O Tênis, modalidade Olímpica, e sonho de muitos jovens vir a ser um novo Guga, parece cada dia mais distante. Entrevistamos o professor Nicolas Santos, que já esteve no top do ranking da International Tennis Federation – ITF, tendo sido o segundo melhor do mundo como júnior> Infelizmente, como acontece com a maioria dos juvenis, sofreu com a transição para o profissionalismo. Ele nos conceituará sobre o enorme abismo, ainda existente, entre o juvenil e o profissionalismo, no Brasil. A metodologia da entrevista será usar o P para as perguntas e o R para as respostas.
P1: Nicolas como você iniciou sua pratica no Tênis?
R: Eu sou de uma cidade do interior de SP, chamada Adamantina, meu pai era responsável pelo restaurante do Tênis Clube, e durante alguns anos passei minha infância mergulhado neste clube, praticando todos os esportes. Meu contato com o Tênis se deu aos 5 anos de idade, onde comecei brincando de
Pegar bola, nas aulas do professor Paulo Casca, até que ele pediu para meu pai comprar uma raquete, e aos 6 anos comecei a jogar e nunca mais parei.
P2: Nicolas: Por favor pode descrever um pouco de sua trajetória como atleta internacional? Você defendeu o Brasil em Jogos Sul americanos, Copa Davis, Rolland Garros? Quais principais torneios que você disputou?
R: Através do Tênis conheci mais de 30 países mundo afora, e joguei 3 Grand Slams Juniors, até 18 anos de idade, sendo eles: Roland Garros; Wimbledon e Us Open. Foram momentos inesquecíveis, pois convivi de perto, com vários atletas como Nadal, Federer e Djocovic. Para quem saiu de uma pequena cidade, como eu, imaginem o orgulho!!! Tive experiências incríveis, jogando torneios em países exóticos, como Nigéria, Tunísia e Turquia, entre outros. Defendi o Brasil em Jogos Sul-Americanos, e me sagrei campeão, dos Jogos, no ano de 2006, jogos esses disputados em Buenos Aires, capital da Argentina. Participei da Copa Davis, em 2007, na belíssima Florianópolis, em acirrada partida entre Brasil X Canadá. Fui convidado a treinar com o time, e convivi uma semana entre treino e jantares com o time Brasileiro, que na época contava com meu grande ídolo no Tênis, Gustavo Kuerten, nosso Guga.
P3: Nicolas, em seu início você tinha patrocinador? Os jovens atletas têm patrocinadores?
R: Acho que essa é a grande dificuldade da maioria dos jovens iniciantes, pois quando começam a jogar Tênis competitivo, no Brasil, enfrentam uma notória falta de patrocínio e apoio. Sou de uma família do interior, sem tantos recursos para que eu pudesse competir, porém meus pais sempre fizeram de tudo para que eu pudesse ir atras dos meus sonhos, e durante minha carreira tive algumas pessoas que sempre me ajudaram também. Cabe lembrar um conterrâneo, Edgar Laureano da Cunha Jr, o Diga. Mas, ainda sinto falta de apoio, e de mais estrutura para todos os esportistas nesse país, tão imenso e com tanto potencial.
P4: Nicolas conte-nos por favor, como foram suas vitórias no Eddie Herr e no Orange Bowl?
R: Foi no ano de 2006, antes desses dois torneios eu era número 4 do ranking mundial juvenil, lembrando, até 18 anos, e consegui ganhar o torneio Eddie Herr – USA, e na sequência fui vice campeão em um dos torneios mais importantes do mundo, no juvenil, o Orange Bowl, com essas vitórias terminei o ano na segunda colocação mundial, feito inédito para um jovem brasileiro saído do interior. Foram 21 jogos em 13 dias, contando simples e duplas, confesso, joguei um nível de Tênis incrível.
P5: Nicolas conte-nos, por obséquio, sua passagem com o Guga, e por curiosidade, diga-nos como você conheceu o Braguinha (Antônio Carlos de Almeida Braga, mecenas de Guga e Senna), mecenas do esporte brasileiro?
R: Como já mencionei acima, passei uma semana treinando com a equipe Brasileira da Copa Davis e Guga era um dos jogadores, e para meu orgulho, meu ídolo sempre me requisitava para treinar com ele, também jantamos várias vezes, e o que mais me emocionou, no contato com o Guga, além de ser um dos melhores do mundo, top one várias vezes, foi a sua humildade com os mais jovens como eu, sempre nos tratou muito bem, além de dar várias dicas valiosíssimas para a minha carreira. Quando tive o prazer em conhecer o Braguinha foi em um torneio juvenil, na cidade de Miami – USA, onde estava jogando a final, e ele assistia ao jogo, quando finalizou, fui chamado pelo seu assessor, e apresentado a ele, uma pessoa muito simpática, ao me cumprimentar, encheu minha mão com vários dólares. como prêmio pelo meu esforço no jogo. Lembro que fiquei sem reação, pois não esperava isso, risos.
P6: Nicolas por favor explique-nos porque a passagem dos Juniores para o profissional é tão complicada no Brasil?
R: Acredito ser vários fatores, como o geográfico, por exemplo. Isso nos atrapalha um pouco, pois quando termina o período de juvenil, necessitamos viajar para vários países, disputar torneios de pontos, e a maioria dessas nações são distantes, em outros continentes, e para viajar, necessitamos de logística, além do apoio financeiro, o que é muito difícil. Comparando com os europeus, eles conseguem jogar uma semana direto, e se perderem pegam um trem e voltam para suas casas, e seguem treinando com suas equipes, enquanto nós temos que pagar hotel, na maioria das vezes viajamos sozinhos sem o treinador, porque o custo é altíssimo, e ao irmos para uma turnê pela Europa, por exemplo, devemos permanecer por lá, no mínimo 6 semanas, para compensar a parte financeira. Tem ainda a questão cultural no Brasil, pois quando o jogador deixa de ser juvenil e não consegue os mesmos resultados no primeiro ano, começam a não acreditar tanto nele, assim passa mais um ano, e os resultados seguem os mesmos, ele provavelmente desistirá de jogar, em vez de seguir tentando, como fazem nossos vizinhos, los hermanos argentinos, por isso eles tem muito mais jogadores no top 100, que nós, lembrando a diferença econômica e populacional.
P7: Nicolas, hoje você é um técnico vencedor, seus atletas começam a ganhar torneios internacionais, o que você pode recomendar aos jovens que queiram seguir sua vencedora carreira?
R: Eu parei de jogar profissional no ano de 2018, e logo em seguida já comecei minha carreira como treinador, pois era algo que sempre tive vontade. Hoje sou proprietário de um Centro de Treinamento, na cidade de São Carlos – SP (CT Nicolas Santos), e trabalho com diversos atletas que jogam profissionalmente, além de atletas juvenis. Esse foi meu primeiro ano com o CT Nicolas Santos, e está sendo uma experiência única, pois tenho uma equipe multidisciplinar incrível trabalhando comigo, bem como um grupo de atletas treinando diária e exaustivamente, para conseguir seus objetivos. Acredito que para qualquer pessoa ter sucesso na vida, precisa amar o que faz, além de trabalhar muito, com inteligência para ir alcançando seus objetivos.
P8: Para finalizar esta entrevista, Nicolas, você poderia tecer suas considerações finais sobre o esporte, em particular o Tênis no Brasil?
R: Queria agradecer o espaço aberto para eu falar um pouco na minha carreira e do Tênis um esporte que amo tanto. Acredito que junto com a educação o esporte é a maior ferramenta de transformação no nosso país!
O Tênis brasileiro passa por um momento muito bom com a Bia Haddad atual número 11 do ranking mundial, e com o João fonseca, que deverá terminar o ano como número 1 no ranking mundial juvenil, entre outros atletas que se destacaram no ano de 2023.Temos que aproveitar esse momento para seguirmos tendo visibilidade nos torneios, e com isso vamos criando espaços para todos que queiram seguir essa gratificante carreira de tenista profissional.
Com essas palavras, finalizamos as perguntas e tivemos o prazer de entrevistar um atleta vencedor no difícil mundo do Tênis mundial, jovem jogador que iniciou na cidade de Adamantina, no interior do Estado de São Paulo (onde esse colunista cresceu), demonstrando que sonhos são factíveis, as dificuldades existem, porém, a resiliência e a determinação são fatores preponderantes para todos os que queiram alcançar um papel na sociedade e contribuir para com a mesma, seja no Esporte ou no trabalho.
Como bem disse Paulo Freire:
– A Educação necessita de sonhos e utopias…
Mesmo em nosso país tão desigual como nosso amado Brasil, e cuja atenção para a formação de base de atletas, em geral, quase nunca haver sido contemplada, poderemos chegar a trilhar caminhos da redução da vulnerabilidade social e da formação pelo Esporte, além de nos tornarmos uma potência olímpica, para tanto necessitamos de uma política para o Esporte que vá além de contemplar os apaniguados nas secretarias e no Ministério do Esporte.