REINALDO SILVA
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A cabeleireira Ana Paula Inzabralde, de Paranavaí, resume a situação. “O preço da carne subiu muito.” A diferença nos valores fez com que ela optasse por reduzir a quantidade de proteína bovina no dia a dia, dando prioridade para cortes suínos e aves, comportamento que se repete entre a maioria dos consumidores. Pelos cálculos de Jair Dalolio, proprietário de um açougue na cidade, as vendas de carne vermelha caíram 70% nos últimos seis meses.
A redução no volume de comercialização é proporcional às constantes elevações nos preços. Para se ter uma ideia, no início do ano Dalolio vendia o quilo da alcatra por R$ 13, agora custa R$ 35. “E vai subir mais um real”, alerta. O novo acréscimo é por causa do reajuste sobre o valor da arroba bovina, no início desta semana.
O empresário cita outros exemplos. O quilo do mocotó, por exemplo, passou de R$ 4,90 para R$ 13,90. O quilo do bucho bovino foi de R$ 6 para mais de R$ 20. Se antes R$ 100 permitiam sair do açougue com as sacolas repletas de carne, agora o mesmo valor rende quantidades significativamente menores de alimentos, conta Dalolio.
A situação acertou em cheio as finanças da empresa e reduziu as margens de lucro, interferindo até mesmo no quadro de funcionários. Segundo Dalolio, eram 30 pessoas trabalhando no açougue, agora são apenas oito. E, conforme avalia, ainda não há perspectivas de melhoras, pelo menos não em curto ou médio prazo.
Deral – Um levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) mostra que de janeiro a junho deste ano a arroba do boi, medida equivalente a 15 quilos, subiu 13%.
No varejo, os reflexos foram evidentes. Na média paranaense, o preço do peito bovino sofreu crescimento de 22%; a paleta, 16%; e o filé mignon, 15%. Entre os 11 tipos de cortes pesquisados pelo Deral, os que tiveram menores índices de alta foram alcatra (7,6%) e coxão mole (5,3%), “o que também já é muito”, analisa Fabio Peixoto Mezzadri, médico veterinário responsável pela conjuntura da pecuária de corte e leite do Deral.
Condições climáticas – Em entrevista ao Diário do Noroeste, Mezzadri destaca que a falta de pastagens é um dos fatores que contribuem para a disparada nos preços. A estiagem que durou 60 dias acabou com as remanescentes de verão e atrasou o plantio das de inverno. Normalmente, o cultivo tem início de março a maio, mas em 2021 só foi possível em junho, depois que começaram as chuvas. “Atrasa a engorda do boi e a saída.”
Também houve redução no confinamento. Os insumos para manter os rebanhos, especialmente soja e milho, estão mais caros – isso diminui o gado comendo ração, diz médico veterinário. Significa “menos oferta interna”.
Esses fatores atrasaram a engorda dos rebanhos. “A boiada que sairia a partir de agosto, setembro, outubro vai estar pronta no último bimestre, saindo das pastagens de inverno que atrasaram.” Conforme Mezzadri, maior oferta poderá provocar queda nas cotações da arroba, mas ainda há incertezas. De qualquer maneira, antes de novembro “a gente não vai observar redução”.
Mercado externo – O maior volume de exportações da proteína bovina é outro fator decisivo no comportamento do mercado doméstico. Números do Deral mostram que as exportações totais brasileiras de carne vermelha elevaram 8% de 2019 para 2020. Considerando somente a comercialização com a China, o aumento no mesmo período foi de 75%. Os dados atuais, em relação ao ano passado, indicam pequena queda, “mas o cenário ainda é incerto e deve haver crescimento”, conclui Mezzadri.