EU SOU O BOM PASTOR – JO 10,11-18.
A origem do Povo de Deus, na Bíblia tem suas raízes nas histórias dos patriarcas: Abrão, Isac e Jacó. Apesar das releituras que a Bíblia faz deles, em vários períodos históricos, pode-se constatar pelos nomes, locais descritos nos textos, a existência deles.
Eles se localizariam nas estepes (desertos), apesar de serem econômica, social e politicamente insignificantes, para a Bíblia o Deserto ganha uma significância, porque no olhar bíblico, são os fracos o significante. A estepe é o cenário de Ex.16 até Dt.34, da maior parte do Pentateuco. Uma das festas populares mais substanciosas do povo de Israel, a páscoa, é em sua origem e durante muitos séculos, um rito dos pastores das Estepes. Há profetas que chegam a anunciar um retorno às estepes (Os.2,14-16). E no início do evangelho Marcos, a simbologia do deserto é marcante: de lá vem Jesus.
Os Patriarcas não vivem nas cidades, nem são camponeses, nem estão submetidos às vilas. De que vivem estes Patriarcas?
Esta pergunta o faraó dirige aos irmãos de José ao ingressarem no Egito. Em resposta os filhos de Jacó se identificam como “Pastores de gado pequeno” (ovelhas e cabras). (Gn.47,3) Outros textos mostram isto: (Gn29ss. ; 13; 15,9s.;21,28ss.)
Não viveram em casas. Não foram sedentários. São nômades, ou melhor, seminômades. Vivem em “tendas”: (Gn.13,5.8; 18,1ss.; 24,67) e “armam tendas”: (Gn.12,8; 13,12; 26,25).
O nomadismo das estepes está sujeito às condições climáticas. A vida pastoril nas estepes é marcada por um ritmo de inverno e verão, chuva e seca. Durante o período de chuvas há pasto e água à vontade no cinturão das estepes. Nesta época do ano, as migrações podem distanciar-se das terras cultiváveis. Já no verão o processo é inverso. Pasto e água exigem uma aproximação dos pastores das terras cultiváveis e dos poços. Este contínuo processo migratório decorrente dos períodos de chuva e de seca, chama-se de TRANSUMÂNCIA. Às vezes as migrações se dão por intrigas na família (Gn.13,1ss; 27ss.) desavenças entre pessoas (Gn.12,20; 13,1ss) e por períodos de fome. Quando os problemas de seca prolongada, de escassez e fome, é necessário percorrer distâncias maiores, diferente das migrações sazonais. A fome leva Abrão ao Egito (Gn.12,10) Isac a Gerar (Gn.26,1), Jacó ao Egito (Gn.41,53ss 43,1; 47,4) estes grandes deslocamentos chamam-se TRANSMIGRAÇÕES. A situação climática e opressão política causam por exemplo a ida dos patriarcas para o Egito, quanto a vinda de Abrão da Mesopotâmia para Canaã (Gn.11,30).
Quando olhamos o modo que os escritos bíblicos revelam como Deus se relaciona com os patriarcas, as experiências que foram sintetizadas: “O Deus de… Abrão, Isac e Jacó” está vinculado às pessoas. Não está vinculado a algum lugar da natureza, ou templo. Sua identidade reside em seu relacionamento direto e imediato com pessoas. O Deus dos pais é: DEUS PESSOAL. Deus é tão pessoal que sua proximidade pode ser qualificada com atributos das relações interpessoais. (Deus de Abraão…). Portanto, no inicio da história da Revelação, está a experiência com Deus pessoal.
Davi que era Pastor de ovelhas, filho de pastores, que seria reconhecido como: Rei Pastor, afirmou no Sl 23\22: “O Senhor é o meu Pastor!”. (Sl 23,1) Embora sendo pastor afirma cheio de orgulho, devoção e admiração, como ovelha, como se gabando: “vejam que é o Meu Pastor – meu dono – meu administrador?” “O Senhor”.
Cristo no calvário demonstrou o profundo desejo do seu coração de tomar os homens sob seus cuidados: “todos andávamos desgarrados como ovelhas sem pastor, cada um desviava pelo caminho, mas O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos”. (Is 53,6). Eu pertenço a Ele porque me comprou de novo e a um preço altíssimo. Portanto ele estava capacitado a dizer: “Eu Sou o bom Pastor! O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”.
O Pastor tem um relacionamento pessoal com suas ovelhas, assim como o Pai conhece Jesus, assim o Pastor conhece suas ovelhas. Conhece-as pelo nome, elas reconhecem sua voz. (Jo 10,14-15). Adão dava nomes aos animais (Gn 2,19-20), nome de espécie; o Pastor de João dá nomes individuais, pessoais: “Chamei-te por teu nome, tu és meu”. (Is 43,1; cf. 43,25).
A Igreja aprende de Jesus: o acolhimento, a misericórdia, a samaritaneidade, o serviço humilde, a saída e busca dos extraviados e perdidos e por isso às vezes está suja, ferida e com o cheiro das ovelhas.
Eu conheço o meu Pastor, pertenço ao seu rebanho, me coloco sob seus cuidados?. “Se o Senhor é meu Pastor nada me faltará!”. Sl 23,1)
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.