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Os “Manecos” da Praça

Renato Benvindo Frata

Por que Manecos? Adaptação brasileira da palavra ‘manequim’ utilizada para as pessoas que desfilam em passarelas, para dizer que lá pelas cinco da matina eles começam a chegar. Uns a pé, outro de carro, mas todos se dirigem aos pontos preferidos para aquecimento e alongamento; ou próximo da cerca-alambrado do parque infantil mal cuidado da Praça dos Pioneiros, e lá esticam as pernas, o tronco, os braços, firmam as panturrilhas, gingam pra cá e pra lá até se darem por aquecidos.

Depois se põem a caminhar ou a correr de leve tomando dois rumos: uns no sentido horário quando aproveitam a breve descida da Rua Luis Spigolon, e outros optam pelo sentido inverso, exatamente para forçar o ritmo no aclive daquela rua.

            Vestem-se com agasalhos de esporte, bermudas ou shorts e as indefectíveis camisetas e sobre elas blusas de meio frio, conforme pede o tempo. Há quem vá de boné, chapéu ou de calva à mostra. Mulheres são vistas com vestuários chamativos, saias-de-crente, calça apertada ou ainda com tapa-bunda. O tênis, sempre, de marca ou não, é o calçado utilizado.

Grupo de quatro ou cinco, grupelhos de dois e três vê-se aos montes, formados espontânea ou ocasionalmente, já que caminhar só é um tédio. Os cumprimentos de “bom dia” se repetem quando se cruzam pela primeira vez nas várias voltas que dão na Praça. E os papos se estendem sobre os mais variados assuntos: a novela da noite, as notícias, sobre os filhos que não estudam e não trabalham, dos agressores de professores, dos rebeldes e tudo o mais que se tem em casa; e também da vida, dos negócios, da política, dos malditos ladrões do dinheiro público, da religião, das crenças, dos costumes e até da troca de receitas. A praça, pois, é o somatório das dores e das glórias de cada um. E assim o dia começa.

Conforme clareia mais gente aparece, enquanto os que haviam chegado antes se vão, esses vêm para, no modo idêntico, iniciar seus movimentos diários. Lá pelas sete, a calçada está bem movimentada e mais lotada por volta das nove quando o pessoal da terceira idade tomará de vez conta dos aparelhos de ginástica, com ou sem acompanhamento de profissionais da área.

O sol esquenta, a hora do almoço chega e a grande maioria já voltou às suas casas, momento que a praça fica praticamente vazia para se tornar a se encher ao entardecer, quando se transforma em “point” da moçada bonita e bem vestida, agora sem a preocupação dos tapa-bundas, e os meninos, sarados e mal-educados que fazem sua estada, a atirar no gramado e sarjetas o depósito de copos, latinhas, garrafas, mesmo que estejam rentes aos cestos de lixo, numa espécie de desejo em “marcar território” como faz o cão vadio à cadela no cio, e ali permanecem até por volta das nove da noite quando certas moçoilas se recolhem ou são recolhidas.

Pois bem, a Praça do Pioneiros é uma grande passarela por onde desfilam diariamente, desde antes do sol nascer e depois que ele se põe, com chuva ou não, “manecas e manecos” de todas as idades e condições sociais com suas variadas formas de beleza; mas desfilam, principalmente, sua dignidade e sua força de vontade.

Há muito, é ponto de encontro de idosos e de novos, numa confraternização quase familiar em que se unem para falar e ouvir enquanto exercitam línguas e corpos, simultaneamente.

Pena que o Poder Público não tenha a sensibilidade para isso e não se preocupe em prover a praça de banheiros decentes, limpos, de calçadas livres das centenas de buracos, das pedras soltas, do lixo espalhado e dos restos de folhas que se acumulam nos canteiros e passarelas. Pena que não se vê amiúde qualquer vigilância que seja contínua e eficaz. Pena que nossa praça, infelizmente, não esteja qualificada como nosso cartão postal.

Talvez o descaso lhe impeça essa visão; e seja hora de se convidar o senhor secretário da pasta responsável pelo setor, para que dê uma volta em seu redor e pelos seus canteiros, e sinta as dificuldades e o perigo a que se expõem os que nela caminham, para deixar de tratá-los como Manés!

…(artigo publicado em novembro de 2011 pelo DN. Vê-se, pois, que o problema continua.)

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