Neste Advento, nos preparando para celebrar a vinda do Senhor, somos questionados por João Batista que nos pede conversão. João é um homem de Deus, um homem carismático-profético que apresenta uma grande afinidade com o Deutero-Isaías (Is 40-55). Com a pregação de João, o acento profético ressoa forte nas margens do rio Jordão: Cuidado, povo de Israel, O Deus Vivo não pode ser enganado com aparências e tradições vazias! Supera e muito as expectativas de zelotes, fariseus, essênios. Não adianta dizer somos os escolhidos, eleitos de Deus, para o Deus Vivo só contam os frutos da conversão. Não basta a profissão de fé a respeito da eleição e da Aliança, se estiver separada da prática correspondente. A expectativa do futuro escatológico é muito forte em João, mas vem indissoluvelmente unida ao compromisso ético-religioso.
A temática básica de João pode ser assim resumida: a) – ANÚNCIO DA PROXIMIDADE DO JULGAMENTO (LC 3,7-9) e paralelos (Mt 3,7-10). Mas note-se bem, esse julgamento é sobre o próprio Israel e não apenas sobre os pagãos, como se pensava nos círculos religiosos judaicos na época. A eleição, o templo, etc. não constituem garantia automática de salvação. Inspirado no antigo profetismo, João utiliza expressões muito duras para o anúncio do julgamento: machado posto à raiz das árvores, o fogo, etc. b) APELO URGENTÍSSIMO À CONVERSÃO: mudança radical de atitude em relação a Deus e concomitantemente aos outros seres humanos, ao meio ambiente e a si próprios. (Lc 3,10-14; Mt 3,8). c) NECESSIDADE DO BATISMO (realizado pelo próprio João ou por seus discípulos), entendido como sinal da misericórdia de Deus que sempre perdoa (Mc 1,4; Lc 3,3…) e, de forma inseparável, como compromisso de conversão. d) ANÚNCIO DAQUELE QUE HÁ DE VIR, do Mediador escatológico da salvação, do Messias esperado. (Lc 3,16-17)
Podemos imaginar a impressão que a figura e a mensagem de João Batista deviam ter provocado na Jerusalém daquela época. Finalmente estava de novo ali um profeta, cuja própria vida o identifica como tal. Finalmente se anuncia de novo a ação de Deus na história. João batiza com água, mas o “maior”, aquele que batizará como o Espírito Santo e com o fogo, já se encontra à porta. Por isso não devemos de modo algum considerar exageradas as informações de São Marcos: “Toda a Judéia e todos os habitantes de Jerusalém corriam para ele, confessavam os seus pecados e deixavam-se batizar por ele no Jordão.” (Mc 1,5).
O batismo de João quer situar as pessoas diante do julgamento de Deus, e esse julgamento exige renovação total. Nesse sentido, converter-se para acolher o Messias é mudar as relações entre as pessoas.
A curiosidade movimentava as massas. As expectativas eram as mais diversas: aprender uma fórmula de oração, ouvir um conselho, receber uma palavra de consolo… Em suma, ganhar alguma coisa: João, porém, levava seus ouvintes a descobrir sua própria verdade: interiorizar suas intenções profundas confrontar-se com a vontade de Deus, enfrentar a realidade nua e crua do seu íntimo. Não havia lugar, portanto para deliciar-se com palavras bonitas. Discussões religiosas eram supérfluas. Nem dava campo para isentar-se da responsabilidade pessoal atribuindo sua situação a problemas de temperamento, formação, de ambiente. Ao invés de ganhar alguma coisa, cada um se sentia onerado em sua consciência com a responsabilidade de doar.
E daí, João? “O que faremos? Por três vezes encontramos no Evangelho deste domingo a pergunta: “O que devemos fazer (v. 10.12.14). Era a pergunta básica feita nas Comunidades primitivas, por aqueles que se apresentavam para o batismo. (At 2,37). Esta pergunta brota espontânea dos que se sentem chamados à mudança de vida (e querem fazer parte da Comunidade-Igreja). A cada um oferece uma resposta simples possível. Não pede heroísmo, mas um mínimo de solidariedade com o próximo e de fidelidade aos deveres de estado ou de profissão. O que lhes receita para fazer é de supor que a maioria omitia. A moral do Batista deverá começar a ser cumprida ali mesmo entre seus ouvintes, antes de entrarem nas águas do Jordão para rogar o perdão e a salvação. Sentimos receio de perguntar a Deus o que espera de nós. Incorremos no erro de imaginar solicitações heróicas, muito além das nossas possibilidades. A resposta que Deus espera é simplesmente um passo adiante no preceito do amor, embora pareça muito pequeno. O que importa é que seja real. O que se faz, procure fazer-se bem. O que se executa bem, que se torne melhor. O que é realizado por espírito de dever passar a ser por amor. O que Deus pede a você, como pais, como professores, advogados, doutores, políticos, comerciantes, coordenadores de pastorais, como cristãos, como Igreja? O que devemos fazer? ENTÃO, JOÃO, O QUE DEVEREMOS FAZER?