O longa mistura drama familiar e reflexões sobre a ditadura civil-militar, destacando-se na temporada de prêmios
Cibele Chacon
Da redação
O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, desponta como um dos grandes destaques do cinema brasileiro contemporâneo e um forte candidato a representar o país no Oscar 2025. Além de abordar temas universais como amor, luto e resiliência, o longa mergulha em um dos períodos mais sombrios da história brasileira: a ditadura civil-militar.
Baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, o filme revisita as dores e os silêncios provocados por esse regime, que marcou o Brasil entre as décadas de 1960 e 1980. A narrativa mistura o impacto das perdas pessoais da protagonista com o pano de fundo político, criando um retrato íntimo e coletivo do que significa viver sob repressão e resistir em meio à adversidade.
A personagem principal é Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, vive as consequências do desaparecimento do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, preso e torturado durante a ditadura. A atuação da atriz é um dos pontos mais elogiados do filme, sendo descrita como visceral e inesquecível. Para muitos críticos, sua performance já a coloca como uma das favoritas a uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, algo que seria histórico para o Brasil.
FERNANDA TORRES E FERNANDA MONTENEGRO – Indicada ao Globo de Ouro, Fernanda Torres reafirma um legado familiar no cinema internacional. Sua mãe, Fernanda Montenegro, foi a primeira e única atriz brasileira indicada a este prêmio e também ao Oscar, em 1999, por sua performance em Central do Brasil – também dirigido por Walter Salles.
Curiosamente, sua filha, Fernanda Torres, já fez história no Festival de Cannes em 1986, ao vencer o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação em Eu Sei Que Vou Te Amar. Se receber a indicação ao Oscar, ela e Fernanda Montenegro se tornarão as únicas brasileiras a compartilharem esse feito histórico.
ARTE COMO RESISTÊNCIA E MEMÓRIA – Com “Ainda Estou Aqui”, Walter Salles constrói uma obra que transcende o pessoal e o político. Ao conectar a trajetória íntima da protagonista com as feridas abertas pela ditadura civil-militar, o filme convida o público a refletir sobre a importância de preservar a memória e lutar contra o apagamento histórico.
As cenas que recriam o período de repressão são impactantes e evocam o legado de filmes como “Pra Frente, Brasil” e “Zuzu Angel”, que também abordaram a ditadura. Mas “Ainda Estou Aqui” vai além, ao explorar como as marcas desse período moldaram gerações, afetando tanto os que viveram os horrores da época quanto os que herdaram suas cicatrizes emocionais.
HISTÓRIA, ARTE E ESPERANÇA – O filme é uma representação artística do passado, mas também um lembrete poderoso sobre a importância de se manter vigilante contra retrocessos políticos e sociais. Em um momento de crescente valorização do cinema brasileiro no exterior, “Ainda Estou Aqui” carrega a esperança de que o país possa ser novamente reconhecido no Oscar, reafirmando a relevância de nossa cultura e história.
Seja pelas atuações excepcionais, pela direção impecável ou pela coragem em revisitar temas dolorosos, “Ainda Estou Aqui” já é um marco. E, caso conquiste as indicações esperadas, poderá colocar o Brasil novamente no centro das maiores celebrações do cinema mundial. O filme segue em cartaz em diversos cinemas por todo Brasil, inclusive em Paranavaí.