Mulheres compartilham conquistas e desafios da vida moderna; especialistas falam de sobrecarga, machismo estrutural e segurança
Cibele Chacon
Da Redação
Ouvir mulheres sobre suas vivências é sempre um mergulho profundo em histórias de força e resiliência. Saímos às ruas e perguntamos a algumas delas: “Como é ser mulher nos dias de hoje?”. As respostas, embora distintas, tocaram em dores semelhantes: o peso da sobrecarga, o medo constante da violência, as dificuldades de reconhecimento profissional e a batalha por equilíbrio entre tantos papéis.
Tripla jornada e maternidade
A vendedora Adriana Basílio, de 45 anos, resume bem a complexidade da rotina feminina. “Se é mulher nos dias de hoje não é fácil, porque a mulher assumiu todas as funcionalidades da casa, do lar, tem as funções de trabalho, tem as funções de esposa, de mãe, de estudante. É isso, fácil não é. O bom é que a gente tem um sexto sentido, a gente consegue fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, coisa que os homens não conseguem.”

Foto: Ivan Fuquini
Para a professora Elisângela Benetton, de 50 anos, o maior desafio é a maternidade solo. “Não é fácil criar um filho sozinha, né? E hoje em dia nem sempre a gente tem essa participação paterna. Os pais muitas vezes simplesmente acham que não têm necessidade de ajudar. Então, essa coisa da mãe solo é difícil.”

Foto: Ivan Fuquini
A aposentada Celu Oliveira, de 73 anos, responde prontamente que “ser mulher nos dias de hoje é matar um leão por dia”. Para ela, ainda existe muito preconceito, principalmente com as que moram sozinhas. “Eu batalho muito e estou conseguindo superar as dificuldades”, disse.

Foto: Ivan Fuquini
Essa sobrecarga pode gerar impactos profundos, como reforça a psicóloga Rayra Monique. “A exaustão, tanto física quanto emocional, pode levar a um estado de alerta constante, aumentando os níveis de estresse e ansiedade. No longo prazo, isso pode resultar em sintomas como insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração e até quadros depressivos. O maior desafio da tripla jornada é a falta de tempo para si mesma”.

Foto: Arquivo pessoal
A vendedora Amanda Larissa Sousa Mendes, de 25 anos, também sente o peso dessa responsabilidade. “Ser mulher e ser mãe é o meu maior desafio. Eu tenho uma criança de 5 anos, então a correria do dia a dia é o maior desafio que a gente tem todos os dias. Tem que ir trabalhar, tem que ir para casa, serviço de casa, tem cursos, estudo.”

Foto: Ivan Fuquini
Ainda sobre essa questão, a psicóloga reforça que a culpa materna é um sentimento comum entre as mulheres. “A culpa muitas vezes nasce da expectativa irreal de que uma mãe deve estar sempre disponível e ser perfeita em todas as áreas da vida. Mas ser uma boa mãe não significa estar presente o tempo todo, e sim estar verdadeiramente disponível nos momentos em que está com os filhos”.
Para a aposentada Celu, é fundamental ter tempo para si. “A parte boa de ser mulher é poder ser livre, sair, ir na academia, dançar. Dançar, para mim, é uma terapia”, afirma. A psicóloga concorda e ressalta que muitas mulheres acabam se colocando sempre em último lugar, priorizando o trabalho, os filhos e as demandas da casa. “Não percebem que o autocuidado não é um luxo, mas uma necessidade”, pontua.
Medo e insegurança
Além das responsabilidades diárias, a segurança também é uma preocupação constante. “A questão de assédio, às vezes no trabalho, a gente também enfrenta muito isso. Eu já passei por isso e é muito difícil nos dias de hoje”, revela a professora Elisângela.
A tenente Bruna Fernandes orienta sobre como as mulheres podem se proteger, fora e dentro de casa. “Sempre ficar atenta com as pessoas que estão à sua volta, não expor objetos de valor em via pública, compartilhar a sua localização com algum familiar e optar por transitar em locais com melhor iluminação. A Polícia Militar tem um grupo especializado, que é a Patrulha Maria da Penha, que trabalha com palestras, prevenção e pós-atendimento a um ato de violência, justamente para incentivar as mulheres a realizar a denúncia e conseguir quebrar o ciclo da violência e se desvincular do agressor.”

Mercado de trabalho
Para Melissa Brum, de 26 anos, assessora parlamentar, um grande desafio está no mercado de trabalho. “Falando justamente pela área em que eu trabalho, a gente encontra bastantes desafios porque é um meio muito masculino ainda. Então a gente sofre muito com preconceito pela falta de credibilidade, pela falta de confiança no nosso trabalho. Existe sempre um estigma, acho que quando você está no meio de muitos homens, as mulheres acabam sendo vistas como inferiores. A opinião delas é menos levada em consideração.”

Foto: Arquivo Pessoal
Daiane Lahis Rodrigues de Andrade, presidente da Aciap Mulher (Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí), reforça que o machismo estrutural ainda impõe barreiras para as mulheres. “Mesmo havendo avanços no que diz respeito a direitos e a maneira como a mulher é vista na sociedade, o machismo estrutural está enraizado. Muitas vezes, sem que pensemos, as próprias mulheres acabam por ter falas e pensamentos que minimizam outras mulheres ou elas próprias em detrimento da figura masculina.”

Apesar dos desafios, as mulheres seguem firmes, construindo caminhos de resistência e mudança. Como diz Melissa, “o diferencial das mulheres é esse: a gente estende mais a mão”.
Violência contra a mulher tem nome e precisa ser denunciada
Texto: Ana Cecilia Paglia
Supervisão: Cibele Chacon
Ser mulher hoje é, muitas vezes, viver com medo. O medo de andar sozinha, de voltar para casa tarde, de enfrentar violências que se manifestam de formas diversas. Conhecer e entender essas violências é o primeiro passo para combatê-las. A informação protege, fortalece e pode salvar vidas.
VOCÊ SABE IDENTIFICAR OS TIPOS DE VIOLÊNCIA?
Física: Espancar, empurrar, sufocar, apertar os braços, provocar queimaduras, jogar objetos ou causar qualquer dano ao corpo da mulher.
Psicológica: Ameaças, humilhações, manipulação, chantagem, isolamento ou qualquer atitude que afete emocionalmente a vítima.
Sexual: Obrigar a mulher a presenciar ou participar de atos sexuais contra sua vontade, forçar relações, impedir o uso de contraceptivos ou obrigá-la a interromper uma gravidez.
Patrimonial: Reter, destruir ou controlar bens, dinheiro, documentos, impedir que a mulher trabalhe ou se sustente financeiramente. A recusa em pagar pensão alimentícia também se enquadra.
Moral: Difamar, caluniar, expor a vida íntima, xingar ou ofender a dignidade da mulher em qualquer contexto.
COMO DENUNCIAR?
Emergência? Ligue 190 – A Polícia Militar presta atendimento imediato para situações de perigo iminente.
Disque 180 – Canal gratuito e 24h para acolhimento, orientação e encaminhamento de denúncias.
Delegacia da Mulher – Em Paranavaí, fica na Avenida Deputado Heitor Alencar Furtado, 4300, Jardim Farropilha. Atendimento de segunda a sexta, das 9h às 17h30. Aos fins de semana, procure a Delegacia da Polícia Civil.
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