O biogás, produzido a partir dos restos do processamento de mandioca, já é largamente utilizado como energia térmica nas fecularias, farinheiras e outras indústrias do setor. Algumas delas também convertem o biogás em energia elétrica. Há indústrias que fazem a utilização associada: térmica e elétrica. Mas uma nova opção, ainda mais rentável, foi apresentada ao Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP), dentro do Projeto GEF Biogás Brasil. Trata-se da extração do metano do biogás e sua utilização como biocombustível veicular.
O Projeto GEF Biogás é liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e implementado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). Recebe recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility, ou GEF). No Paraná, o projeto tem a participação da FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), que montou dois polos: em Arapongas, com as indústrias moveleiras e em Paranavaí com as indústrias de mandioca.
Os conceitos sobre o biometano foram apresentados aos industriais por Cícero Bley, consultor do Conselho Temático de Energia da FIEP e Luís Colturato, da UNIDO, durante a reunião do SIMP na última sexta-feira (10).
Para o presidente do SIMP, Guido Bankhardt, desde que o Sindicato aderiu o projeto, a proposta era o aproveitamento do biogás para a geração de energia elétrica. “Agora surgiu esta novidade, aparentemente mais rentável. Mas temos que fazer um levantamento, já que muitas indústrias já possuem seu gerador, para ver se há biogás de sobra para ser usado como combustível, qual é o volume de investimentos que teremos que fazer e se teremos consultoria para não tomar decisões erradas”, disse ele.
Biometano combustível – Bley explicou que a indústria de mandioca produz um biogás diferenciado, porque sua origem “não é do lixo, não é dejeto, não tem as características de que vem de algo podre; é uma perda da indústria que ainda não foi utilizada. Simplesmente é uma parte do processo produtivo que não foi usado para fécula ou farinha”, diz ele, referindo-se à casca da mandioca e a água utilizada na lavagem da raiz (manipueira) que dá origem ao biogás nas farinheiras e fecularias. “São matérias primas industriais, para a produção de biogás, para proporcionar economia e a sustentabilidade de todo o processo produtivo, gerando energia elétrica e térmica, produzindo biometano biocombustível para mover cargas e pessoas e descarbonizando a produção e reduzindo custos”, acrescentou.
O consultor explicou que a utilização do biometano gera uma série de benefícios, como a redução da emissão de gases que geram o efeito estufa, é uma energia elétrica de base (estocável), promove a descarbonização da logística, pode ser gerada descentralizadamente, é uma fonte flexível (eletricidade, térmica e combustível) e tem uma previsibilidade de custo, pois sua produção não está a variação do dólar ou a oscilação do dólar.
O biogás, explicou Bley, é um gás composto e, além do metano, ainda pode ser extraído o carbono (CO2), que também tem um mercado promissor e sua utilização vem ao encontro de uma das principais propostas da COP 26. Isto porque o metano joga 21 vezes mais CO2 na atmosfera. A utilização adequada evita seu lançamento na atmosfera.
Estudos mostrados na apresentação demonstraram que os combustíveis fósseis estão em decadência, cedendo espaço para alternativas limpas e renováveis, especialmente o biogás. A energia solar, é uma alternativa, mas sua aplicação é limitada à eletricidade. Já o biogás substitui os combustíveis veiculares (gasolina, etanol e óleo diesel), o GLP (Gás de cozinha), a lenha e a energia elétrica.
Para Cícero Bley, há um mercado promissor para o biometano e o CO2 e a nova era é dos combustíveis gasosos. As indústrias de mandioca por produzir o biogás a partir de rejeitos e não dejetos animais e muito menos de esgoto e lixo, têm um produto nobre para “gerar energia limpa, renovável, confiável e de baixo custo”, conforme assinalou.
Na opinião do consultor, o setor deve se organizar e buscar maior apoio do Estado, inclusive a criação de um programa nos moldes do Renova Paraná, que é destinado para a agricultura, “Por que não um Renova Paraná para a indústria, construindo um modelo de negócio e pedindo passagem e reconhecimento”, defendeu ele.
Bley sugeriu a criação de refinarias coletivas para o refino do biometano e também do gás carbônico, que tem “valor considerável”. Para ele, o setor pode ter “um novo momento” e a produção de biometano combustível pode ser um “passo gigantesco”.
Advertiu, no entanto, que é um processo grande e por isso há a necessidade de avançar “devagar”, cabendo ao Sindicato o papel de articular o setor e até assumir algumas partes do processo, como, por exemplo, a refinaria.
Levantamento – Para o presidente do SIMP, Guido Bankhardt, a apresentação demonstrou aquilo que já é voz corrente no setor: as indústrias de mandioca estão perdendo dinheiro por subutilizar o biogás que produz. “Estamos jogando dinheiro fora”, disse ele.
O Projeto GEF Biogás vem sendo discutido no SIMP desde o fim de 2019 pelo SIMP “e sempre falamos em energia elétrica e agora o tema foi o envasamento de gás”, segundo Bankhardt. Ele anunciou que vai fazer um levantamento junto aos associados. “Muitos deles já têm geradores de energia elétrica”, alerta. Mas também ressalva que o biometano poderia ser usado na própria frota da indústria, inclusive nas empilhadeiras usadas no setor.
“O que tenho percebido é que tem muita gente de olho no biogás produzido pelas nossas indústrias. Ele é mais limpo”, afirma o presidente do SIMP, que defende o aprofundamento das discussões. “Ainda existem dúvidas de qual é a melhor opção para nós e se temos gás sobrando para também fazer o biocombustível”, diz ele, lembrando, no entanto, que se a atividade for mais rentável há tecnologia para aumentar a produção do biogás pelas indústrias com o mesmo nível de processamento de mandioca. “Não estamos produzindo mais porque na maioria dos casos tem gás sobrando”, diz ele.