REINALDO SILVA
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“Minha experiência do Natal quando era criança foi muito bonita. Participava da novena e não queria que terminasse, queria que continuasse, porque era tão bom me reunir com todo mundo, cantar, contar histórias.”
As lembranças do bispo diocesano de Paranavaí, dom Mário Spaki, vêm de Irati (distante aproximadamente 150 quilômetros de Curitiba), cidade onde cresceu e aprendeu a professar a fé católica. “Quando ia escurecendo, na comunidade do interior a gente ainda não tinha energia elétrica na rua, andava para a casa dos vizinhos para celebrar a novena. São coisas que ninguém tira.”
As memórias de dom Mário Spaki foram construídas no seio familiar. Com a família, descobriu que o Natal é uma experiência comunitária: ir à igreja, cantar junto, rezar junto e voltar fortalecido.
É uma das principais celebrações da Igreja Católica (a outra, a Páscoa) e requer um tempo de preparação, chamado de Advento, dividido em duas partes – a primeira até o dia 16 de dezembro, quando se fala da segunda vinda de Cristo, e a segunda até o dia 25 de dezembro, que se concentra sobre o Cristo que já veio.
Natal é nascimento. “Um momento muito especial, porque nos traz o Menino Jesus. Ele suscita ternura, proximidade, carinho, mostra um Deus que se fez próximo, amigo, um de nós,” diz dom Mário Spaki.
É tempo de celebrar. As luzes enfeitam casas, empresas e espaços públicos; iluminam a caminhada de quem faz do Natal renovação. Para além da espiritualidade, há que se considerar o aspecto festivo. “No comércio se usa a expressão ‘a magia do Natal’, porque é esse clima, essa realidade que encanta, as pessoas se sentem envolvidas pela poesia, pelo ambiente.”
A magia do Natal, da qual o bispo fala, vem acompanhada de uma figura emblemática, porém sem características religiosas. Papai Noel simboliza o presente, demonstração de carinho e apreço. E não há que se pensar em competição. O Menino Jesus e o Bom Velhinho dividem espaço de forma saudável na vida das pessoas.
“Essa realidade convive. A gente não pode querer ter um puritanismo. Até cresce hoje na sociedade uma tentativa de voltar ao passado em que as coisas eram mais claras, mas, não, o mundo vai para frente, não para trás. Não vamos brigar com o Papai Noel, não vamos brigar com o Coelho da Páscoa, não vamos criar caso com o Carnaval. A Igreja faz a parte dela e toca em frente.”
Tocar em frente significa adaptar e apresentar motivos para fazer da experiência religiosa algo inesquecível. Diante do ritmo acelerado do dia a dia, com as redes sociais invadindo a rotina, “temos que produzir coisas que envolvam as crianças, os adolescentes, os jovens. A Igreja está passando por remodelamento constantemente”.
Os acampamentos dão a dimensão do que é possível oferecer para adolescentes e jovens como atrativos para seguirem na caminhada da fé. Dom Mário Spaki relata um episódio que ilustra a importância desses encontros para os participantes: recentemente, durante um desafio, a menina se machucou e precisou de atendimento médico, mas mesmo sentindo dores no pé decidiu voltar e ficar até o fim. “Olha a pegada que tem. Sempre tem coisas novas que o Espírito Santo vai suscitando.”
Presépio – O bispo apresenta imagens do Menino Jesus feitas de gesso e presenteia a equipe do Diário do Noroeste com dois exemplares. Agradecemos.
As forminhas vieram da Itália e moldaram 50 mil unidades distribuídas para as paróquias da diocese. Deu trabalho, mas o resultado foi positivo. “As pessoas foram participando da novena de Natal com a imagem do Menino Jesus. E as crianças? É bonito ver as crianças.” Tem até uma dinâmica para incentivar a participação delas na missa que antecede o Natal, no dia 24 de dezembro. Os padres pediram que criassem bercinhos para abrigar a imagem do Menino Jesus. O único critério é usar a criatividade.
A figura do recém-nascido compõe o cenário do presépio. É uma representação do episódio em que os pais de Jesus, Maria e José, se acomodaram em uma manjedoura para o nascimento do filho. A demonstração de humildade naquela situação marcaria a história de Cristo por toda a vida.
A história do presépio começou há exatamente 800 anos, na cidade de Greccio, Itália. Frei Francisco de Assis reuniu um grupo para ajudá-lo a criar uma representação da noite de Natal. “Foi algo tão marcante, que as pessoas voltaram para casa dizendo ‘nós nos sentimos ali, juntos de Jesus’. Neste ano, no dia 23 de dezembro, o primeiro presépio completa oito séculos”, conta dom Mário Spaki.
Em 1223, São Francisco de Assis montou o presépio em uma gruta para relembrar ao povo a natividade de Jesus. No Brasil, a cena foi apresentada pela primeira vez aos índios e colonos portugueses em 1552, por iniciativa do padre José de Anchieta.
Conforme a tradição católica, o presépio deve ser montado no primeiro domingo do Advento e retirado no dia 6 de janeiro.
Mensagem – Dom Mário Spaki faz um convite para toda a comunidade: “Que se dê destaque à vida de família no Natal. Não só pela celebração, que já é muito bonita. As crianças e os jovens precisam sentir a família. Isso não é algo acessório. É essencial para a vida humana”.
Ao final, o bispo dirigiu mensagem ao Diário do Noroeste e agradeceu pela divulgação de notícias de Paranavaí e região. “A gente tem tantas coisas que chegam de fora, ‘enlatadas’, mas é tão bom quando tem gente levantando informações locais e fornecendo isso para a sociedade.”