Diversos setores do agro estadual, como florestal, café, peixes, carne bovina e laranja, já sentem o efeito da medida, que começa a valer dia 1º de agosto
A pouco dias do início da aplicação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto, as agroindústrias e o meio rural paranaense esperam um terremoto nas operações. Isso porque diversos setores do agronegócio estão na lista de produtos da pauta de exportação paranaense para o país norte-americano. Os produtos florestais, no qual o Paraná se destaca no cenário nacional, café, piscicultura, carne bovina e laranja deverão ser os mais impactados.
Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo principal parceiro comercial do Paraná, importando o equivalente a US$ 1,587 bilhão em produtos da agropecuária paranaense. No primeiro bimestre deste ano, o país norte-americano ficou como o terceiro principal destino das exportações paranaenses, totalizando US$ 214 milhões. Ou seja, o mercado comandando pelo presidente Trump não é apenas ocasional, mas um pilar fundamental na estratégia comercial do Estado.
“O Sistema FAEP está atento às possíveis consequências dessa medida. Estamos a poucos dias do início do tarifaço, mas o governo federal não abriu, em momento algum, um canal de negociação, buscando preservar nossos acordos comerciais e minimizar os impactos sobre quem trabalha no campo. Isso é preocupante”, aponta o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette.
Citricultura – Apesar de a União Europeia liderar as importações de suco de laranja brasileiro (51,4%), os Estados Unidos aparecem em segundo lugar nessa lista. Os norte-americanos são o destino de 41,7% do volume exportado nos últimos 12 meses pelo Brasil, conforme dados da CitrusBR. Diante desse cenário, o tarifaço representa uma ameaça direta à estrutura de fornecimento global, com reflexos no Paraná.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações paranaenses de suco de laranja aumentaram 345% no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando US$ 4,76 milhões.
Suco de Laranja/Paranavaí – O município de Paranavaí, no Noroeste do Estado, é um dos polos mais impactados. Apenas no primeiro semestre de 2025, o município exportou US$ 10,9 milhões em suco de laranja ao mercado norte-americano. “Não sabemos como a tarifa será operacionalizada ou qual o critério de cálculo. Também estamos na expectativa de como será a reação das empresas norte-americanas”, afirma o empresário Paulo Pratinha.
Hoje, o suco brasileiro já paga uma taxa de US$ 415 por tonelada, o que representa entre 15% a 20% do preço final. Se a nova taxação se somar a esse valor, os tributos podem atingir até 70% do valor da exportação. Mesmo que os consumidores norte-americanos aceitem pagar mais caro, o exportador vai receber menos, bem como o produtor rural. “Haverá necessidade de acomodar essa tarifa, independentemente do percentual, entre os elos da cadeia, dada a dependência de importação dos EUA”, complementa.

Segundo o empresário, o grau de dependência dos EUA pelo suco de laranja é elevado, principalmente do Brasil e do México – que também está na lista de sobretaxação, com uma tarifa de 30%. No entanto, a produção mexicana vem sofrendo retração por questões sanitárias, o que deve aumentar ainda mais a dependência dos EUA pelo produto brasileiro. “Com os dois principais fornecedores sobretaxados, os norte-americanos não têm alternativas viáveis. O grau de dependência deles é grande, e isso vai afetar não só o consumidor, mas toda a cadeia industrial que agrega valor ao nosso produto lá”, observa o empresário.
Café – Os norte-americanos são os maiores consumidores de café do mundo e, hoje, dependem do grão brasileiro para atender à alta demanda pela bebida. O Brasil é o principal fornecedor ao país, responsável por 34% do volume importado pelos Estados Unidos. A eventual ausência do produto brasileiro comprometeria a viabilidade da cadeia norte-americana, pressionando ainda mais os preços ao consumidor.
Embora represente uma fatia pequena nas exportações totais de café, o Paraná vinha ganhando espaço com o café solúvel, produto de maior valor agregado que tem nos Estados Unidos seu principal mercado.
Além do café commodity, os EUA também são o principal destino dos cafés especiais brasileiros, que representaram 22% das exportações em 2024. O Paraná, que tem se destacado na produção desse tipo, será afetado pelo efeito cascata, impactando a remuneração e desestimulando produtores locais.
Carne bovina – No caso da carne bovina, a expectativa é que a decisão norte-americana não traga impactos diretos. No Paraná existe apenas uma planta, localizada na região Noroeste, que exporta para esse destino. “O Paraná pode ser afetado com algum efeito colateral. Mas nas suas indústrias não teria um impacto significativo”, avalia o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes), Ângelo Setim Neto.