REINALDO SILVA
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A cantora Linn da Quebrada tem o pronome “ela” tatuado na testa. Mulher transexual, a participante do BBB22 tem sido alvo de discursos preconceituosos que não reconhecem sua identidade de gênero, apesar da indicação visível no rosto e das incontáveis manifestações sobre o tratamento no feminino.
Os ataques presenciais e virtuais que artista sofre refletem a realidade de pessoas transexuais e travestis de todo o Brasil, país com maior índice de mortes entre essa população. Um levantamento feito pelo projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide, da ONG Transgender Europe, mostrou que de outubro de 2020 a setembro de 2021, foram pelo menos 125 assassinatos. O número representa 33% do total mundial, conforme divulgou no final do ano passado o jornal Correio Braziliense.
As situações constantes de violência física ou de qualquer outra natureza a pessoas LGBTQIA+ e outras minorias sociais levaram a Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) a promover uma série de audiências com representantes de entidades de todas as regiões. Nesta semana, Rose Macfergus, integrante do Coletivo LGBTI+ de Paranavaí e do grupo Resistrans de Maringá, participou de um dos encontros.
Na ocasião, afirmou que entre as dificuldades que transexuais e travestis enfrentam está a atenção à saúde, em especial, o atendimento para pessoas que necessitam do tratamento hormonal e da cirurgia de transgenitalização.
Atualmente, é preciso ir até o Centro de Pesquisas e Atendimento para Travestis e Transexuais (CPATT), em Curitiba, mas a população trans tem dificuldades para acessar os serviços. Quando o ingresso ocorre, o tempo de espera para iniciar os protocolos pode levar anos, conforme relataram pessoas atendidas pelo Coletivo LGBTI+ de Paranavaí.
Outra reivindicação apresentada pelo grupo paranavaiense à Defensoria Pública do Estado foi um ambiente adequado para atender quem busca tratamento hormonal e cirurgia. É que o CPATT agora funciona no Hospital de Infectologia e Retaguarda Clínica Oswaldo Cruz, reduzindo o espaço destinado à população trans. Ao mesmo tempo, a equipe multidisciplinar é compartilhada com outras demandas.
O debate se torna ainda mais importante neste mês, já que 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans e marca a história do movimento contra a transfobia e a luta por direitos.
As audiências públicas estão sendo organizadas pela Defensoria Pública do Estado do Paraná e pela Ouvidoria-Geral Externa. O objetivo é ouvir a população paranaense e analisar as principais questões apresentadas por movimentos sociais locais. A partir desse contato, será possível construir um plano de ação.
Os encontros tiveram início na última quarta-feira (26) e seguirão até 16 de março, de forma mista, presencial e virtual, sempre das 9h30 às 13h.
Além das necessidades da população LGBTQIA+, a primeira audiência pública foi oportunidade para falar sobre violência contra mulheres, infância e juventude, pessoas privadas de liberdade e em situação de rua, comunidades tradicionais e povos originários.