Especialista sugere alternativas como atividades ao ar livre, jogos de tabuleiro e práticas artísticas para promover um desenvolvimento saudável e fortalecer os vínculos familiares
Cibele Chacon – Da Redação
O uso excessivo de telas, que inclui tempo desproporcional diante de celulares, tablets, computadores e TVs, tem se tornado uma preocupação crescente para pais, educadores e especialistas em desenvolvimento infantil. Especialmente após a pandemia, quando muitas atividades escolares e de lazer foram transferidas para o ambiente virtual, o tempo que crianças e adolescentes passam em frente a dispositivos eletrônicos aumentou drasticamente, levantando questões sobre os efeitos desse comportamento na saúde e no desenvolvimento da nova geração.
De acordo com a neuropsicopedagoga Roberta Palomo, o uso prolongado de dispositivos eletrônicos pode trazer consequências significativas. “O excesso do uso de telas pode causar problemas de concentração, distúrbios de aprendizagem e até a síndrome do pensamento acelerado, que pode desencadear o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Também observamos uma piora na qualidade do sono, aumento da obesidade infantil e um atraso no desenvolvimento cognitivo e motor”, afirma.
A realidade atual é bem diferente da infância de gerações passadas. Antigamente, as crianças passavam horas brincando ao ar livre, envolvidas em atividades como esconde-esconde, andar de bicicleta ou empinar pipas. Com a popularização das telas, muitos pais, sobrecarregados com a rotina, utilizam esses dispositivos como uma forma de entreter os filhos enquanto cuidam das demandas da casa. “Essa substituição da presença dos pais pelas telinhas pode levar a um isolamento social, quando os jovens trocam amigos reais por amigos virtuais, o que pode culminar em problemas emocionais, como a depressão infantil”, alerta Palomo.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças com menos de dois anos não tenham contato com telas. Para aquelas entre 3 e 5 anos, o ideal é limitar o tempo de tela a uma hora diária, sempre sob supervisão. Já crianças de 6 a 10 anos devem ter esse tempo restrito a duas horas diárias. Palomo destaca que esse tempo poderia ser utilizado para atividades mais enriquecedoras, como ler um livro ou praticar esportes.
Os efeitos do uso excessivo de telas se estendem ao desempenho escolar. Palomo observa que muitos alunos enfrentam dificuldades na socialização e apresentam baixo desempenho acadêmico devido ao tempo dedicado a jogos online, que frequentemente competem com as obrigações escolares. “As crianças muitas vezes não sabem estudar para as provas ou realizar as tarefas, o que representa uma queda alarmante no desempenho escolar”, explica.
Para os pais, é importante identificar sinais que indicam que o uso de telas está se tornando prejudicial. “Preste atenção em crianças que não estão realizando as tarefas, que têm notas em queda ou que preferem o celular em vez de brincar com amigos. Esses são sinais de alerta”, adverte a neuropsicopedagoga.
Em busca de uma solução, Palomo recomenda a implementação de uma rotina saudável que incentive a interação familiar e o desenvolvimento cognitivo. “Jogos de tabuleiro, atividades físicas em família e momentos de leitura coletiva são ótimas opções para estimular o vínculo familiar e desenvolver habilidades sociais”, sugere.
Vida nova
A experiência de Suzy Ribeiro, mãe de Hugo Bigotto, de 6 anos, ilustra a realidade enfrentada por muitas famílias. Inicialmente, Hugo passava muito tempo em frente à televisão e ao celular, o que resultou em mudanças no comportamento, como birras e dificuldade de concentração na escola. Após orientação da neuropsicóloga, Suzy decidiu reduzir o tempo de tela do filho para apenas duas horas diárias e retirar o celular de sua rotina.
“Ele chorou e implorou para usar o celular. Mas, com o tempo, ele começou a se interessar mais por brincadeiras e atividades ao ar livre. Hoje, ele interage melhor, corre, pula e conversa mais”, relata Suzy, aliviada. Hugo agora também participa de aulas de musicoterapia, que se tornaram uma de suas atividades favoritas. “Ele não perde uma aula e fica muito empolgado para ir”, acrescenta a mãe.
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