(44) 3421-4050 / (44) 99177-4050

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Compartilhe:

REFLEXÃO

Viramos escravos das redes sociais?

*Lucas Franco Freire

A presença de celulares se tornou certa em momentos marcantes, sejam eles as primeiras palavras de um bebê ou shows de grandes artistas. Ela substitui o real aproveitamento do presente em prol de marcar a lembrança no digital ou angariar interações nas redes sociais. O celular funciona como uma janela para o paradoxo contemporâneo: a busca pela experiência autêntica e o impulso de mediar essa experiência através da tecnologia.

Pensemos no esforço e no custo que cada pessoa investiu para ser testemunha de um espetáculo, por exemplo. Para muitos, pode ter sido o culminar de um sonho, um item riscado da lista de desejos, uma aventura planejada com antecedência e expectativa. Vídeos e mais vídeos circulam na internet das enormes plateias, sempre segurando algum dispositivo no alto para capturar todos os detalhes.

As pessoas estão ali, mas, ao mesmo tempo, não estão; física e financeiramente presentes, mas psicológica e emocionalmente em algum lugar entre o aqui e o agora e o mundo digital onde sua experiência será compartilhada. Esta cena reflete uma nova forma de consumo: consumir para produzir conteúdo, onde o valor da experiência é, em parte, determinado pela sua capacidade de ser compartilhada e apreciada virtualmente. É “instagramável”? Essa se tornou a nova medida de interesse da vida.

A tela hoje já não é um hábito, é um vício, e tem todas as consequências que um vício traz. Ou seja, constrói uma relação de dependência que cria um ciclo nocivo, e é isso que observamos com os algoritmos de alguns aplicativos: as pessoas são capturadas no âmbito neurológico e as recompensas oferecidas – geralmente picos de dopamina associados a novos likes, comentários e compartilhamentos – fazem com que entrem nesse loop contínuo, que muitas vezes causa prejuízos físicos, psicológicos e cognitivos.

O que hoje chamam de demência digital é o principal sintoma disso. Grupos vulneráveis como crianças e adolescentes sofrem especialmente, já que têm seus cérebros e funções cognitivas ainda em desenvolvimento, capturados desde cedo pelas recompensas e os gatilhos neurológicos que as redes sociais e os artefatos digitais trazem.

Nos tornamos “neuro-escravizados”, não porque somos forçados por algum mestre externo, mas porque nossas próprias redes neurais foram recondicionadas para ansiar pela dopamina que só o algoritmo traz. O momento presente, rico em potencial para experiência do Play, da leveza do dia a dia, começou a perder sua cor para a tela brilhante do conteúdo digital.

Os neuro-escravizados, embora fisicamente presentes, tornaram-se cada vez mais ausentes. O zumbido suave dos smartphones e o brilho de notificações emergentes se tornaram o coro de fundo de suas existências. Viver o momento foi substituído por um desejo insaciável de documentar, de produzir conteúdo, de criar uma narrativa editada de suas vidas para o consumo público.

Nosso apelo agora deve ser para que o celular seja deixado de lado nos momentos importantes da vida para podermos valorizar novamente o que é físico e real.

Compartilhe: