A representante do Brasil no salto em altura, em Paris, Valdileia Martins, disputará a final das Olímpiadas no domingo (4), às 14h55. Para chegar até os jogos a competidora, de 34 anos, nascida em Querência do Norte, região Noroeste do Paraná, precisou superar muitos desafios. Competir descalça, treinar com estruturas precárias e a perda do pai foram alguns deles.
Para contar sobre o início de Valdiléia no esporte, o Diário do Noroeste entrevistou Flávio Rodrigues dos Santos, primeiro treinador da competidora.
A atleta olímpica foi descoberta em 2003 na Escola do Campo, assentamento Pontal do Tigre, em Querência do Norte. Na época, o professor tinha um projeto esportivo na instituição de ensino, porém faltava estrutura e materiais adequados para os treinos.
Ele relembrou que utilizava sua criatividade para trabalhar o atletismo com os jovens da escola. Na prova do revezamento uma espiga de milho era usada no lugar do bastão. Já, para Valdileia treinar, a barra foi adaptada com uma vara de pescar e o colchão para cair depois do salto era palha de arroz dentro de sacos de milho.
Flávio afirmou que o maior objetivo do projeto era dar oportunidade de as crianças participarem de competições em outras cidades. “A realidade era muito precária, mas a vontade de fazer acontecer e vencer era maior”.
A primeira participação de Valdileia em competições foi Jogos Escolares do Paraná, em 2003. Na ocasião, a atleta foi campeã saltando sem calçado, pois não tinha condições de comprar sapatilhas adequadas. Sua marca nos jogos foi de 1.46 metros. Outra situação que chamou atenção foi o estilo do salto. Ela usou a técnica tesoura, método que na época já não era utilizado.
Ainda no mesmo ano, Valdileia foi vice-campeã dos Jogos Escolares Brasileiros. Com o apoio da família e de toda a comunidade, a competidora superou as dificuldades e foi para cidades que ofereciam melhores condições.
“Tenho grande orgulho. Você sentir que fez um trabalho que ajudou na vida de pessoas”, falou Flávio sobre o sentimento de ver onde sua ex-aluna chegou.
Atualmente, a saltadora faz parta da Orcampi, uma das principais equipes de atletismo do Brasil. Mesmo depois de 21 anos do seu início, a competidora chegou às Olimpíadas, mas obstáculos não ficaram pelo caminho. No início desta semana seu pai faleceu.
“É um momento difícil, mas vou colocar a cabeça no lugar e saltar”, disse Valdileia ao Diário do Noroeste.