DA FOLHAPRESS
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, ligou a possibilidade de a Copa do Mundo ser realizada a cada dois anos à diminuição do problema dos refugiados da África. Em discurso ao Conselho da Europa, o dirigente disse que a reforma no calendário do futebol pode ter um efeito humanitário positivo.
“Precisamos encontrar maneiras de incluir o mundo todo e dar esperança aos africanos para que eles não tenham que cruzar o Mediterrâneo para encontrar uma vida melhor, mas, mais provavelmente, morrer no mar. Precisamos dar oportunidades, dar dignidade”, afirmou, dirigindo-se a líderes do conselho em Estrasburgo.
De acordo com Infantino, a questão “não é sobre querer ou não a Copa do Mundo a cada dois anos”, mas sobre o que o esporte mais popular pode oferecer. “O futebol é sobre oportunidade, sobre esperança, sobre as seleções nacionais. Não podemos dizer ao resto do mundo: ‘Dê-nos o seu dinheiro, mas nos veja na TV’. Precisamos incluí-los.”
O cartola suíço está empenhado na ideia de reduzir o intervalo entre as edições do Mundial, tradicionalmente de quatro anos. De acordo com ele, a alteração geraria uma receita extra de US$ 4,4 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões), dinheiro que seria usado para diminuir a distância entre os mercados mais e menos desenvolvidos do esporte.
A ideia vem sendo bastante criticada, especialmente pelas principais confederações continentais. A Uefa, que rege o futebol europeu, e a Conmebol, que organiza a modalidade na América do Sul, já se posicionaram contra. Infantino agora busca apoio nas federações nacionais.
Na estimativa da Fifa, 166 das 210 associações que integram a entidade estão de acordo com o plano. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, teve encontro com o presidente da Fifa no Qatar, em novembro, e aprovou a sugestão: “É bem-vinda, ajuda no aspecto econômico”.
Durante seu discurso no Conselho Europeu nesta quarta-feira (26), Infantino chegou a recuar e admitir que “talvez a Copa do Mundo a cada dois anos talvez não seja a solução” para a crise de refugiados. De qualquer maneira, a repercussão de suas frases foi rápida e bem negativa para o dirigente.
“Meus colegas entrevistam refugiados ao redor do mundo praticamente todo dia. Nós escrevemos relatórios sobre as razões -os abusos, as dificuldades- que os forçaram a deixar seus lares”, escreveu Andrew Stroehlein, diretor da ONG de direitos humanos Human Rights Watch. “Eles nunca mencionam a agenda da Copa do Mundo.”
De acordo com a Organização Internacional para a Migração, órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 1.315 pessoas morreram no mar Mediterrâneo no ano passado em tentativa de fugir dos conflitos e da pobreza com que conviviam em regiões da África e do Oriente Médio.