O final do ano letivo marca uma etapa de transição para milhares de estudantes no Brasil. Isso porque muitos vão passar do 5º para o 6º do Ensino Fundamental, enquanto outros vão entrar no 1º ano do Ensino Médio. Por mais que pareça apenas uma nova fase que se inicia, pode ser marcada por muitas dúvidas, angústias, insegurança e dificuldades no ensino, devido às mudanças enfrentadas pelos alunos entre uma etapa e outra da vida na escola. Novos professores e disciplinas ou até mesmo troca de escola pode resultar em queda no rendimento escolar.
Prova disso são os números apresentados no Censo Escolar 2022 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação. A taxa de aprovação de estudantes cai nestes momentos de transição. Em todo o país, consideradas as redes pública e privada, no 5º ano do Ensino Fundamental o índice foi de 94,2%, mas caiu para 92,4% no 6º ano.
A diferença é ainda maior quando se comparam o último ano do Ensino Fundamental II e o primeiro ano do Ensino Médio. O índice de aprovação no 9º ano ficou em 92,9%, mas caiu para 85,1% no início da próxima etapa de ensino.
Responsabilidade e adolescência – Na opinião da pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo, de Curitiba, Carolina Paschoal, esses números refletem como as novidades tanto na vida quanto nas estruturas de ensino podem afetar o aprendizado de uma criança ou adolescente. Ela lembra que a fase de dez aos 18 anos é um momento que vai da entrada na adolescência até a transição para a vida adulta, ou seja, de profundas ressignificações e descobertas.
“A mudança na quantidade de responsabilidade para um aluno seja na escola ou na vida particular sem dúvida pode impactar nos estudos, junto a toda a alteração emocional e física nesta etapa da vida. Dificuldade em concentração, na compreensão de alguns conteúdos e disciplinas ou mesmo na interação dentro da escola são sintomas de algo maior que precisa ser acompanhado de perto, seja pelos responsáveis, professores e equipe educacional, caso seja necessário”, afirma.
A pedagoga lembra que entre o Ensino Fundamental I (Anos Iniciais) e o Ensino Fundamental II (Anos Finais), o estudante experimenta novos conteúdos. Além disso, na primeira etapa, eles têm contato, na maior parte do tempo, com os professores regentes e especialistas de língua estrangeira, Arte, Educação Física entre outras atividades extracurriculares oferecidas pelas escolas em que estudam, o que difere do segmento de 6º a 9º ano, quando para cada componente curricular existe um docente. No caso do Ensino Fundamental para o Médio, a mudança ocorre pelo acréscimo de novas disciplinas e itinerários formativos, além de responsabilidades externas, quando muitos estudantes começam a fazer estágios através do programa de menor aprendiz. “O sentimento dos estudantes pode ser de insegurança para enfrentar o que é novo”, comenta.
Acolhimento e empatia são fundamentais – Para que o impacto dessas mudanças para os alunos seja minimizado, o ambiente escolar precisa, na opinião da pedagoga, dar suporte emocional aos alunos, não apenas nos anos de transição, mas em todo o período em que estudarem. Na Escola Pedro Apóstolo, por exemplo, os estudantes possuem uma disciplina no currículo focada em falar sobre as emoções das crianças e adolescentes: é o Laboratório Inteligência de Vida (LIV).
Neste componente extracurricular, os estudantes têm aulas com acesso a assembleias, histórias, vídeos para trabalhar e expor suas emoções nas atividades, além de interagir de forma construtiva com os colegas. “Mostramos caminhos para que os estudantes possam reconhecer suas emoções, aprender a falar sobre elas com os colegas e compartilhá-las com a família para melhorar as relações interpessoais. Quando eles sabem o que sentem, têm mais facilidade para expor, o que abre possibilidade de ajuda”, diz a pedagoga.
Desta forma, esse tipo de vivência pode ser importante para os estudantes entenderem o seu momento e a mudança que acontece de um período para outro no ensino. “Eles têm ferramentas para se conhecer como seres humanos e como alunos da instituição, saber que todos tem seu tempo, cada um com sua forma de adaptação, e que podem contar com o apoio dos colegas, da equipe escolar e dos pais para qualquer desafio que precisem enfrentar”, afirma.