DANIELA ARCANJO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Antes de ir às compras do material escolar de sua filha, a nutricionista Elaine Dias fez uma varredura no que tinha em sua casa. Lápis de cor, canetinha, caderno: muitos dos itens estavam quase intactos, uma consequência das aulas remotas pela pandemia do coronavírus.
Yasmin, que acaba de ir para o 2º ano do ensino fundamental, começou a ter aulas de casa no início de 2020 e só voltou ao presencial no meio do ano passado. O que foi subutilizado nesse período foi para a mochila deste ano. “Mesmo assim foi quase 30% a mais do valor que eu gastei no ano passado”, calcula a mãe.
A impressão da nutricionista bate com o levantamento da ABFIAE (Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares). Segundo a entidade, o preço repassado da indústria para o varejo foi 15% a 30% maior em 2022, segundo Sidnei Bergamaschi, presidente da Tilibra e da associação.
Para os fabricantes, o aumento está atrelado aos preços das matérias-primas. Papel, papelão, cola, tinta, plásticos e metal estão bem mais caros –em alguns casos o aumento chega a 100%. “Embalagem, com a pandemia, aumentou uma enormidade”, afirma Bergamaschi. Na conta entra também a energia: a seca fez os reservatórios de hidrelétricas minguarem e as usinas termelétricas, mais custosas, entrarem em operação.
Já os importadores sentem a alta do dólar, que fechou 2021 cotado a R$ 5,57, e o caos logístico global provocado pela crise sanitária. “Antes da pandemia, a importação de contêiner custava US$ 2.000. Agora está na faixa dos US$ 11 mil”, diz Bergamaschi.
O empresário diz que não é possível comparar 2022 com o ano passado, quando a volta às aulas foi praticamente inexistente para a indústria. Mas mesmo em relação a outros anos, o aumento é significativo: o reajuste costumava ficar entre 7% e 12%.
Para este ano, a indústria está otimista, mas não alimenta esperanças de chegar ao nível pré-pandemia. “Provavelmente isso vai acontecer somente em 2023, se tudo correr bem”, afirma Bergamaschi.
Uma pesquisa do Procon-SP realizada no início de dezembro mostra que cotar preços em diferentes estabelecimentos faz diferença. A fundação comparou os valores de 79 itens comuns em listas de materiais em oito sites diferentes.
A maior diferença de preço passou de 380%. Foi uma caixa de massa de modelar que estava R$ 2,70 em uma loja, enquanto outra a ofertava por R$ 12,99.
“O consumidor tem que ficar muito atento, porque as diferenças existem, sim”, diz a supervisora de pesquisas da entidade, Cristina Martinussi. “É importante que ele verifique sempre o preço médio, para ter uma noção.”
Antes de sair às compras, ela sugere ligar em alguns locais para cotar os preços. Uma vez na loja, com uma noção dos valores médios do mercado, é possível negociar e pedir descontos. Alguns métodos de pagamento também permitem preços mais baixos em alguns estabelecimentos.
A supervisora lembra que a lista de materiais deve se ater ao que o aluno vai usar durante o ano. Materiais de uso coletivo, como itens de limpeza, não devem ser solicitados aos pais. “A resma de sulfite, por exemplo, deve ser para o próprio aluno. Se for para usar na secretaria, não pode”, afirma.
Em outros anos, Elaine Dias fez uso da compra coletiva. Muitas lojas dão desconto em vendas de grande volume, por isso ela se juntava com outros pais para ter descontos. Este ano, aproveitou as férias e foi sozinha: pesquisou em alguns lugares e já está com os materiais em casa.
O preço do uniforme, que segundo o IBGE teve aumento de 9,57% em 2021, também foi abatido pela nutricionista. Ela aproveitou roupas de um sobrinho, que estudou na mesma escola em que a filha está, e participou de um grupo de desapego com outros pais e mães. “Eu tenho que fazer as minhas corridas para economizar”, diz ela.
Em 2021, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o principal para medir a inflação) estourou com folga a meta perseguida pelo Banco Central e terminou o ano em 10,06% no acumulado dos 12 meses.
O aumento –o maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%)– foi puxado especialmente pelos transportes, grupo que sofreu com a disparada do preço dos combustíveis.
O indicador mostra que itens de papelaria, comuns entre os solicitados nas listas de materiais escolares, acumularam alta de 8,74% no período.
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