Distância, custos e rotina fazem muitos estudantes passarem o Natal longe da família, transformando a data em um momento de saudade e reinvenção
Cibele Chacon
Da redação
Maringá é conhecida como um dos grandes polos universitários do Brasil. A cidade recebe milhares de jovens de diferentes estados, que chegam em busca de ensino superior e novas oportunidades. Mas para muitos desses estudantes, o Natal, tradicionalmente um período de confraternização em família, torna-se um desafio emocional. A distância de casa, os custos elevados de viagem e a rotina acadêmica fazem com que a data seja celebrada longe de pais, avós e irmãos.
Eduardo Moraes Marinho, de 22 anos, estudante de Física, é um exemplo. Natural de Ceres, Goiás, ele está em Maringá há um ano e meio. Este será o segundo Natal que ele passará distante de casa. “Goiás é muito longe, e a passagem custa uma fortuna. Minha mãe ficou bem chateada porque achava que eu ia poder ir, mas não deu”, explica. Ele conta que, em sua cidade, o Natal era sinônimo de grandes reuniões familiares.
“A gente ia para a chácara todo Natal e Ano Novo. Era uma caravana cheia de gente, com muita animação e festa. O que mais sinto falta é da comida do meu avô e de rever todo mundo. Este ano vou tentar seguir a receita do salpicão dele, para ver se ajuda a matar um pouco da saudade”, diz Eduardo. Ele passará a data com a família da namorada, mas admite que não será o mesmo. “É bom ter companhia, mas não tapa o buraco”, desabafa.
O primeiro Natal longe de casa foi o mais difícil para Eduardo. “Eu estava sempre muito ocupado, trabalhando o dia inteiro e estudando à noite, então não pensava muito nisso. Mas, no fim do ano, sozinho em casa, foi um vazio muito grande. Ainda recebo ligações reclamando da minha ausência, mas todos me incentivam muito aqui e entendem a situação.”
Vanessa Bueno, de 21 anos, é estudante de Direito e veio de Ji-Paraná, Rondônia. Para ela, a experiência de passar o Natal longe da família tem sido um misto de adaptação e saudade. “No começo, foi bem difícil. Eu me sentia muito deslocada e perdida, porque nunca tinha ficado longe da minha família em uma data tão importante. Hoje, tento transformar isso em algo mais leve, criando novas tradições com os amigos que também ficam.”
Ela explica que um dos momentos mais emocionantes é trocar mensagens e chamadas de vídeo com a família. “A gente se esforça para compartilhar o momento, mesmo que à distância. Mandamos fotos das decorações, conversamos sobre o que estamos fazendo e tentamos nos conectar de alguma forma.”
Milena Nicolli de Albuquerque, de 25 anos, vive em Maringá desde 2018. Natural de São José dos Campos, São Paulo, ela veio para cursar Psicologia e acabou se estabelecendo na cidade após a formatura. Este ano, devido à rotina de trabalho, ela não poderá visitar a família no Natal.
“Vou passar a data com a família das meninas que moram comigo, em Apucarana. Não é a mesma coisa que estar com a minha própria família, ver minha cidade enfeitada ou comer as comidas de casa, mas tento valorizar o momento. Vou fazer algo simples, como rabanada, e manter contato com eles por mensagens e fotos das decorações”, conta Milena.
A saudade, segundo ela, é um sentimento constante, mas que precisa ser superado. “Minha família não gosta muito que eu more tão longe, acho que preferiam que eu nunca tivesse saído. Isso pesa um pouco, mas tento não deixar que isso atrapalhe.”
Muitos estudantes relatam que, mesmo com a saudade da família e das tradições natalinas, acabam encontrando novas formas de celebrar o Natal. Jantares com colegas, troca de presentes improvisada e até a tentativa de reproduzir receitas familiares são maneiras de manter vivo o espírito natalino.
Para esses jovens, a cidade de Maringá, que se ilumina com decorações de Natal e eventos especiais, ajuda a criar uma atmosfera acolhedora. As luzes, as árvores enfeitadas e as celebrações locais oferecem um pouco de conforto em meio à distância.
Ainda assim, o sentimento de nostalgia é inevitável. Ver fotos da família reunida ou lembrar das tradições de casa são momentos que mexem com o coração de quem está longe. “Sempre me emociono vendo os vídeos que meus pais mandam da nossa ceia. É um misto de felicidade por saber que eles estão bem e saudade por não estar lá com eles”, compartilha Milena.
Apesar das dificuldades, muitos enxergam no Natal uma oportunidade de crescimento pessoal. “É uma forma de aprender a valorizar as pequenas coisas e de dar ainda mais importância aos momentos em família quando conseguimos estar juntos”, reflete Eduardo.
O Natal em Maringá, para esses estudantes, é um momento de ressignificação. É a oportunidade de transformar a solidão em companhia, a saudade em memórias e a distância em novas experiências. Mesmo longe de casa, eles encontram formas de celebrar, lembrando que o verdadeiro espírito natalino está na capacidade de amar, compartilhar e se conectar, mesmo que de forma diferente.