Ainda pequeno eu ganhei uma bola azul,
Não era da cor que eu queria, vermelha,
Ainda assim, era uma topper oficial de futsal.
Todos os dias ia até a praça próxima de casa
Na qual todos os meninos se reuniam para jogar.
Pela primeira vez tínhamos uma bola oficial,
Pela primeira vez eu era titular do time.
Fiquei encantado como um simples fato,
Ter uma bola azul, que não era vermelha,
Tinha me tornado um pivô desejado.
Agora eu, que antes nem escolhido era,
Jogava todos os jogos, todas as vezes.
Fazia mais gols que qualquer um,
Não que fosse o melhor atacante dali,
Mas a bola parecia sempre sobrar pra mim.
Foi um momento único, até apelido tinha agora,
Chamavam-me de “dono da bola”, tamanho o número de gols.
Sempre que podia, eu tocava para alguém fazer,
“Chuta pro gol, chuta pro gol”, cantavam em coro.
Quando meus gols saiam, recebia abraços e aprovação.
Todos os dias jogávamos duas ou três horas,
Uns trinta meninos, uma menina, todos revezando entre os jogos.
É um tempo que nunca vou esquecer.
Um ótimo tempo que durou três ou quatro meses.
A bola já estava meio azul, meio marrom.
Então, um colega trouxe a nova bola oficial.
Um couro novinho, cheiro de nova,
Só não era azul, era vermelha, como a que eu sempre quis.
Ninguém mais queria minha bola, já meio troncha,
O colega era o novo artilheiro, o primeiro escolhido,
Aquele com quem todos comemoravam, o que fazia mais gols.
Eu voltei ao banco, não conseguia jogar tanto, quando jogava era ala.
Não jogava tão bem com a bola vermelha.
A cor vermelha já não era minha favorita,
Soube ali, jogando bola, que não era minha cor.
A partir daí só usei azul, com azul eu me destacava, era pivô.