Renato Benvindo Frata
Entre outros componentes, a boca abriga a língua que é um órgão muscular relacionado ao paladar, à deglutição e à formação dos fonemas da fala, e é sobre esse último elemento o foco desta crônica.
Desde cedo os pais, irmãos e tias nos ensinam a cuidar da boca. Como o que devemos comer, sobre a higiene dela e com as palavras que proferimos. Aí as três verdades incontestáveis aparecem: o que se come – cedo ou tarde será expelido; o que não se limpa – cedo ou tarde apodrecerá, e o que se fala – cedo ou tarde ganhará o mundo, e voará qual andorinha em arribação. Por isso nossa boca pode atuar como juiz sendo a língua chicote de si mesma, ou como apenado que sofre as penas do malfeito, e esse conceito é tão certo que dele nasceram vários ditados: “em boca fechada, mosquito não entra”, ou, “o que você não vê com os seus olhos, não testemunhe com a sua boca” para nos alertar dos cuidados ao comer, à higiene e ao que falamos.
Muitas frases conceituais, recados, ditos e exemplos são de conhecimento, confirmando que a língua pode ser arma que fere com palavrões, injúrias e afrontas, ou ser a pluma que afaga e abranda, eis que se assemelham às sementes e seu resultado, ao fruto. Boa semente, bom fruto! A esse respeito, em Lucas (6.45), diz que “…a boca fala do que está cheio o coração”, de onde se observa que para ele o sentimento comanda a boca. E, nesse caso, um sentimento ruim seria a má semente.
A se tomar como verdade outras frases que filosofam sobre os efeitos da palavra, a má repercussão do comportamento da cantora Ivete Sangalo, a “tia Vevete” – que num show esbravejou palavrões forçando, num coro politizado lamentáveis escrachos ao algoz do momento – Bolsonaro, sua boca suja seria resultado da sujeira interna que possui, sendo desrespeitosa com o público que pagou para ouvi-la cantar e não para servir de claque a apupos contrários ao atual governo.
Há quem diga, porém, talvez para amenizar o estrago à imagem da artista, de que o fechamento da porta aos financiamentos a fundo perdido da Lei Rouanet a teria obrigado a fazer o que fez, por dinheiro. Alguém a teria pago para representar o descontentamento do momento político. Isso é, sendo verdadeira a versão, tia Vevete vendeu sua alma por trinta dinheiros.
A se confirmar a informação, seus grosseiros atributos mostrados no show se somaram a mais um, o mau-caráter, o que leva à preocupação maior: a alegria, graciosidade, capacidade de aglutinar e agradar da cantora que entra quase que diariamente em nossos lares, por mais espontaneidade tenham são falsas e resultam numa certeza: suas falas não servem de bom exemplo a qualquer sobrinho, ou fã, ou ouvinte, ou expectador.
Afinal, seu íntimo, ou já apodreceu, ou está a merecer uma boa e magistral limpeza.
(As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal.)