Feriado chega ao segundo ano em todo território nacional reforçando representatividade, enfrentamento ao racismo e valorização da cultura negra, segundo lideranças da Anpir
Cibele Chacon
O Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), marca um momento de afirmação histórica e reflexão profunda. Pelo segundo ano consecutivo, é vivenciado em todo o Brasil o feriado que simboliza décadas de luta pelo reconhecimento da população negra e pela promoção da igualdade racial. A data integra a programação da 29ª Semana Negritude, promovida pela Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial de Paranavaí (Anpir), responsável por ações que buscam valorizar a cultura africana e afro-brasileira e fortalecer a identidade negra na região.
Para Celso José dos Santos, presidente da Anpir, o feriado representa uma conquista coletiva e histórica. “A conquista do feriado no dia 20 de novembro é um reconhecimento histórico da luta do povo negro por liberdade e dignidade humana”, afirma. Ele lembra que, em Paranavaí, o processo foi longo: “Aqui foram anos de lutas. Tivemos duas leis aprovadas, uma que instituiu o 20 de novembro como Dia Municipal da Consciência Negra, mas não estabeleceu feriado, e outra que incluiu a Semana da Consciência Negra no calendário oficial do município. Mas, com a institucionalização do feriado, a Semana Negritude atinge novos patamares.”
Celso destaca que o feriado amplia a participação popular e fortalece debates urgentes. “O feriado gera a discussão sobre a existência do racismo e, por si, o debate leva à necessidade de uma reflexão”, afirma. Ao mesmo tempo, reconhece que o país ainda enfrenta resistências profundas. “Nossa história escravocrata de mais de 300 anos e um racismo institucionalizado nestes 137 anos de uma abolição inacabada deixam marcas. Mas o feriado gera ações institucionais e reflexões familiares sobre a necessidade de combater o racismo em todas as suas manifestações.”
Entre as prioridades da luta antirracista, o presidente da Anpir aponta uma como essencial: representatividade política. “Se eu tivesse que escolher apenas uma, diria que é a necessidade de ampliar a representatividade política”, diz. Ele argumenta que, ocupando os espaços de poder, a população negra pode impulsionar políticas públicas que atendam outras demandas igualmente urgentes. Embora reconheça alguns avanços, Celso reforça que “ainda estamos longe de termos a representatividade proporcional ao percentual de população negra da nossa cidade”.
A participação da sociedade civil também foi lembrada como motor histórico das mudanças. “Desde sempre tem sido a sociedade civil, em particular as diversas manifestações do Movimento Negro, que têm impulsionado as ações institucionais”, afirma. Para ele, apesar dos desafios, há avanços: “Minha percepção é que tem aumentado a atuação da sociedade civil nas ações de promoção da igualdade racial. Hoje não é mais possível admitir que não existe racismo, que isso é mimimi de ativistas.”
Importância simbólica – O professor de história e sociologia Daniel Marques de Freitas, secretário de Educação da Anpir, reforça a importância simbólica e política da data. Ele lembra que a luta pelo reconhecimento do 20 de novembro começou muito antes do feriado existir. “Desde 1971, o movimento negro reivindica o dia 20 de novembro como uma data importante na luta contra o racismo e na resistência do povo negro no Brasil”, explica. Em Paranavaí, segundo ele, foram vários anos tentando instituir o feriado, inspirado por outras cidades do Paraná e do país. “A data evidencia a importância da nossa cultura e de todas as contribuições históricas da população negra para a construção da cidade.”

Para Freitas, o feriado também amplia espaços de reflexão e mobilização: “Nessa data, podemos celebrar nossa história e ancestralidade, além de convidar a população a celebrar conosco nossa cultura e nosso trabalho.” Ele destaca que, apesar da concentração simbólica no dia 20, a luta é cotidiana: “O dia 20 concentra lutas diárias, celebrações e manifestações culturais. Ele representa tudo isso: a nossa história de resistência.”
Quando questionado sobre a maior urgência da negritude em Paranavaí, o professor é direto: o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial continuam sendo prioridade. “Vivemos na região mais negra do Paraná, mas nossa história permanece escondida. É urgente mudar essa perspectiva e promover o resgate da nossa história”, defende. Ele afirma que a Anpir tem assumido essa missão ao longo de seus 21 anos de atuação.
Embora reconheça avanços na representatividade negra em algumas lideranças locais — como no Legislativo, na Educação e na advocacia — Freitas frisa que ainda falta ocupar espaços estratégicos. “Precisamos avançar e ocupar mais espaços: diretorias de empresas, gerências de bancos, diretorias de hospitais”, afirma.
A participação da sociedade civil ainda é considerada insuficiente. “A participação ainda é fraca; precisamos avançar muito”, avalia Daniel. Ele menciona resistências ao feriado e às políticas educacionais que tratam da cultura negra e indígena, embora reconheça que iniciativas como rodas de samba, cursos e ações culturais têm ampliado o diálogo.
Para transformar a consciência negra em compromisso permanente, o professor reforça que é preciso ação contínua. Ele cita Angela Davis: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.” Segundo ele, a sociedade precisa assumir compromissos concretos, como participar de formações, denunciar casos de racismo, pressionar o poder público e se integrar às discussões do futuro Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e Combate ao Racismo. “O mais importante é compreender o que é racismo — estrutural, institucional e recreativo — para evitá-lo e combatê-lo”, conclui.
Programação – A programação da 29ª Semana Negritude segue nesta quinta-feira (20) ao longo do dia. “Tem show, tem desfile da beleza negra, infantil e adulto, roda de samba, varal ‘literáfro’ com apresentação de atividade”, cita Santos. A semana se encerra com o Kizombar de Aniversário da Anpir, programado para o sábado (22), e o Festival Resistência é Arte, no domingo (23).
A 29ª Semana Negritude é realizada em parceria com o Sesc Paranavaí, a Fundação Cultural, a Câmara Municipal de Paranavaí, a Unespar, a APP-Sindicato Paranavaí e tem o apoio da Itaipu Binacional.






























