.
Parte dos analistas também recomenda cautela ao analisar o aumento da população ocupada em termos absolutos. Isso porque os dados da Pnad ainda não refletem possíveis impactos do Censo Demográfico 2022.
O recenseamento é a base para a atualização da amostra populacional usada pelo IBGE na pesquisa de emprego e desemprego. O instituto planeja fazer essa revisão em 2024.
O Censo contabilizou uma população de 203,1 milhões no Brasil em 2022, abaixo das projeções usadas na Pnad. Assim, estatísticas da pesquisa de emprego e desemprego, especialmente em termos absolutos, podem sofrer alterações para baixo.
“A população ocupada pode estar próxima de 94 milhões. Mas, enquanto não tivermos a revisão na Pnad, continuamos a fazer a análise em cima dos dados divulgados pelo IBGE”, afirma o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
Ele avalia que o mercado de trabalho segue mostrando cenário positivo. “Chama atenção a continuidade da recuperação de postos com carteira assinada.”
Outra questão destacada por Imaizumi é a alta do número de trabalhadores subocupados. Trata-se de uma categoria que envolve profissionais com jornada inferior a 40 horas semanais e que gostaria de trabalhar por mais tempo.
No trimestre até outubro, o número de subocupados foi de 5,4 milhões, um acréscimo de 5,6% (ou 287 mil a mais) ante o período finalizado em julho (quase 5,2 milhões).
Segundo Imaizumi, a alta pode refletir a volta ao mercado de profissionais que estavam com dificuldades para encontrar trabalho anteriormente.
“O mercado vem conseguindo absorver até as pessoas com menos qualificação. Estamos observando uma redução no desemprego de longo prazo”, diz.
“Essas pessoas não conseguem entrar da melhor maneira possível no mercado. Pode ter efeito de colheitas, trabalho intermitente, final de ano com Black Friday e Natal, eventos que estão acontecendo em São Paulo e em outros locais”, completa.
Brasil tem 8,3 milhões de desempregados – O IBGE também informou que a população desempregada no Brasil recuou para 8,3 milhões no trimestre até outubro. O número era de 8,5 milhões nos três meses anteriores.
A população considerada desempregada pelas estatísticas oficiais envolve pessoas de 14 anos ou mais que estão sem ocupação e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse contingente.
No trimestre até setembro, que integra outra série da pesquisa, a taxa de desemprego já marcava 7,7%. O número de desocupados estava em 8,3 milhões no mesmo intervalo.
Embora a população ocupada tenha alcançado a máxima de 100,2 milhões, o nível de ocupação ainda não renovou o recorde da série histórica. O indicador foi estimado em 57,2% até outubro.
A máxima da Pnad (58,4%) ocorreu nos três meses encerrados em outubro de 2012. O nível de ocupação corresponde ao percentual de pessoas ocupadas em relação à população de 14 anos ou mais.
Ocupação tem impulso de vagas formais – A Pnad abrange tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal. Ou seja, avalia desde os empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.
De acordo com o IBGE, o impulso à ocupação no trimestre até outubro veio das vagas formais. O órgão destacou que o número de empregados com carteira no setor privado chegou a 37,6 milhões.
Isso representa uma alta de 1,7% (mais 620 mil) na comparação com julho. Também significa o maior patamar de empregados com carteira na série comparável da Pnad.
Considerando as três diferentes séries da pesquisa, um contingente mais elevado só foi registrado no intervalo até junho de 2014 (37,8 milhões).
Renda média sobe, e massa salarial renova recorde – A renda média dos trabalhadores ocupados foi estimada em R$ 2.999, por mês, no intervalo encerrado em outubro de 2023. Com a marca, cresceu 1,7% em relação ao trimestre até julho (R$ 2.950).
Já a massa salarial alcançou novo recorde: R$ 295,7 bilhões. O crescimento foi de 2,6% frente ao trimestre anterior (R$ 288,4 bilhões). A massa representa a soma dos rendimentos obtidos com o trabalho.
Segundo o IBGE, o crescimento pode ser associado à ampliação do número de ocupados no geral e ao aumento das vagas formais, que costumam pagar mais na média.
“A força que o mercado de trabalho vem mostrando ao longo do ano é reflexo dos dados de atividade econômica, que vieram mais fortes que o esperado no primeiro semestre”, afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
“Acreditamos que a economia vai desacelerar à frente, mas esse movimento não deve fazer a taxa de desemprego subir de maneira significativa”, acrescentou. O C6 prevê que o indicador fique praticamente estável, em torno de 8% até o fim de 2024.
Para Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o mercado de trabalho continua em “trajetória benigna”, o que inclui redução do desemprego, rendimento em alta e informalidade “sob controle”.
Conforme o IBGE, a taxa de informalidade foi de 39,1% até outubro. O indicador, que mostra o percentual de ocupados sem carteira ou CNPJ, está abaixo do pré-pandemia. O recorde da série comparável (40,9%) ocorreu no trimestre até julho de 2019.