Cibele Chacon – da redação
Nesta quarta-feira (19), é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro, momento importante de relembrar a trajetória rica da sétima arte produzida por aqui. As produções nacionais têm sido reflexo das transformações sociais, culturais e políticas do país, marcando presença significativa no cenário cinematográfico mundial.
Para além de filmes, também podemos resgatar personagens icônicos que dominaram as telonas e fazem sucesso até hoje. José Mojica Marins, conhecido como Zé do Caixão, trouxe para o cinema um terror psicológico e visceral único, desafiando convenções e explorando temas sombrios com sua persona característica. Seus filmes, como “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), influenciaram gerações de cineastas e estabeleceram um marco no cinema de terror brasileiro.
Por outro lado, Amácio Mazzaropi representou uma abordagem completamente diferente com suas comédias simples e populares, que capturavam a alma do interior do Brasil. Com personagens como o Jeca Tatu, Mazzaropi conquistou o público com seu humor leve e suas histórias que celebravam a simplicidade e a autenticidade do povo brasileiro. Seus filmes foram sucessos de bilheteria e ajudaram a construir uma identidade cinematográfica nacional, refletindo as aspirações e os valores da classe trabalhadora rural.
Nos anos 1960, emergiu o movimento do Cinema Novo, liderado por Glauber Rocha e outros cineastas visionários. Esse momento vivido no país redefiniu a estética cinematográfica brasileira e trouxe à tela temas profundos e controversos, como as questões de identidade nacional, a luta de classes e a opressão cultural. Filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967) se destacaram internacionalmente, estabelecendo o Brasil como um polo de inovação no cinema mundial.
Os anos 1970 e 1980 foram marcados pela explosão das pornochanchadas, um gênero que combinava humor, erotismo e crítica social de forma irreverente e provocativa. Paralelamente, diretoras como Ana Carolina e Suzana Amaral começaram a ganhar espaço, contribuindo para uma maior diversidade de vozes no cinema brasileiro. Ícones populares como Os Trapalhões e Xuxa dominaram as telas, capturando a imaginação e o coração do público brasileiro com seu carisma e originalidade.
A década de 1990 trouxe a “retomada” do cinema brasileiro, impulsionada por políticas de incentivo à cultura e à produção cinematográfica. Filmes como “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) e “O Quatrilho” (1995) revitalizaram a indústria nacional e conquistaram reconhecimento internacional, elevando o padrão de qualidade e autenticidade das produções brasileiras.
Tratando-se de sucesso, “Cidade de Deus” (2002), dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, ganhou destaque ao ser indicado a quatro Oscars e receber inúmeros prêmios ao redor do mundo, pela sua narrativa crua e impactante sobre a vida nas favelas do Rio de Janeiro. Um pouco antes disso, Fernanda Montenegro, também fez história como a primeira atriz brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu desempenho em “Central do Brasil” (1998), dirigido por Walter Salles.
E por falar em destaque do cinema nacional, não dá para deixar de citar a tão famosa Dona Hermínia. Paulo Gustavo nunca será esquecido por levar do teatro para o cinema a criação de “Minha Mãe é Uma Peça”, que ganhou três sequências e a última delas foi a maior bilheteria de um filme nacional da história, com 11,3 milhões de espectadores e lucro de mais de R$ 143,9 milhões.
Reconhecer o papel do cinema nacional é importante na construção da identidade cultural do país e na projeção de suas histórias para o mundo. Que esta data inspire novas narrativas, novas visões e novos sucessos que continuem a enriquecer e diversificar o cenário cinematográfico nacional e global.
Sugestões de filmes para assistir em celebração ao Dia do Cinema Brasileiro:
“Bacurau” (2019): dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, este thriller psicológico ambientado no sertão nordestino combina suspense e crítica social de maneira arrebatadora.
“O Auto da Compadecida” (2000): baseado na obra de Ariano Suassuna, esta comédia dirigida por Guel Arraes é uma celebração do humor nordestino, envolvendo o esperto João Grilo e suas travessuras.
“Jogo de Cena” (2007): dirigido por Eduardo Coutinho, é um documentário que mistura realidade e ficção ao entrevistar mulheres reais e depois convidar atrizes para interpretá-las. A obra desafia as fronteiras do gênero documental ao explorar as diferentes formas de contar histórias e a complexidade das experiências humanas.
“Que horas ela volta?” (2015): dirigido por Anna Muylaert, é um drama brasileiro que aborda questões de classe e relações familiares através da história de uma empregada doméstica e sua relação com a família para a qual trabalha. O longa é aclamado pela crítica por sua profundidade emocional e pelo desempenho marcante da atriz Regina Casé.
“O pagador de promessas?” (1962): dirigido por Anselmo Duarte, é um marco do cinema brasileiro, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1962. O filme adapta a peça teatral de Dias Gomes e narra a jornada de Zé do Burro, interpretado por Leonardo Villar, que carrega uma pesada cruz até uma igreja para cumprir uma promessa. Com uma narrativa poderosa e crítica social envolvente, o filme continua relevante até hoje, explorando temas de fé, superstição e injustiça social no Brasil rural.