No início da atividade de Jesus, os quatros evangelhos colocam a figura de João Batista e apresentam-no como seu Precursor. São Lucas antecipou a ligação entre as duas figuras e as respectivas missões, colocando-as na narração da infância de ambos. Já na concepção e no nascimento, Jesus e João são postos em relação entre si.
A história narrada por Lucas explica a Escritura e vice-versa, aquilo que quis dizer a Escritura, em muitos lugares, só agora se torna visível, por meio desta nova história. Trata-se de uma narração que nasce totalmente da Palavra, e, todavia é precisamente ela que dá à Palavra aquele sentido pleno que antes não era ainda reconhecível.
A tradição do Cristianismo primitivo relaciona a atribuição de um Carisma pessoal a Jesus com o Batismo. Esse é um dos dados mais seguros na vida de Jesus. Ele mostra que Jesus aprovou a pregação de João Batista – ou seja, a crença no juízo próximo e a necessidade de conversão e batismo para o perdão dos pecados. Mas existem diferenças entre eles. (Bento XVI).
A primeira leitura (Baruc 5,1-9) mostra Jerusalém como uma esposa abandonada por Javé, seu marido, que deportou para longe seus filhos. Agora, porém é convidada a trocar as roupas de luto e revestir-se para sempre com a glória esplendorosa de Deus. O contraste entre a partida e o retorno é evidente: saíram de Jerusalém a pé como escravos; agora retornam, conduzidos por Deus, transportados em tronos. O cortejo supera de modo extraordinário a saída dos hebreus da escravidão do Egito.
No Evangelho (Lc 3,1-6) Lucas apresenta uma “História oficial” com seus governantes políticos e religiosos. Jesus vai enfrentá-los nos dias de sua paixão. O Caminho de Jesus não passa pela “História Oficial”, não é como o caminho dos grandes, sua missão também não. O Caminho de Jesus inicia-se com João, filho de Zacarias, no deserto. A menção do Deserto é importante para entendermos o caminho de Jesus. O deserto evoca o êxodo, a saída do Egito rumo à nova terra, à forma diferente de viver.
“Preparem o Caminho do Senhor – Lucas quer apresentar João Batista na qualidade de profeta que prepara o Caminho de Jesus. A missão de João é situada no tempo e no espaço (naquele tempo, quando reinava…) e sua pregação se assenta sobre o segundo Isaías (Is 40 – 55), do qual ele cita as palavras: “Preparem o Caminho do Senhor”… “E todo homem verá a salvação de Deus” (v.6) isto mostra que a Salvação é Proposta aberta para todos.
João era de Família sacerdotal rural. Sua língua rude e as imagens que emprega refletem o ambiente camponês de uma aldeia. Em algum momento João rompe com o Templo e com todo o sistema de ritos de purificação e perdão dos pecados a ele vinculados. Não sabemos o que o move a abandonar sua tarefa sacerdotal. Seu comportamento é o de um homem arrebatado pelo Espírito. João anuncia o juízo para todos, mesmo para Israel. Não quer mergulhar o povo no desespero. Pelo contrário, sente-se chamado a convidar todos a dirigir-se ao deserto para viver uma conversão radical, ser purificados nas águas do Jordão e, uma vez recebido o perdão, poder ingressar novamente na terra prometida para acolher a eminente chegada de Deus. João coloca novamente o povo “no deserto” às portas da terra prometida, mas fora dela. A nova libertação de Israel precisa começar ali onde havia começado. O Batista chama as pessoas a situar-se simbolicamente no ponto de partida, antes de cruzar o rio. Assim como aconteceu com a “primeira geração do deserto”, também agora o povo deve escutar a Deus, purificar-se nas águas do Jordão e entrar renovado no país da paz e da salvação. Neste cenário evocador, João aparece como o Profeta que chama à conversão e oferece o batismo para o perdão dos pecados. Os evangelistas recorrem a dois textos da tradição bíblica para apresentar sua figura: João é a voz que grita no deserto: “Preparai o Caminho para o Senhor aplainai suas veredas”. (Is 40,3). Esta é sua tarefa: ajudar o povo a preparar o caminho para Deus que está chegando. Dito em outras palavras, ele é o “Mensageiro” que guia Israel pelo deserto e volta a introduzi-lo na terra prometida. (José Antonio Pagola).
As citações da Escritura de Ex 23,20; Ml 3,1.23; Is 40,3 – são relacionadas à pessoa e pregação do Batista, em parte como comentário narrativo, em parte como palavra de Jesus. Ele é o Mensageiro enviado por Deus que prepara o Caminho do Senhor no deserto. (Mc 1,21; Mt 3,3; Lc 3,,4-6; Mt11,10).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.