Campanha nacional destaca importância da denúncia e da prevenção; Numape acompanha mais de 500 processos de violência contra mulheres no município
Cibele Chacon
Da redação
O mês de agosto é marcado por uma cor que carrega um alerta urgente: lilás. Instituído pela Lei Federal n°14.448/2022, o Agosto Lilás é um período dedicado à conscientização para o fim da violência contra a mulher em todo o país, em referência ao aniversário da Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340), sancionada em 7 de agosto de 2006.
Em Paranavaí, o Núcleo Maria da Penha (Numape), ligado à Universidade Estadual do Paraná (Unespar), intensifica suas atividades neste período, realizando palestras no CRAS, CREAS, na própria universidade e em outros espaços da cidade.
Segundo a coordenadora do Núcleo, professora Keila Pinna Valensuela, “a campanha visa conscientizar toda a população da importância de prevenir, denunciar e combater a violência doméstica e familiar contra as mulheres. É uma importante ferramenta no fortalecimento de ações e informações referente ao tema e ao combate da violência contra as mulheres.”
Tipos de violência e realidade local – A Lei Maria da Penha define cinco tipos de violência: psicológica, física, sexual, patrimonial e moral. No atendimento do Numape, embora a denúncia seja mais frequente em casos de agressão física, a violência psicológica é a que mais se repete.
“É mais comum que a denúncia de violência ocorra quando há a violência física, mas a violência psicológica é mais frequente, pois permeia todas as outras violências sofridas pelas mulheres”, explica Keila.
O Núcleo atualmente acompanha mais de 500 processos de mulheres em situação de violência. O perfil das vítimas é diverso. “A violência atinge todas elas, independente da sua situação financeira, da sua etnia, cor, raça, identidade sexual, orientação sexual, religião, idade ou nível escolar.”

O silêncio e os desafios – Apesar dos avanços, Keila destaca que a violência contra a mulher ainda é um tema silenciado em muitos ambientes. “Grande parte das violências sofridas pelas mulheres não são identificadas ou são subnotificadas, porque vivemos em uma sociedade ainda muito machista, patriarcal e preconceituosa que tem a cultura de tratar as mulheres em situação de violência como as culpadas, enquanto exime os homens dos crimes cometidos por eles.”
Entre os principais desafios enfrentados por quem decide denunciar, estão a dificuldade em reconhecer que vive uma situação de violência, a dependência financeira e emocional, a criação dos filhos e a ausência de rede de apoio.
Já os profissionais que atuam na linha de frente da rede de proteção lidam com obstáculos como a necessidade constante de capacitação e a falta de equipamentos especializados para atendimento de casos graves.
Efeitos da campanha – O Agosto Lilás, segundo Keila, também impacta diretamente a procura por ajuda. “Analisando nossos dados dos anos anteriores, verificamos que durante o mês de agosto houve sim mais procura pelo Núcleo Maria da Penha. A campanha tem repercutido efeito quanto à conscientização, identificação e denúncias realizadas pelas mulheres.”
Para a coordenadora, é preciso que as políticas públicas avancem para garantir proteção de forma ampla e humanizada. “Devem avançar no atendimento das mulheres em situação de violência doméstica e familiar respeitando todas as diversidades e especificidades de cada mulher e de cada caso, com olhar humanizado, na busca de compreender a totalidade da situação, visando a resolução. Ainda temos muito a avançar.”