REINALDO SILVA
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Os produtores de mandioca pedem socorro. Querem ser incluídos no programa de renegociação de dívidas do crédito rural lançado pelo Governo Federal, que beneficia 16 estados brasileiros. No Paraná, estão contempladas as cadeias de soja, milho e bovinocultura de leite.
A Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam) e o Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (Simp) formalizaram o pedido junto ao Ministério da Agricultura.
A preocupação se deve principalmente à baixa rentabilidade da produção de mandioca. De acordo com João Eduardo Pasquini, presidente do Simp e diretor da Abam, o excesso de oferta empurrou os preços da raiz para baixo, sem qualquer compensação para os altos custos da atividade agrícola.
“O cenário é desafiador. O produtor tem ficado no prejuízo. A mão de obra é escassa, os preços do arrendamento estão elevados. O produtor está com dificuldades para honrar suas dívidas.”
APOIO POLÍTICO
Esta semana, os vereadores de Paranavaí aprovaram o requerimento 22/2024, de autoria de Josival Moreira, endereçado ao prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (Delegado KIQ). Trata-se de um pedido de apoio ao chefe do Executivo, que solicite a intervenção do deputado federal Zeca Dirceu junto ao Ministério da Agricultura, “para que seja incluído o setor de mandiocultura no Programa Federal de Renegociação de Dívidas Agrícolas”.
Ao defender a proposição, Moreira estimou que os produtores estão amargando perdas de R$ 10 mil por alqueire. “Se não estão conseguindo pagar a renda, levando prejuízo de R$ 10 mil por alqueire, como vão pagar o financiamento de maquinários?”
O presidente do Simp avaliou a participação do vereador nesse debate como positiva e disse que quanto mais pessoas e entidades estiverem envolvidas, maiores serão as chances de terem a reivindicação atendida.
O deputado federal Tião Medeiros, que presidiu a Comissão de Agricultura na Câmara dos Deputados, lamentou o fato de não ter sido procurado para somar forças na reivindicação. Disse que mantém bom relacionamento com o ministro Carlos Henrique Baqueta Fávaro e poderia ter solicitado a inclusão dos mandiocultores no programa de renegociação de dívidas.
De qualquer forma, Medeiros se colocou à disposição para ajudar no que for preciso, mas ponderou que pode ser difícil haver mudanças com o programa já em andamento.
CENÁRIO ATUAL
João Eduardo Pasquini explicou que a cadeia produtiva da mandioca passa por oscilações constantes, com períodos positivos e outros negativos.
Quando os preços aos produtores sobem, a tendência é que aumentem a área de plantio. O resultado nas safras seguintes é o excesso de raiz para abastecer o mercado, provocando queda nos valores e, consequentemente, na rentabilidade. Esse comportamento motiva muitos a deixarem a atividade ou reduzirem as lavouras, e mais uma vez a oferta diminui e os preços voltam a subir.
Neste momento, disse Pasquini, o cenário é de excesso de produção – tanto no campo quanto na indústria. Com isso, o rendimento está abaixo do esperado. Ao mesmo tempo, os preços ao consumidor final se mostram atrativos.
Conforme avaliação do vereador Josival Moreira, se não houver mudança na situação, o próximo ano será de dificuldades. “Com preço baixo, o pessoal não vai arrancar mandioca de um ciclo só. Vai pesar lá na frente. Vai ter muita mandioca, e vocês sabem que a lei da oferta é o que faz o preço.”
Segundo o parlamentar, a crise será sentida em Paranavaí, nos demais municípios do Noroeste do Paraná com produção de mandioca e em todo o Paraná.
O volume da produção de raiz paranaense ocupa a segunda posição no Brasil, atrás apenas do Pará. Em relação à produção de fécula, o Paraná está no topo do ranking nacional, respondendo por aproximadamente 70% do total.
SOLUÇÃO
O presidente do Simp afirmou que a mudança de comportamento dos mandiocultores é essencial para conter a instabilidade. “O produtor deveria ter controle melhor do plantio para manter o equilíbrio da cadeia produtiva. Precisa ser mais consciente.”
Exemplificou: “Quando ganha bem com 30 alqueires, pensa em plantar 100”. Não há problema em elevar a área de plantio, mas a decisão deve ser tomada de maneira organizada, sem exageros.
RENEGOCIAÇÃO
O programa de renegociação lançado pelo Governo Federal é voltado a produtores de estados afetados por eventos climáticos ou pela queda de preços agrícolas. Os pedidos precisam ser feitos até 31 de maio.
A medida foi necessária porque, na safra 2023/2024, o comportamento climático nas principais regiões produtoras afetou negativamente algumas lavouras, reduzindo a produtividade em localidades específicas das regiões Sul e Centro-Oeste e do estado de São Paulo.
As instituições financeiras poderão renegociar, a seu critério, até 100% do valor principal das parcelas com vencimento entre 2 de janeiro e 30 de dezembro deste ano. As linhas de crédito precisam ter sido contratadas até 30 de dezembro do ano passado, e o tomador tem que precisa estar em dia com as parcelas.