Longe da culpa e da pressa, desacelerar no fim de semana é um gesto de autocuidado que ajuda a recuperar energia, foco e equilíbrio emocional
Cibele Chacon
Da Redação
O domingo deveria ser o dia de respiro. Um momento de silêncio entre o corre da semana que termina e o novo ciclo que se anuncia. Mesmo assim, muitas pessoas sentem culpa ao parar, como se o simples ato de descansar fosse uma quebra de dever. Essa sensação, cada vez mais comum, é reflexo de uma sociedade que aprendeu a valorizar o fazer mais do que o ser.
Para o psicólogo Rodrigo Taddeu da Silva, especialista em Saúde Mental no Contexto Multidisciplinar, a origem desse comportamento não pode ser analisada isoladamente. “Primeiramente, não há como analisar nenhum comportamento sem considerarmos o contexto em que ele acontece. Então, sob o sistema capitalista em que vivemos, aspectos como a produção de bens em larga escala, a acumulação de recursos — seja por meio do trabalho, da herança ou por outros meios — foi historicamente valorizada”, explica.

Ele acrescenta que, dentro dessa lógica, há também uma relação direta entre o valor social do trabalho e o medo da falta de recursos. “Pessoas com déficit de recursos são expostas a maiores riscos à sobrevivência. Esses fatores, somados ao que chamamos de comportamento de grupo ou manada, direcionado ao trabalho, podem favorecer um sentimento de culpa no descanso”, observa Rodrigo.
A consequência desse ciclo é clara: quanto mais a produtividade é exaltada, mais o descanso parece um luxo. Mas o corpo e a mente cobram o preço. Segundo o psicólogo, existem evidências científicas robustas sobre a importância de repousar. “Há estudos que comprovam a importância do sono para a manutenção da memória e das capacidades psicomotoras. Além disso, a diversidade de interações com o ambiente ao nosso redor — especialmente no lazer — auxilia na regulação do estresse, na liberação de hormônios relacionados à satisfação do organismo e na manutenção da vida.”
Autoconhecimento – Silva destaca que o autoconhecimento é essencial para evitar o esgotamento. “O autoconhecimento é fundamental, saber sobre as capacidades e os limites do próprio corpo nos possibilita identificar pontos de risco. Ainda, é preciso observar a frequência, intensidade e contexto em que ocorrem os sinais de exaustão. Logo, quando o cansaço ou outros comportamentos privados, aqueles que somente o próprio indivíduo sente, passam a afetar atividades de rotina, é sinal de esgotamento emocional”, alerta.
Entre os sinais que pedem atenção, o psicólogo cita manifestações físicas e emocionais perceptíveis. “Observar a reação do corpo após as interações com o ambiente ao longo do tempo, como o trabalho. Há sinais que são mais perceptíveis, como tremores nas pálpebras, alterações de humor, sono e apetite, por exemplo”, aponta.
Por isso, incluir pausas e momentos de lazer na rotina é uma forma prática de prevenção. “Incluir pausas e atividades de lazer, quando possível, podem evitar agravos à saúde”, reforça.
Em tempos em que o tempo parece sempre insuficiente, lembrar que descansar também é um ato produtivo talvez seja o primeiro passo para viver com mais leveza. O domingo, então, deixa de ser um intervalo e volta a ser o que sempre deveria: um dia para respirar.































