Renato Benvindo Frata
São gêmeos nascidos antes mesmo de os homens aprenderem falar, e já eram advérbios sem que ninguém soubesse, conhecidos pela expressão do rosto e balançares. O Sim, pelo estampar de um sorriso e movimento da cabeça para frente e para trás; e o Não, por uma carranca seguida também de movimentos de cabeça, mas para os lados. O fato é que ninguém sorri dizendo ‘Não’, como também não se mostra mal-humorado dizendo ‘Sim’. (Só os sádicos e doidos, mas isso é assunto para outra crônica). E o antagonismo não para por aí: se fossem violeiros nunca fariam dupla, ambos têm a primeira voz. Sim sim, Não não! Impositivos.
Vivem em nós para expressar nossas vontades, sensações e emoções. Poderia falar até no Talvez, um outro irmão, mas se perde em demorada decisão, não sabe se vai ou fica, então melhor será deixá-lo também para outra oportunidade, lembrando que o Talvez tanto pode virar Sim, como Não. E só quem pediu para a mãe para ir ao circo, sabe a resposta: seu Talvez representará uma permuta. “Faça tal coisa que TALVEZ eu deixe você fazer o que pede…”
Passaram, assim, Sim e Não, a se integrarem em todos os níveis sociais, e somente quando o homem conseguiu se expressar com palavras é que ganharam os nomes que têm, e seguem, dessa maneira, a nos ajudar nas concordâncias e negativas. São tão importantes que não os dissociamos em momento algum das decisões. Claro que pela evolução da fala e do dicionário, o Sim ganhou nomes como abono, aceitação, acessão, acordo e uma infinidade de outros sinônimos, e o Não, por sua vez, os de censura, condenação, desabono, desacordo, desagrado, e outra infinidade na proporção do Sim.
O fato é que quando a decisão é tomada se forma um juízo de valor que poderá produzir imediatamente, um sentimento de alegria ou de desprazer. Ou até um certo langor pela concordância ou negativa. E há, nesse diapasão e em certos casos, por exemplo, aquele que diz Sim querendo dizer Não, ou diz Não quando deveria dizer Sim, como na colocação de limites a certos atos de alguém muito próximo.
Culturalmente o Sim representa o elogio, o reconhecimento, o mérito e quando bem dito tem o mesmo valor de um Não bem aplicado, – que significa a imposição da vontade de um sobre o outro. E as relações humanas pedem um equilíbrio entre ambos, mesmo porque se exagerarmos no Sim, criaremos problemas de insegurança para o interlocutor e para nós mesmos e, por outro lado, uma educação sem o Não gerará adultos problemáticos – que temos aos montes, infelizmente.
Como aferir essa balança antagônica? Talvez a resposta esteja na forma estimulante de falar, na atenção precisada e oferecida, no olhar de aprovação diante da incerteza e no abraço aconchegante que vale como cobertor em dia frio, sem esquecer da essência que é a sinceridade que se exige de quem possui o poder movido pela autoridade e confiabilidade, imprescindíveis e recíprocas.
Não existe coisa mais permissiva que pai e mãe que só dizem sim.