Por Carolina Mainardes, de Ponta Grossa, para o Globo Rural
O agricultor Laércio Dalla Vecchia, que planta culturas de inverno em Mangueirinha, no Sudoeste do Paraná, começa a avaliar as perdas na propriedade depois da geada que atingiu a região na madrugada desta terça-feira (13/8). “Essa é a nossa indústria a céu aberto”, diz, em vídeo publicado no seu perfil do Instagram. Ele mostra que o sensor instalado na plantação registrou a temperatura mínima recorde para o mês de agosto na área: -6,2ºC.
Em entrevista à Globo Rural, Laércio calcula que deve perder 70 hectares de aveia e 70 hectares de linhaça, uma vez que as lavouras ficaram cobertas de gelo. “A gente planta arriscando. Sabemos que a planta suporta temperaturas baixas, mas não igual foi hoje”, avalia.
Conforme o produtor, é normal gear no período, com uma temperatura média entre -1ºC e -2ºC. Porém, como a queda dessa vez foi maior, as plantas que estavam na fase reprodutiva, que é um estágio mais sensível, não devem resistir.
Também são cultivados, num total de 450 hectares de áreas da família, trigo, centeio, ervilha e ervilhaca. O prejuízo maior deve ser com a aveia e a linhaça, que seriam colhidas daqui 30 ou 40 dias. Laércio comenta que o plantio antecipado das culturas é adotado na região porque registra menor incidência de pragas e doenças: “a temperatura mais amena facilita o desenvolvimento dos cultivos”. Agora, o produtor pretende passar um rolo-faca nas lavouras atingidas pela geada, a fim de preparar o solo para o cultivo da soja.
Jones Alberto Maldaner, que integra a diretoria do Sindicato Rural de Mangueirinha, explica que ainda não há um levantamento preciso das perdas causadas pelas geadas que atingiram a região. Pelo conhecimento que tem da área, Jones acredita que as perdas podem chegar a 30% no trigo e a 40% nas demais culturas de inverno na região. “Ainda temos previsão de mais geadas”, adverte.
Na cidade mais fria do Paraná, geada ajuda plantações
Em Palmas, a cidade mais fria do Paraná, na região Sul, a realidade é outra. A geada está favorecendo as plantações. Com mínima de -6,6ºC registrados na madrugada desta terça-feira, por uma das estações meteorológicas instaladas em lavouras da região, o efeito é positivo tendo em vista que as plantas – trigo, aveia e centeio – estão em estágio inicial.
“Aqui na região se planta muito tarde, então as lavouras são beneficiadas. As plantas perfilham mais, onde a geada mata um pé, nascem cinco ou seis na mesma touceira”, explica Ivanir Dalanhol, delegado da presidência no Sindicato Rural de Palmas. Com previsão de colheita das culturas de inverno entre novembro e dezembro, a expectativa segue boa.
O cultivo de maçãs, que totaliza em torno de 300 hectares na região, também deve ser favorecido pela geada. Segundo ele, as árvores estão em dormência no período atual e devem começar a brotar no início de setembro. “A macieira é dependente de frio, por isso esse clima acaba sendo benéfico para o desenvolvimento da planta”, completa Ivanir, que é produtor de maçãs em Palmas.
Segundo boletim do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, referente à semana de 6 a 12 de agosto, “a maior parte do trigo está em florescimento e frutificação, fases suscetíveis a perdas por frio excessivo, porém a cultura não deve sofrer maiores impactos dada a baixa intensidade das geadas. Porém, os produtores continuam em alerta com a previsão de novos eventos nesta semana”.
O boletim informa ainda que também se destaca o uso de cultivares de ciclo longo, que mesmo plantadas mais cedo tendem a ficar suscetíveis à geada fora do período mais frio do ano. Em relação às demais culturas de inverno, o documento informa apenas que os tratos culturais predominam a campo, como a aplicação de inseticidas e fungicidas.
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