A FAMÍLIA DE DEUS… MC 3,31-35
Jesus virou as expectativas do Reino de perna pro ar.
Ele tinha uma idéia muito diferente sobre o significado do Reino de Deus sobre a terra, e a razão fundamental para isso ERA O FATO DE ELE VER DEUS COM OLHOS DIFERENTES. = Deus não era semelhante a um grande imperador, nem àqueles que dominam o povo fazendo prevalecer a sua autoridade (Mc 10,42 par.). Deus nem mesmo se parecia com um Ditador Benevolente. JESUS EXPERIMENTAVA DEUS COMO UM PAI AMOROSO, COM O SEU ABBÁ.
Por conseguinte, Jesus via o Reino de Deus mais COMO O “REINO” DO PAI AMOROSO, da parábola, que perdoa ao seu filho pródigo de forma incondicional, que rejubila com o regresso do seu filho perdido, sem sequer pensar em castigo ou retribuição, e que não quer ouvir mencionar a vida devassa e o esbanjamento do dinheiro a que o seu filho se entregara. A única coisa que quer é celebrar com a família (Lc 15,11-32).
A COMUNIDADE OU SOCIEDADE que Jesus esperava era mais como UMA FAMÍLIA DE IRMÃOS E IRMÃS, TENDO DEUS COMO UM PAI CHEIO DE AMOR. A imagem que ele tinha do Reino ou domínio de Deus era DE UMA CASA DE FAMÍLIA FELIZ E TRANSBORDANTE DE AMOR, NÃO DE UM IMPÉRIO CONQUISTADOR E OPRESSIVO.
Assim, o Reino de Deus não desceria do alto, mas subiria de baixo, do meio dos pobres, dos pequenos, dos pecadores, dos marginais, dos perdidos das aldeias da Galiléia. Esses se tornariam irmãos e irmãs, preocupando-se uns com os outros, identificando-se e protegendo-se mutuamente, partilhando tudo aquilo que tinham.
Isso não implica que a atitude de Jesus diante da família fosse de algum modo convencional. ESSA FOI OUTRA REALIDADE A QUE JESUS VEIO SUBVERTER. Que poderia haver de mais chocante do que a sua declaração: “Se alguém vem ter comigo e não odeia o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26 ). Claro que o que Jesus queria dizer era “e não me prefere”. Em outras palavras, ninguém pode pertencer ao REINO-FAMÍLIA DE DEUS SE CONTINUAR A PREFERIR A SUA FAMÍLIA CONVENCIONAL.
Nós vemos Jesus fazendo precisamente isso: não dando preferência à sua própria família. Quando é informado de que a mãe e os irmãos vieram à sua procura, replica: “Quem são minha mãe e meus irmãos?” E percorrendo os que estavam sentados à volta dele, disse: “Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,33-35).
Jesus considera a sua própria mãe bendita, não por ela ter sido a sua mãe biológica, mas porque ela “ouve a palavra de Deus e a guarda” (Lc 11,27-28). Jesus quer ultrapassar as limitações da família de sangue ou da família de parentes próximos entrando na família mais alargada do Reino de Deus. Um amor exclusivo à família próxima seria uma forma de egoísmo de grupo.
MAS A NOVA COMUNIDADE É A FAMÍLIA DAQUELES QUE SE AMAM UNS AOS OUTROS. Se o inimigo continua a odiar-nos e a maldizer-nos, essa pessoa continua a excluir-se da nova família de Deus. De fato, os membros da nossa família de sangue poderiam voltar-se contra nós e rejeitar-nos, apesar do amor que nutrimos por eles. É por isso que Jesus pode predizer que a formação uma nova família de Deus poderia dividir e provocar conflitos dentro das nossas famílias de espírito estreito e convencional (Lc 12,51-53)
COMO TODAS AS FAMÍLIAS, A FAMÍIA DE DEUS REÚNE-SE À VOLTA DE UMA MESA PARA TOMAR REFEIÇÕES. Daí a centralidade das refeições na vida de Jesus, A SUA “COMUNIDADE DE MESA”, como por vezes é chamada. O que deriva também é a partilha que caracteriza a vida familiar. Vemo-lo na bolsa comum de Jesus e dos seus discípulos e, mais tarde, na primeira comunidade de Jerusalém (At 2,44-45; 4,32-37). Foi essa forma de entender O REINO COMO FAMÍLIA QUE LEVOU OS PRIMEIROS CRISTÃOS A TRATAREM UNS AOS OUTROS POR IRMÃO E IRMÃ, COISA QUE NENHUM OUTRO GRUPO RELIGIOSO DA ÉPOCA TERIA FEITO A COMUNIDADE OU A FAMÍLIA DE DEUS é como a levedura ou o fermento que já estão em ação no mundo (Mt 13,22 par.). É como uma semente de mostarda que crescerá, transformando-se em algo maior (Mc 4,31-32 par.).
As relações familiares eram muito fortes, mesmo de uma dependência para bem viver. No começo de sua missão Jesus percebe que precisa estar livre para poder anunciar o Reino e falar da misericórdia do Pai. Faz uma ruptura difícil, que deve ter causado incompreensão no meio dos seus parentes. Corta os laços de dependência com a família. E diz claramente que os membros de sua NOVA FAMÍLIA SÃOS OS QUE FAZEM A VONTADE DE DEUS (LC 8,19-21).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.