REINALDO SILVA
Da Redação
O Noroeste do Paraná tem aproximadamente 52 mil hectares de plantações de milho. Desse total, 3 mil hectares, ou 5%, já são considerados perdidos em razão da estiagem e das constantes oscilações de temperatura. As condições adversas também afetaram outras culturas relevantes para a economia regional, caso da laranja, da pecuária de corte e de leite e, em menor escala, do feijão.
Desde 2019, o estado passa por uma severa crise hídrica, com longos períodos de seca interrompidos esporadicamente por chuvas rápidas e volumosas. O resultado é o desequilíbrio dos lençóis freáticos, o que compromete a qualidade do solo e prejudica lavouras e pastagens.
Em resposta ao Diário do Noroeste, a equipe do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) confirma a gravidade do problema. “Com exceção de abril de 2024, os demais meses registraram chuva abaixo da média, por isso a Região Noroeste enfrenta o fenômeno da seca.” A tabela seguir traduz esse cenário em números e coloca lado a lado o volume de precipitação em cada mês deste ano e a média histórica, que leva em conta os anos de 1998 a 2024.
As bruscas variações entre frio e calor têm efeitos igualmente negativos para a produção no campo. O calendário recente traz exemplos práticos da situação. No dia 11 de agosto, os termômetros marcaram mínima de 6,7°C e máxima de 22,3°C; essa diferença é chamada de amplitude térmica e pôde ser percebida de forma ainda mais intensa no dia 13 de agosto, com registros de 5,5°C até 23,2°C.
PECUÁRIA
Pesquisador do Departamento de Economia Rural (Deral, ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Enio Luiz Debarba avalia o cenário regional.
As mudanças constantes das condições climáticas interrompem o que ele chama de descanso vegetativo das pastagens, como se entrassem em estado de hibernação. Assim, mesmo que haja crescimento, não se desenvolvem de forma plena e não oferecem nutrientes vegetais suficientes para os rebanhos.
A principal consequência é perceptível: a baixa oferta de alimentos acentua a perda de peso dos animais e interfere diretamente na produção. No caso da pecuária leiteira, afirma Debarba, a queda é de 10% a 15%, com possibilidade de alcançar índices ainda mais significativos.
A tentativa de amenizar o problema passa pela suplementação alimentar, o que aumenta os custos de manutenção dos rebanhos e reduz os ganhos do pecuarista.
CITRICULTURA
As plantações de laranja também são duramente afetadas. “A estiagem gera abortamento excessivo das flores e o fruto não consegue se desenvolver, apresenta pouco suco, fica murcho”, explica o pesquisador do Deral.
Os sistemas de irrigação contribuem para manter a sanidade dos pomares, mas não garantem proteção total contra a falta de chuva.
A preocupação de Debarba é que a seca prolongada provoque queda na produção de laranja e comprometa toda a cadeia produtiva citrícola, que enfrenta outro problema, o avanço do greening. Transmitida por um inseto, a doença bacteriana inviabiliza o consumo das laranjas para fins comerciais.
Desde 2022 o setor se mobiliza para tentar conter o greening e evitar a contaminação das árvores cítricas. Recentemente, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) estimou que entre 25% e 30% das plantas da Região Noroeste tenham contraído a doença.
RISCO DE ENDIVIDAMENTO
Ao falar da cultura do milho, Debarba informa que 85% da safra já foi colhida nas lavouras do Noroeste do Paraná, mas as perdas – citadas no início desta matéria – podem levar ao endividamento. O mesmo problema recai sobre produtores de soja e feijão.
O pesquisador do Deral traça uma linha de ações que geram o risco financeiro, começando com o acesso a linhas de crédito em instituições bancárias ou cooperativas. Com as previsões iniciais de gastos frustradas, em razão das despesas excessivas e da baixa produtividade, é necessário buscar novos empréstimos. As dívidas vão se acumulando, especialmente no caso de pequenos agricultores.
A SOLUÇÃO?
Debarba responde que o equilíbrio na distribuição de chuvas é essencial para garantir o bom desempenho das produções agropecuárias. Isso significa que o setor depende exclusivamente das condições do tempo. “É a natureza que resolve, e não sabemos quais serão os movimentos dela na sua totalidade. Vemos as mudanças climáticas sem saber aonde vão.”
Uma das possibilidades de enfrentamento das adversidades é investir em pesquisa. O aprimoramento genético animal e vegetal poderia conferir maior resistência a intempéries como a estiagem e as variações de temperatura. A partir daí, haveria, por exemplo, sementes mais apropriadas a situações de menor umidade como a que assola o Paraná há cinco anos.
O uso racional dos recursos naturais é outro ponto de destaque. Debarba chama a atenção para o consumo desenfreado de água, como acontece quando o morador faz a varrição da calçada com a água da mangueira e não com a vassoura. A questão educacional é essencial para a mudança de comportamento, conclui o pesquisador do Deral.